AGENDA CULTURAL

23.2.12

Momento poético - audição



Confissão
Carlos Drummond de Andrade

Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde , ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem
e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, múrmurios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro -vinha azul e doido-
que se esfacelou na asa do avião.

COLABORAÇÃO DE JOSÉ HAMILTON COSTA BRITO

4 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

nO FIM DA TERCEIRA ESTROFE, há uma interrogação que o declamador naO faz.
Vou mandar email pra ele procurar o senhor ou amim a a gente dá umas aulas de declamação pra ele.Pode?
Mas o poema é lindãO.

Unknown disse...

Ahhhhhhhhh...

Hélio Consolaro disse...

Explicações para Hamilton Brito:
As obras completas, nem tão completas assim, pois novos poemas foram descobertos após a morte de Drummond, grafa a interrogação. A minha edição é em papel bíblia.
Drummond tem três poemas com o nome CONFISSÃO. Este é o primeiro, tirado do livro CLARO ENIGMA, publicado em 1951.
Abraços
Hélio Consolaro

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Legal.Vivendo e aprendendo