AGENDA CULTURAL

29.9.10

Diário de viagem

Baronesa Maria Rosa e barão Aurélio Rosalino
Conservatória, pousada Chácara Imperial
Hélio Consolaro*

Não sei se o caro leitor já participou de excursão, viajando de ônibus. É uma experiência fantástica. A organização é feita sempre por um pequeno grupo que sai à procura de adesões. No caso, Amigos da Seresta, sob a direção da guia Sheila e a empresa Renato Turismo.

De repente, há um magote de gente entrando num ônibus. Alguns são só conhecidos; outros, nem assim, totalmente estranhos. Na volta, fim da viagem, já virou uma família.

Lógico, cara chato, pernóstico, cheio de manias não vai topar essa parada. Nem as peruas. Excursão desse tipo é pra gente que já virou pipoca, descobriu que a vida não deve ser levada tão a sério.

Eu e a Japa já passamos 21 dias num ônibus, visitando o Nordeste. Ônibus leito, claro. Uma noite na estrada, viajando, e outra no hotel, para não cansar muito. Conhecer mesmo os lugares, estradas, tem que ser por terra. Por avião, conhecemos apenas aeroportos, ficamos vendo o mundo por cima, como se fôssemos os tais.

A última viagem que fiz assim foi recentemente, para Conservatória-RJ. Saímos na quinta-feira à noite e voltamos na segunda-feira de madruga. Do ônibus para o trampo, coisa de brasileiro teimoso. E como grande parte cantava e tocava, a viagem passou rapidamente.

O Aurélio Rosalino, por exemplo, saiu de Araçatuba um plebeu e voltou barão. Com aquela panca majestática, ganhou logo o apelido dado por Marcelo na visita à Fazenda da Taquara, na Barra do Piraí.

- Cuidado, barão. O senhor pode cair...

Beltrão da Silva Santos encontrou o seu irmão em Conservatória, o Fulanão. Baiano de Caculé, nosso grande músico, com a esposa Maria Lúcia, não parava de cantar. Nem era preciso dizer, caro leitor, que predominava gente da terceira idade no ônibus. Afinal, jovem não gosta muito de seresta.

A Regina Rocha puxava. O professor Pedro Campezi usou indevidamente o banheiro do museu de Nélson Gonçalves, quase apanhou de seu administrador. A escritora Marilurdes Campezi, pequenina, fazia de dois bancos vazios um berço. O Carlão tinha a mania do atraso, era sempre o último a subir no ônibus nas paradas, foi logo apelidado de Atrasildo.

Paulo Graça, ao lado de sua esposa, não deixava seu bandolim sossegado. Chegando a Conservatória, foi o primeiro a se enturmar numa roda de seresteiros na pracinha.

Mas a grande lição veio do casal José Vander e Gracinha.
Quando as pessoas chegavam ao ônibus para partir, pensavam que ela fosse dar a todos grande trabalho. “Como uma cadeirante podia participar de uma excursão?” – certamente alguém pensou.

A esposa era cuidada por ele com esmero, e ela, com tanto amor recebido, distribuía otimismo a todos. Na verdade, Gracinha demonstrava uma agilidade invejável. Eles se casaram assim, possuem três filhos. Provaram-nos que a felicidade nasce das condições espirituais e que o amor faz a vida valer a pena.

Boa viagem, caro leitor, na vida que lhe resta.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

É o caminho,
Caminho de volta para o nosso interior,
Ao que realmente vale a pena.
Relacionar-se com muito amor...
Boa viagem.