AGENDA CULTURAL

1.1.11

Sugestão de leitura: O sorriso do lagarto

Acabei de ler o livro O SORRISO DO LAGARTO, do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro. Nunca havia lido nada dele, isso me incomodava. Remexendo minha biblioteca, achei o volume 8 da coleção "Mestres da Literatura Contemporânea".
João Ubado Ribeiro


Depois da leitura de um livro ou de assistir a um filme, procuro resenhas críticas a respeito para completar o meu entendimento da obra e checar minha análise crítica. Com a internet, isso ficou mais fácil. Até assisti no Youtube a trechos da minissérie baseada no livro. Percebi que nela a sequência narrativa foi toda mudada.
No site 
http://e-nigma.com.pt/criticas/sorrisolagarto.html, o escritor brasileiro Octávio Aragão escreveu tudo sobre o livro. Como se diz entre o povo, "ele me tirou da boca" aquilo que eu pensava sobre o livro logo após a leitura. Assim, reproduzo aqui a resenha crítica dele.


O Sorriso do Lagarto

Tanto Octávio Aragão como este blogueiro
leram o livro de mesma edição 

de João Ubaldo Ribeiro

Uma crítica de Octávio Aragão

publicada em 22.11.2001
republicada em 03.07.2003

Acabo de ler o romance de João Ubaldo Ribeiro, O Sorriso do Lagarto, editora Record, 1989.
Trata-se de ficção científica, sim, senhores. Sei que volta e meia encho o saco de todo mundo com aforismos do tipo "Tudo é FC", e outros, mas, no caso, analisando friamente, este livro é, efetivamente, um romance de gênero.
Eu já desconfiava, apesar de não haver assistido à série homônima de TV, produzida pela Rede Globo anos atrás, que - ao se juntar temas tão caros à contemporaneidade como engenharia genética e experimentos biológicos em populações do terceiro mundo - o livro resultante não poderia escapar de ser, ao menos, um tipo de FC com afinidades (e citações explícitas) com oAdmirável Mundo Novo, de Huxley.
Quem me conhece sabe que sou um emérito fã do João Ubaldo, leio semanalmente sua coluna nos jornais e estava doido para ler esse livro. Como se diz aqui no Brasil, fui para o jogo "vendido", disposto a gostar de tudo e saí 50% decepcionado. Por quê?
É bom, o livro? Sim, trata-se de um "page turner". A história é boa? Não para mim. Trata-se de um apanhado de situações-clichê (tem até aquela cena clássica, imortalizada pelo cinemão hollywoodiano e pelas novelas da televisão, da queda da escadaria provocando um aborto providencial) muito bem encadeadas e recheadas de diálogos primorosos. A história, aqui, é um fiapo, uma desculpa para um desfile de opiniões do autor a respeito dos mais diversos assuntos, de racismo a política, de ecologia a drogas, através das bocas de seus personagens.
Por falar em personagens, as construções não me cairam muito bem, apesar da belíssima descrição física e da individualização, mas, vejamos, os protagonistas um biólogo fracassado, transformado em peixeiro; um padre de vilarejo com crises de consciência e uma dondoca de sociedade com personalidade fraturada, espécie de mistura entre Jackeline Susann e alguma socialite da Barra da Tijuca; são um déjá vu só. Os vilões, então, não ficam atrás! O político mau-caráter e homossexual enrustido; o cientista com trejeitos de Lex Luthor... um festival de "dê-já-vi-isto" apesar de, sempre, donos de vozes poderosas e convictas! Há, porém, uma ressalva o pai-de-santo culto e descrente dos próprios poderes é um achado! Bará, o Santinho, com sua fala empolada e "ética profissional" é um coadjuvante excepcionalmente bem construído, daqueles que deixam saudades ao fim da leitura.
O que deveria ser a trama central é uma versão mulata de A Ilha do Dr. Moreau, onde um laboratório, com a supervisão subreptícia de empresas norte-americanas, fazem experiências in-vitro com mulheres da população de uma ilha no litoral do nordeste brasileiro, produzindo híbridos de homens e macacos. Na página 149, o padre fica sabendo da existência dos tais monstros até então nunca citados. Por volta da página 280, os protagonistas saem em ação para combater o que acreditam ser o mal. Na página 362 acaba o romance. O resto conta como quase todos os personagens (à exceção do padre, que meu olho mental insiste em ver na figura do ator Nelson Xavier, do pai-de-santo e mais uns poucos) se relacionam sexualmente uns com os outros. Creio que o leitor tradicional de FC, púdico, vai ficar absolutamente chocado... e isso é um ponto positivo!
Vale a pena ler? Sim, sem dúvida. João Ubaldo Ribeiro escreve muito bem e, por mais que se possa discordar de suas idéias, é impossível largar o livro antes do fim.

Um comentário:

Unknown disse...

Fiquei tentada a lê-lo agora nas férias. Vou procurá-lo na biblioteca da minha escola, quem sabe acho. Da minissérie só me lembro das paisagens; não sei por que a história não me prendeu a atenção na época.
Valeu, Mariluci