AGENDA CULTURAL

3.12.09

Ninguém podia ficar sem aprender

Maria Yone Mitidiero


Biografia

Maria Yone Mitidiero, 24/2/1941, em Araçatuba, filha de Luís Mitidiero Jr. e Olga Carli Mitidiero. Estudou na EE Cristiano Olsen e antigo I.E. Fez também o curso de Química Industrial, nível médio. Formou-se professora de Matemática pela Faculdade de Penápolis-SP, em 1971. Começou seu magistério na EE Clóvis de Arruda Campos e se aposentou na EE Prof. Genésio de Assis, em 1995. Ainda mora em Araçatuba. Ao se aposentar, demorou para se desligar da escola, ambiente que adora. Curte encontrar ex-alunos e colegas de seu tempo de magistério pelas ruas cidades para um bate-papo.

Você conhece, caro leitor, uma pessoa que faz tudo bem feito nos mínimos detalhes? Sempre tem olhos para o microcosmo e por isso não enxerga bem o macro? Míope de coração. Gente que se preocupa tanto com os outros e se esquece de si mesma? Se não existir alguém assim na sua família, pode ser você tal pessoa. Não se preocupe, não há nada pejorativo nisso, pois tais criaturas são excelentes, jardineiros fiéis.
Maria Yone queria que a escola estivesse sempre bem cuidada. Se aparecesse um diretor relapso pela EE Genésio de Assis, pegava no pé dele (ou dela), pois era efetiva e tinha suas prerrogativas. As serventes que deixassem as salas de aula sujas recebiam reclamações dela. Com todas essas “implicâncias”, era uma professora querida e respeitada, porque não havia maldade em sua ação. Yone era uma pessoa participativa, vivia sua escola, extrapolava a sala de aula.
Por fim, Yone ficou solteira. E quem fica nessa situação herda a velhice dos pais, assim cuidou da mãe, que curtiu uma longa viuvez, até que Olga completasse 88 anos, falecendo em 2004. Fez isso sem resmungar. Hoje, mora sozinha na antiga casa paterna com seus animais de estimação. Seria rabugenta? Não. Com certeza curte a sua individualidade, gosta daquele espaço, onde se localiza emocionalmente.
Lecionei com a Yone na mesma escola por longos anos, na EE Prof. Genésio de Assis. O verbo está no passado, caro leitor, mas ela está vivinha, aposentada. Ela não se limitava a semear, cuidava de cada semente. Ia além da parábola bíblica. Explicava para todos, depois ia de carteira em carteira dos alinos fazer o atendimento individual.
Sabia que às vezes o aluno não conseguia entender sua linguagem, então, em cada classe havia uma equipe de alunos monitor. Para Maria Yone Mitidiero, não podia ficar um sem aprender, parecia querer abrir o crânio do aluno para jogar a Matemática lá dentro.
Ao deixar o magistério, voltava à EE Prof. Genésio de Assis com frequência (e faz isso até hoje, menos amiúde), pois curte o ambiente escolar, a alegria da juventude dos alunos, o companheirismo da sala de professores. Até hoje se emociona quando encontra um ex-aluno que a chama para conversar, fazendo-lhe mil elogios. Para ela, não há presente melhor.
Num certo ano, na véspera de Natal, ela encontrou um ex-aluno que não mora mais em Araçatuba em visita à cidade. O relacionamento deles não terminou bem, brigaram, quase chegaram à agressão física em sala de aula. Nesse reencontro, ele lhe pediu perdão, dizendo que agora entendia o empenho da professora em ensinar.
Yone chegou em casa, chorou. Disse à mãe que seu Natal havia ocorrido naquela declaração. Ela renasce a cada dia.
Há gente que cuida de edifícios, administra empresas, cidades. Yone gosta de organizar bibelôs. Faz bem as pequenas coisas e muda o mundo por meio delas.

4 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Nossa, até dá vontade de ter sido aluna dela.
Hoje com as pessoas acelerando a vida,
é bom reconhecer quem sabe trabalhar com dedicação e persistencia.

Anônimo disse...

Mate. Este blog es increíble. ¿Cómo puedo hacer que se vea así de bien?

Anônimo disse...

obrigado amigo! ótimo post!

Unknown disse...

Foi um imenso prazer fazer esta leitura. Parece que o mundo está perdendo preciosidades como estas. A professora, alvo de tamanho reconhecimento ....e a candura, amor e respeito de quem escreveu tais palavras. Paolo, da Márcia, sua prima.