AGENDA CULTURAL

2.9.10

Araçatuba

Segunda estação de Araçatuba
Cacilda Amaral Melo*

Café com pão
Café com pão
Café com pão.
Virge Maria que foi isso maquinista!

É o trem de ferro da Noroeste do Brasil, em sua firme decisão de rasgar as matas deste país, levando em seu bojo, a mais valia do progresso.
Sobe morro, desce morro e arfando de cansaço, afirma:
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente

Por conta do cansaço e da precisão de muita força, fincou estacas em uma pequenina e breve parada e lá deixou um vagão com escassa gente.

Após o breve respiro, pujante, seguiu seu rumo em direção a Mato grosso, assim denominado por ter um mato espesso, grosso mesmo e por seu amplo território foi, mais tarde, dividido em dois: o do Norte e o do Sul.

Na leveza de uma missão cumprida, o carregador de esperanças voa, fumaça, corre, cerca e seu foguista bota fogo na fornalha, pois ele precisa de muita força, muita força, muita força!

O vagão aqui deixado, cansado de sua modesta serventia , se transofrma em estação de trem e por conta disto,pousadas e armazéns foram construidos, para fatigantes bandeirantes, errantes navegantes, que com seu jeito de bandeirantar por este país imenso, chegaram até esta região, na procura da conquista do ouro verde: o café.

Trataram de lhe dar nome e sobrenome:araçá ( frutinha, prima irmã da goiaba) encontrada aqui em grande quantidade,e "tuba" , o "bastante" em língua indígena, justa homenagem aos índios aqui habitantes, que , pouco a pouco, pegam seus arcos e flechas e vão embora, tristes, tristes, magoados por conta de tanta invasão de uma civilização que os ignora.

Depois do café, aqui se espalha a boiada. No cuidado de zelosos boiadeiros, tropeiros, cria força, cria fama e esta cidade passa a ser chamada "a capital do boi gordo".
Mas, o desmedido progresso trouxe em seu bojo, o novo, o mais fazer: a plantação de cana de açúcar.
Por conta de nosso meio ambiente tão alterado, despaisado, tal produto volta sua face à produção do etanol e nossa cidade se transforma em novo polo do setor sucro alcoleiro.

Reminiscente de um passado que teima em fazer morada em minha mente, ainda me lembro da pequenita fazenda de meu pai, provida de café, algodão, engenho de cana de açúcar, pomar, horta, todos , todos, ali plantadinhos.

Lida difícil para sua família, que ao nascer dosol, já se punha de pé, para a faina do mais colher, do mais trabalhar.

Fui me embora para São paulo ainda pequena, mas não me esqueço desta cidade, do verde vermelho do café, do escuro grão, pronto a ser torrado, do branco, branco do algodão, do cheiro gostoso advindo do engenho de onde saiam aguardente e rapaduras, do cavalo branco que me levava a galopar, rumo a lugares encantados de minha imaginação.
Por isso, volto sempre que posso , para cá, pois alguns parentes de minha família, fincaram raízes nesta terra, guardiões da memória dos Amarais.

Cacilda Amaral Melo
cacilda09@uol.com.br
Area de atuação atual: freelancer de agencia operaadora de turismo - Professora aposentada
Grau de escolaridade: Professora de Letras - mestre em Ciência da Comunicação
Data: 30 de agosto de 2010

Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

Terra Vermelha,
Finquei meus pés.
Céu Azul,
Crio minhas raízes.