AGENDA CULTURAL

31.5.13

Esse desconhecido

Hélio Consolaro*

Invoco, hoje, sua paciência, caro leitor, porque escreverei sobre uma pessoa muito simples: Jesus Cristo. Os teólogos teorizaram e teorizam, complicando tudo.

Como nessa semana houve o dia santo, quando a Igreja Católica comemora Corpus Christi, não poderia deixar de atender às minhas comichões místicas. Não sou Spinoza, mas gosto de fazer elucubrações sobre o tema.

Correrei o risco de cometer aqui muitas heresias, às quais peço o perdão antecipadamente. Peço que pastores, padres e bispos (não vou citar o papa, porque não terei leitor tão privilegiado) perdão antecipado.

Tenho comigo que não conhecemos nem 10% dos ensinamentos de Jesus. Chegou até nós apenas um arremedo, uma caricatura da pregação desse homem fantástico. Por suas parcas palavras conhecidas nós, conclui-se que ele só poderia ter uma dimensão divina para dizê-las naquela época.

Talvez isso acontecera por falta de preservar mais suas palavras, pois Jesus Cristo se tornou referência global séculos depois, e entre os primeiros cristãos, a escrita não era forte, por isso prevaleceu a tradição oral, e muitas informações se perderam. Os Evangelhos conhecidos foram escritos 70 anos depois de sua crucificação. Haja memória! Nem computador conseguiria guardar tanta fidelidade.

Ou então muita coisa foi destruída, porque não interessava à igreja burocrática, bem parecida com aquela condenada por Cristo, que surgia em cima de sua doutrina. 

Entre 12 e 30 anos de sua vida, há uma lacuna. Segundo estudiosos da Bíblia, ela foi preenchida com documentos importantíssimos como os Evangelhos Apócrifos (ocultos, secretos), que reúnem ensinamentos e a história da vida de Jesus. Há muitas especulações sobre essa fase, propícia a imaginações.

Há quem afirme que esses Evangelhos foram desprezados ao longo dos tempos pelos líderes das religiões cristãs, que os consideravam uma heresia e chegaram a esconder e queimar muitos desses textos, mas foram copiados pelas seitas fundadas sobre eles. Naquela época não havia museus, arquivos históricos, CPI, STF, Congresso. Queimava-se e pronto. Era uma vez. Tiranos e manipuladores vicejavam.

A cada dia, acredito num Cristo holístico, essênio, oriental, sem essa separação entre corpo e alma, que foi herdada da cultura grega.

“Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Sentes-te olhado, surpreendido? Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.”


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário Municipal de Cultura de Araçatuba-SP

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