AGENDA CULTURAL

3.5.13

A noite fugiu: poluição luminosa esconde o nosso céu



Nas cidades modernas, a poluição luminosa selvagem e desenfreada esconde a maior parte do céu estrelado. Bastaria, no entanto, que usássemos sistemas de iluminação mais eficazes e menos dispersivos para recuperarmos o espetáculo da abóboda celeste repleta de estrelas
Por: Equipe Oásis

Iluminar a noite, até fazer com que ela se torne dia, é uma bela conquista da moderna tecnologia. Mas quais são os efeitos e consequências do desaparecimento da escuridão? No corre-corre de um final de dia de trabalho, o cidadão urbano moderno compra comida no supermercado, passa na farmácia, toma um meio de transporte público e, ao chegar em casa, preocupa-se com o lixo seletivo e com o desperdício da água e da energia elétrica, antes de jantar e de plantar-se em frente à televisão. Vai dormir com a cabeça cheia das notícias quase sempre aterradoras dos telejornais e das tramas pouco animadoras das novelas. Raramente esse cidadão percebe que no céu da sua cidade já não existem estrelas. A combinação entre poluição atmosférica e excesso de luz artificial levou os astros do céu à beira da extinção. O fenômeno não é isento de consequências desagradáveis tanto para a saúde física e psíquica quanto para o bolso.

Claro, hoje não podemos prescindir da luz artificial durante as horas escuras, mas, com frequência, nas áreas urbanas a luz artificial é demasiado intensa e costuma se estender para além da zona que deveria iluminar. Além disso, a poluição luminosa cria uma blindagem da abóboda celeste, colorindo-a com uma tonalidade alaranjada opaca e pouco sugestiva. O fenômeno é particularmente desagradável e frustrante para os astrônomos e todos os que gostam de contemplar o céu estrelado, mas ele diz respeito também ao nosso bolso e a percepção do ambiente que nos circunda.


As regras de ouro

São muito simples, no entanto, as providências que podemos tomar para economizar energia elétrica e para que possamos gozar de um céu mais natural pairando sobre nossas cabeças. A regra mais importante é quase sempre esquecida: apagar as luzes quando elas não são necessárias. Por exemplo, quantas vezes, passeando pelas ruas centrais da cidade, observamos que as luzes das vitrines permanecem acesas em pleno dia?

Segunda regra, não menos importante: as luminárias urbanas, aquelas que iluminam as praças e ruas, devem estar completamente blindadas na parte de cima, de modo a não enviar a radiação luminosa para o alto, e sim apenas para baixo de modo a evitar a dispersão. Terceira regra: quando possível, utilizar sensores de acendimento e de apagamento, por exemplo, para as luzes de segurança à entrada das habitações ou em zonas pouco transitadas.

Por fim, a última regra de ouro: evitar o excesso de iluminação, tanto na rua quanto nos lares. Existe coisa melhor " e mais romântica " do que um jantar na penumbra, à luz de velas?

Impedir a boa observação do firmamento não é o único demérito da poluição luminosa. Como toda e qualquer poluição ela é muito mais séria do que se possa imaginar.




Efeitos negativos

A grande maioria das pessoas que moram em centros urbanos nem faz ideia de que elas são diretamente afetadas por esse tipo de poluição (conhecido pela sigla PL). Aqui estão apenas alguns efeitos negativos da PL:

- O corpo humano necessita de escuridão para poder descansar e se recuperar durante o sono, a luz constante atrapalha o sistema biológico.- O céu é um patrimônio da humanidade, infelizmente isso nos é negado por luminárias mal projetadas.- Aves são desorientadas pela luz.

Atualmente, as pessoas em todo mundo são orientadas para economizar energia com atitudes caseiras como tomar banho quente rapidamente, ou não abrir a porta da geladeira por muito tempo. Porém, fica difícil convencer as pessoas a economizarem energia quando se olha para a quantidade de luz (energia) que é direcionada ao espaço sideral, sem maiores explicações. E talvez a maioria das pessoas não perceba isso, mas jogar luz para cima não aumenta a segurança de ninguém nem melhora a visibilidades das ruas.


Como seria uma luminária bem projetada?

A luminária bem projetada iria lançar luz somente para a área que se deseja iluminar e, mais importante que isso, para baixo: Toda e qualquer iluminação externa deve vir de cima e ir somente para baixo. A lâmpada da luminária não pode ser visível de cima, ela deve ser coberta por um painel que direcione a luz para baixo somente. A lâmpada não pode ser potente a ponto de causar danos à visão das pessoas que estão caminhando ou dirigindo. Se a luz for bem direcionada, menos luz será necessária, e lâmpadas mais eficientes devem ser usadas.


Relógio circadiano afeta o corpo e a psique

O relógio circadiano, ou ciclo de 24 horas de luz e de escuridão, exerce efeitos em vários processos fisiológicos, incluindo padrões de ondas cerebrais e nos níveis hormonais.

Ligações foram observadas entre a presença de poluição luminosa e a falta de sono crônica, que por sua vez diminui a resposta imunológica do corpo. Nas latitudes norte, níveis mais altos de suicídio e homicídio são mais comuns nos meses de verão, quando a luz do sol é quase constante, ao contrário do aumento esperado durante os meses de escuridão.


A ligação entre luz artificial e os níveis de melatonina

A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal no cérebro. Ela regula os ciclos de sono e tem algumas propriedades antioxidantes. A melatonina é produzida durante a noite, e na ausência de luz. A exposição à luz artificial constante faz com que caiam os níveis de melatonina no organismo.Melatonina, câncer, e luz artificial

A melatonina ajuda a controlar a produção de estrogênio. Quando os níveis de melatonina diminuem, tal como acontece quando existe exposição à poluição luminosa, ocorre um aumento dos níveis de estrogênio e do risco de tumores relacionados ao estrogênio, tais como o câncer de mama. A melatonina também tem sido usada para bloquear o crescimento de células do câncer de próstata.


Luz, gravidez e desenvolvimento neonatal

Trabalhadoras noturnas grávidas, expostas à luz artificial durante a noite, têm maior risco de aborto espontâneo ou de natimortos. Isso também pode estar ligado aos níveis aumentados de estrogênio causada pela redução da melatonina.

Em unidades de cuidados intensivos neonatais, verificou-se que crianças expostas à luz constante são mais lentas para desenvolver um ritmo circadiano. Crianças em unidades onde a iluminação foi reduzida para limites normais dormiram mais cedo à noite e ganharam peso mais rapidamente. Existe também alguma evidência que o desenvolvimento visual das crianças pode ser afetado pelo excesso de luz.

Por fim, a exposição precoce à poluição luminosa parece estar relacionada ao desenvolvimento também precoce da síndrome de transtorno de humor. A exposição constante à luz é também um fator de risco para o desenvolvimento da miopia, ou miopia em crianças. Por isso muitos pediatras e educadores são cada vez mais cautelosos quando se trata de expor as crianças à televisão e às atividades de computador.