AGENDA CULTURAL

27.6.13

A mestra Dilma


Hélio Consolaro*

A presidenta Dilma Rousseff mostrou porque ocupa o cargo, soube ler o sentido das manifestações populares e viabilizar o caminho delas. Ela demonstrou que apesar de ser do campo da esquerda brasileira (nem toda a esquerda é assim) tem uma vocação democrática.

Como presidenta, não foi pedir proteção às instituições para os militares, como já aconteceu com a direita brasileira ameaçada pelas ruas. Se há uma coisa que qualquer militante político comprometido com as mudanças gosta é ver o povo nas ruas gritando-as, porque assim tem respaldo para realizá-las. E a mestra Dilma foi rápida em ver isso.

Até me atrevo a dizer que nisso tudo não tem os nove dedos de Lula, porque a visão global dos problemas não é inerente do cotidiano de sindicalistas, há mais uma visão de estadista. Na verdade, a atitude de Dilma é resultado da interação de inteligências, a abertura de espírito.    

As manifestações tinham (e têm) um viés de oposição, mas se mede a intensidade de uma democracia pela consideração às reivindicações das minorias. E a presidenta Dilma Rousseff fez o seu primeiro discurso acolhendo os manifestantes, dizendo que estava ouvindo-os, que o barulho não era em vão.

Antes daquele pronunciamento fiquei muito tenso, porque quem passou por maus pedaços por esse Brasil, sabe qual é o sofrimento quando o trem descarrila. E me lembrei muito que em momento semelhante, o ex-presidente Fernando Collor se enfraqueceu quando desafiou os caras pintadas no início da década de 90, dizendo-se portador de “saco roxo”. Felizmente, a esquerda tem lideranças mais sensíveis às ruas.

No parlamentarismo, as crises são administradas na recomposição do gabinete; no presidencialismo, a menos traumática é democracia direta. Se as manifestações querem mudanças, que as discutamos plenamente, as mais significativas através de constituinte específica,  plebiscito, referendo, etc. Isso não é perda tempo, é uma forma democrática de construir uma nação.

Com a virada de mesa da presidenta Dilma, a grande mídia já anda resmungando pelos cantos, dizendo que o povo está indo longe demais. Com o Congresso Nacional sensível ao “clamor das ruas” que outras mudanças ocorram para que construamos um Brasil sem  miséria, para todos.
    
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

3 comentários:

DJALMA OLIVEIRA disse...

Perfeito professor!

ESTACÃO BRASIL (UP GRADE) disse...

Faço minhas, estas as tuas palavras...E digo mais....
"Quero os meninos e o povo no Poder.." Milton Nascimento-Fernando Brandt

Alberto disse...

Dilma Roussef é uma das poucas pessoas íntegras da política brasileira. Mas é inútil tentar tapar o sol com a peneira: é claro que estas manifestações são dirigidas, em primeiro lugar, contra o PT, partido que desencadeou a mais avassaladora onda de corrupção que o país já viu.
Eduardo Segre