AGENDA CULTURAL

1.10.06

Votar e voltar

Hélio Consolaro

Hoje, caro leitor, é um dia especial. Cada cidadão, arrastando sua verdade pelas ruas, vai levá-la até a urna, transformá-la num número. Nem que a sua opção seja ir pescar. Depois, essa verdade será contabilizada. E dirão que a vontade do povo prevaleceu.

Dizia-se que o povo fazia da urna vaso sanitário, mas nem isso se pode mais fazer, porque ela se tornou eletrônica. Como é se parece com caixa eletrônico, o eleitor pode ser assaltado.

Os ideólogos abominam o voto frankenstein, gostariam que se votasse apenas em legendas e o sistema fosse o parlamentarismo; mas os brasileiros gostam de escolher pessoas, não delegam ao partido a escolha dos nomes. E adora o presidencialismo.

Mas no sistema atual o eleitor pensa que escolhe. Ele é “alguém que goza do sagrado privilégio de votar numa pessoa escolhida por outrem”, pelas convenções partidárias. Ninguém faz a sua própria vontade, mas sempre está fazendo a vontade alheia. Cada um é o outro.

Há gente que se diz apartidária, mas toma partido do despotismo esclarecido, gosta da ditadura dos mais sabidos, quer impor o que acha certo por decreto, por isso tacha os brasileiros de povinho... Outros, como um presidente general, preferem o cheiro de cavalo.

Os sabidos acham que apenas os livros e as ciências merecem crédito, desprezam o conhecimento popular. As coisas da Fé são crendices, superstições, por isso de eleição em eleição batem com a bunda no chão. E gritam bravamente:

- O brasileiro não sabe votar!

- Brasileiro é um povo burro!

Vota bem quem consagra seus candidatos; vota mal quem o contraria. Como se a verdade morasse de um lado só.

Outros irão até a urna arrastando a esperança de mordomia, por isso trabalham como doidos ou vão pagar favores prestados. Não conhecem a política, sabem fazer a politicalha, assim aprenderam na prática, mas dizem que Rui Barbosa foi um chato, um homem que não soube perder eleição.

Ando tão cético que acredito mais na mentira, porque as verdades criam inimigos, provocam guerras, enquanto a gentileza, o obséquio e a hipocrisia fazem amigos (ou bajuladores). Também já não sei distinguir um do outro.

Os homens que mais lutaram por suas verdades prejudicaram a humanidade. Quem foi Hitler, Franco, Stalin, Mussolini, Getúlio Vargas, Perón, Salazar. Políticos essencialmente ideológicos mataram por princípios.

O poeta Paul Valéry escreveu: “Toda política baseia-se na indiferença da maioria dos interessados, sem a qual não há política possível”. Então, caro leitor, pode ir pescar, você estava previsto. A maioria vota e volta.




3 comentários:

Marco Aurélio disse...

Eleição no Brasil é sempre assim: um festival de baixarias. Muitos pensam assim: Mudam os candidatos e os partidos, mas a história é sempre a mesma.É justamente a descrença em mudanças que faz com que o eleitor se sinta, cada vez mais, acuado e desencantado com a política. O pessimismo prevalece. É difícil enxergar uma luz no final do túnel, MAS NEM TODO MUNDO É ASSIM! Ainda como alguns, acredito que a educação pode ajudar a salvar esse país!

Um abraço

Marco Aurélio

Anônimo disse...

Muito bem. Você traduziu o que realmente significa o voto ou a ação de votar. A verdade e a mentira...não sabemos mais, ou nunca soubemos, mas pensávamos que sabia. Somos os quatro cegos diante do elefante. A cada um coube conhecer uma parte do animal, que para cada um significava uma coisa...Afinal, como ou quem é o elefante? Abraços.

Anônimo disse...

Ex-amigo,
Estou muito chateada com você, fui eu que fiz O PRIMEIRO COMENTÁRIO NO SEU BLOG,ME SENTIDO SUA LEITORA Nº 1, mas...parece que foi deletado. Não entendi.
Sou sua colega de labuta, ia revelar meu nome (pois não me identifiquei quando o fiz), mas já que fui deletada, que importa não é! Pensei que respeitava a todos os seus leitores, mas tem os privilegiados. Não serei mais nem anônima.