AGENDA CULTURAL

20.3.13

Por uma democracia menos cacique

Por  Inês Castilho, editora da série Outra Política

Para Washington Novaes indignação não basta. Reinventar política exige conhecimento, alternativas e relações sofisticadas de autoridade, como… as dos índios!

As sociedades indígenas podem ser exemplos inspiradores para nós, caras pálidas. Estamos condicionados a observar apenas suas carências. Não enxergamos outro aspecto, que poderia nos inspirar: “São sociedades sofisticadas”. Cultivam as relações horizontais, a liberdade de não receber ordem de ninguém; o acesso livre à informação; respeito e liberdade nas relações entre homem e mulher. Quem convida a esta nova mirada é o jornalista Washington Novaes, voltado há mais de 50 anos ao exame de assuntos ligados a ambiente, desenvolvimento e democracia. Autor do documentário “Xingu, a terra ameaçada”, reconhecido por inúmeros prêmios nacionais e internacionais, autor de treze livros, Novaes foi entrevistado no âmbito do estudo Política Cidadã, produzido pelo instituto Ideafix para o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade).


Décadas de convívio com grupos indígenas levaram-no, por exemplo, a observar que, entre eles, ninguém se apropria da informação para transformá-la em poder político ou econômico. E a sugerir que talvez a era da internet, e o fim da comunicação de massas, tenham recriado condições para isso entre nós – desde que alcançadas certas condições políticas. “Para ser democrática, a informação tem que pertencer à sociedade. Mas não há legislação que proteja isso.”



Outra lição a aprender com os índios é o modo como evitam a sobrecarga dos recursos ambientais, ao dividir a aldeia cada vez que a população se torna excessiva. “Não construir megaconcentrações humanas é de uma enorme sabedoria”. Nós, ao contrário, elegemos o padrão das metrópoles como modelo de cidade, com ruas entupidas de prédios e carros. “O sujeito faz cinco torres de 40 pavimentos, e isso vai provocar um impacto enorme no trânsito, nas necessidades de água e esgoto, no lixo, na energia.“. Para ele, é possível construir vidas mais autônomas, mais livres, mais seguras. Mas para isso é preciso ir além da retórica da indignação. “Parte da sociedade vive nessa inação porque sonega impostos, suborna guarda, fura fila, não respeita a lei.”



Superar a condição de indivíduos alienados: essa é a difícil missão que nós e nossas próximas gerações temos de encarar, segundo Novaes. “Cada cidadão precisa pensar nos impactos que produz e em como reduzi-los. Isso vai implicar mudanças nos modelos de construção, nos modelos de energia. Porque, da forma que está, estamos caminhando para impasses gigantescos”, alerta o jornalista. Ele lembra que, em 1997, quando foi aprovado o protocolo de Kyoto, estabeleceu-se que em 15 anos, até 2012, os países industrializados reduziriam suas emissões de gases poluentes em 5,10%. “Pois ao invés de diminuírem 5,2%, as emissões aumentaram 45%. Estamos consumindo recursos mais de 30% além da capacidade de reposição do planeta. Isso é insustentável.”


Washington Novaes


Washington considera que só indo além das fronteiras do Estado-Nação, e definindo princípios de governança global democrática a humanidade poderá sair do atoleiro em que está mergulhada. “Como é que vamos continuar dessa forma, em que os países industrializados, com menos de 20% da população, consomem 80% dos recursos e têm quase 80% da renda do mundo? Não se trata de ter um governo mundial, mas de ter princípios universais”. 




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