AGENDA CULTURAL

23.8.06

Página virada (ver foto abaixo)

Hélio Consolaro

No sábado, estive em Sampa, como escrevi ontem. Na programação da tarde: “Faz do Choro Alegria”, no bairro da Luz, quando vi o prédio antigo do Deops (Departamento Estadual de Ordem Pública e Social), onde fiquei detido durante a ditadura militar.

Meus passos me levaram para a Estação da Pinacoteca, como se chama o prédio restaurado, que tem hoje objetivos culturais. Ocorria no local um seminário: “Arquivos da Repressão e da Resistência”.

Nunca curti esse negócio de dar uma de vítima. Aconteceu, sobrevivi, amadureci com o episódio. Nem me interesso por livros históricos da época da repressão. Página virada.

Vi nos corredores da Estação Pinacoteca painéis. E percebi que havia um setor chamado “Museu da Liberdade”, onde paradoxalmente havia seis celas preservadas e restauradas, mostrando às novas gerações como os presos políticos passavam por lá.

Sim, talvez numa delas estive preso. Eram iguaiszinhas àquelas. Chamei Menininha. Curtimos aquele momento em silêncio. Eu ouvia ao longe o bater da tranca de ferro, quando algum companheiro era chamado para interrogatórios. O abrir da janelinha da porta para receber as refeições.

Quem passou por essa experiência nunca vai abrir a boca para pedir pena de morte e nem sair por aí dizendo, bestamente, que presídio é hotel de cinco estrelas.

No prospecto do seminário, uma foto me chamou a atenção, reproduzida nesta coluna, que retrata a procissão que transportara o corpo do operário Santo Dias: “Companheiro, você será vingado” e “Libertem nossos presos”.

Se o PCC e familiares de presos fizessem uma passeata com as mesmas faixas, a foto ficaria muito atual.

Será que perante Deus, diante do cosmos, faz diferença ser preso político ou preso comum? Deixo a pergunta no ar.

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