AGENDA CULTURAL

24.10.10

Aff! Acabou

Hélio Consolaro*

A campanha eleitoral durou, hein! Pensei que íamos chegar a Finados sem passar por 31 de outubro. Tivemos até uma guerrinha. Longe daquela do Oriente Médio. Ainda bem que entre mortos e feridos, a democracia se salvou. Ver aquele brigueiro na televisão, receber aquelas bobagens por e-mail não constrói muita coisa.

José Simão, cronista da Folha de São Paulo, traduziu bem o clima desse período: parecia guerrinha de criança! Um lado jogava pelota de papel no Rio de Janeiro , o outro respondia com bexigas cheias d'água no Paraná. Aquela guerra de areia que a molecada faz na praia.  

Se os professores da rede estadual de ensino, São Paulo, soubessem que José Serra tinha tanto medo assim de bolas de papel, teriam o aumento salarial desejado na última greve. Já pensou se para cada bolinha de papel na cabeça, os professores tivessem que fazer tomografia? O médico carioca recomendou a José Serra repouso de quatro anos.

Meu lado moralista me dá comichões:
-      Veja só que nossas crianças e jovens estão aprendendo com os adultos? 
Na próxima eleição do grêmio estudantil, lá na escola, haverá denúncias:

 - O candidato a presidente da chapa tal come a Patricinha do 1.º colegial...

- A chapa tal está distribuindo salgadinhos no intervalo para quem votar nela...

Como já estou vacinado com o discurso da ética, que é sempre acionado por quem está na oposição, a exigência de respeito passa ao largo de minhas barbas. Não dá para respeitar quem se proclama  que é imagem e semelhança de Deus.
 
Dizia o filósofo que na política se revela a tragédia humana com toda a sua força, pois é dela que nascem as guerras. Campanha eleitoral parece trote universitário que o eleitorado passa nos políticos.  Acrescento mais: candidatos, cabos eleitorais, militantes viram crianças, pré-adolescentes, com aquele espírito de disputa à flor da pele, parecendo seres tribais.

Fazem toda a bagunça do mundo, chegam ao rés do chão, perdem a compostura. E a missão do vencedor será árdua. Depois da contenda, uma ou outra voz se lembra de plano de governo, da plataforma de ação parlamentar.  Apesar de pinóquios, se transformam em homens e mulheres sérias, todos são doutores,  mesmo que não tenham títulos, protegidos por seguranças, só falam em entrevista coletiva. Aquela formalidade...

Se fosse diferente, tudo certinho, também seria uma chatice... Levar as coisas a sério não vale a pena.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

2 comentários:

Lucimara disse...

"Apesar de pinóquios, se transformam em homens e mulheres sérias, todos são doutores, mesmo que não tenham títulos, protegidos por seguranças, só falam em entrevista coletiva. Aquela formalidade..."

É o fim! rsrs

Muito bom seu blog. Já estou colocando aqui nos favoritos. Crédito para o Zé, que possibilitou essa interaão.
Abraços
Lu
www.textos-r-reflexoes.blogspot.com

Samuel disse...

Belo texto.

Nossa, onde você achou esta foto?! Hehehe...