Hélio
Consolaro*
A
história do rei Midas é conhecida e continua atualíssima. Muitas pessoas
pobres, cheias de necessidades físicas, porque nem tempo têm para prestarem
atenção às necessidades psicológicas, sonham em ser Midas. Gostaria de tocar os
cacarecos de sua casa para transformá-los em ouro. Basta ver as filas
quilométricas diante das lotéricas.
Sempre
digo que apenas os pobres acreditam em que o dinheiro traz felicidade, ajuda,
mas não é ele o foco principal. Os ricos já tiveram a experiência da riqueza, por
isso descobriram que a felicidade não está amarradinha com elásticos junto aos maços de dinheiro como
valor agregado.
O
rei Midas que gostava de dinheiro acima de todas as coisas, foi agraciado por
Deus com o privilégio de converter em ouro tudo o que tocasse. De início ficou
encantado, mas, ao se dar conta de que a comida virava metal sólido antes que
pudesse engoli-la, começou a ficar preocupado: ser rico e morrer de fome.
Assim,
nas festas de fim de ano, alguns reis Midas de nossa época promoveram fartos
banquetes como forma de mostrar a todos que é poderoso, estão ricos, possui
muitos amigos. Reúnem em torno de si bocas bajuladoras nos seus ranchos, para
dizer bem deles depois nas colunas sociais.
As
comidas não se transformam em ouro, mas basta um dos reis Midas ter um abalo no
seu poder, suas empresas entram em crise, perde fazendas para que todos o esqueçam,
ninguém se lembra de retribuir os convites anteriores, levando-o para uma
simples ceia. É mais fácil maldizê-lo, dizendo: “Pensava ter o rei na barriga,
deu no que deu, ficou na merda!”
O
rei Midas, na história, viu sua própria filha petrificar-se ao receber um beijo
seu. As amizades se tornaram falsas, nem é possível descobrir quais são
verdadeiras, não pode confiar nem nos filhos. Poucos são os ricos que não
cultivam a arrogância. Aliás, tenho visto gente subir um degrauzinho na vida e
se comportar como déspotas.
Essa
temática parece surrada para um cronista. Ela é crônica dos botecos, das filas
de ônibus, onde se reúnem os pobres, porque nesses lugares, as pessoas
acreditam em que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha
(buraco) do que um rico ir para o céu. E a pobreza não procura arrumar
interpretações teológicas para tal afirmação bíblica, tudo ao pé da letra. Em
suas vidas, a riqueza tem como consequência a soberba.
E
a parábola do rei Midas termina com uma lição de moral, a exemplo dos textos
escolares: ele pediu a Deus que lhe retirasse esse dom. Desde então, soube que
o ouro não é a única coisa de valor na vida.
Sigamos
Horácio que usou a expressão “aurea mediocritas”, uma designação latina
encontrada na sua ode (II, 10, 5) que expressa a ideia de que só é feliz e vive
tranquilamente quem se contenta com aquilo que tem, sem ganância e ostentação.
Vida simples, retomada pelos poetas árcades no século 18. Vida sem consumismo.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista e escritor.
9 comentários:
A medida do ouro que o homem possui, é a medida que ele recebe da sociedade.
Por falar em confiança e injustiça ate agora, 11h53 do dia 02/01, parece que uma toma forma.
A questão toda se prende à qualidade das amizades e dos amigos que assim se possa considerar. É que existem os amigos verdadeiros e os "amigos da onça". A dificuldade, por vezes é saber discernir entre uns e outros. Os verdadeiros amigos - tesouros reais de valor inestimável - nesses podemos confiar sim. Como disse ants, a dificuldade reside na distinção entre os bons amigos e os da "onça". No mais, concordo com tudo quan to escreveu o gestor do Blog, como sempre, muito peculiar e apropriado no quanto escreve, salvo os "exageros" - naturalmente.
A questão toda se prende à qualidade das amizades e dos amigos que assim se possa considerar. É que existem os amigos verdadeiros e os "amigos da onça". A dificuldade, por vezes é saber discernir entre uns e outros. Os verdadeiros amigos - tesouros reais de valor inestimável - nesses podemos confiar sim. Como disse ants, a dificuldade reside na distinção entre os bons amigos e os da "onça". No mais, concordo com tudo quan to escreveu o gestor do Blog, como sempre, muito peculiar e apropriado no quanto escreve, salvo os "exageros" - naturalmente.
Puxa saco e tiririca da em todo lugar. concordar com tudo que o gestor do blog escreveu é demais e lindo. Agora, se salvo os exageros, então fodeu, porque são a maioria do texto.(Professor, estou brincando, o sr é meu preceptor.)Qualquer pessoa que atingiu um pouco de maturidade, consegui discernir uma pessoa sincera de uma fisiológica. Só não distingui quem não quer. E quanto ao dinheiro, ele não traz felicidade nem infelicidade, porque ele é neutro. Cada pessoa de acordo com sua formação, o utiliza de acordo com seus princípios. Amém!
Penso que o Heitor - o Gomes, quando percebe que tudo está calmo, gosta de atiçar lenha na fogueira. Na verdade, tudo é brincadeira, como se disse e brincadeira sempre tem momento garantido - a qualquer momento. Todavia, o quenão vale na situação são os amigos "da onça", verdadeiros traíras que devem estar sempre em nossa vigilância. Como me manifestei antes, difícil é saber distingüir entre aqueles e os verdadeiros, até porque os "da onça quando são bem "da onça" se vestem com pele de cordeiro, sendo todavia lobos vorazes.".,
Mas, e o amigo blogueiro, não fala nada?
Comentário de Hélio Consolaro:
Depois dessa instigação do Lúcio, não posso fugir de escrever algo. Agradeço o interesse pelo assunto, a presença dos comentários de ambos (Lúcio e Heitor).
Tanto Heitor como Lúcio são esquentados, um é doido da perna esquerda, o outro, da perna direita. Andam abraçados em suas virtudes. Os dois são meus amigos, então, assisto ao debate de camarote, longe das labaredas para que não me chamusquem as penas. Arrumei um muro alto e pousei em cima. kkkkkkkkkkkk
Abraços, obrigado
Boa Hélio, gostei da saída. realmente foi diplomática e própria para finalisação de outras querelas. um abraço, caro amigo. Já que não consigo falar com você por telefone, para você e os seus, um ótimo 2013.
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