AGENDA CULTURAL

18.6.13

Luta por 20 centavos


Hélio Consolaro*

Não quero ter nenhum azedume com as manifestações atuais. Se os gays podem fazer suas paradas, os héteros e a cidadania em geral também. A civilidade e a festividade merecem respeito. Todas elas são merecedoras de atenção e precisam ser analisadas, mas não me furto a fazer algumas observações. Todo cronista é metido a saber das coisas.

A ditadura militar deixou uma imagem ruim de governo, e nós, militantes da esquerda, esparramos por aí que ser governo era muito ruim, basta sê-lo para não prestar. Assim, tudo que é falado por parlamentares (municipal, estadual, federal), prefeitos, governadores e presidente é ouvido com desconfiança. Como se fosse possível dirigir municípios, estados e país sem ter governos.

A classe média do Brasil sempre seguiu os padrões norte-americanos e europeus. Os movimentos políticos surgiam lá, depois chegavam cá. Assim foi em 1968, com o movimento estudantil. A crise começava no mundo desenvolvido para chegar ao subdesenvolvido.

Em 1990, a molecada também saiu às ruas, solicitando o “impeachment” de Collor. Como os velhos militantes contrários à ditadura militar, os quarentões caras pintadas estão roncando papo por aí: “no meu tempo, o pau comia”. Estão impressionando netos e filhos.

Este cronista, sendo um ex-preso político, parou de falar em sala de aula sobre a sua prisão, porque os jovens sentiam inveja, como se ser perseguido fosse uma coisa boa. Na verdade, meus alunos estavam atrás de aventura.

Dessa vez, a ordem inverteu. Os países desenvolvidos entraram em crise e os emergentes não. Europa, Estados Unidos com desemprego massivo, aqui, ao contrário, o emprego se alastra. A classe média brasileira ficou sem chão, não é possível fazer os mesmos protestos por aqui. Mudou o paradigma, quis exercer imitação de qualquer forma. Ficaram com inveja da Arábia Saudita.

Gente acostumada com turbulência política, pôe e depõe presidente, passou a não suportar o tédio da normalidade democrática. Votar que era um desejo ardente, virou uma rotina, coisa sem importância, negócio chato.

Assim, militantes radicais de esquerda reuniram a parte da juventude da classe média raivosa e foram para a rua lutar por centavos. Gente que nunca andou de ônibus quer passe livre. Quem está promovendo o quebra-quebra senão aqueles que gostariam ficar eternamente em greve? São os mesmos que nas greves da Apeoesp (professores estaduais de Sãlo Paulo) promovem pancadaria quando a assembleia vota o fim da greve.  

Na verdade, há gente aproveitando o momento da Copa das Confederações em que o Brasil é o centro do noticiário mundial para promover tais quebras para desfazer a imagem positiva do país no exterior. Há tanta falta de bandeira ao movimento, porque o Brasil passa por um bom momento, que a luta é por 20 centavos. Passou a ser uma farra, um jeito de viver perigosamente. Apanhar da polícia engrossa o sangue.

Mesmo que este texto seja verdadeiro, não se trata apenas de um olhar torto e desatualizado de um cronista idoso, a liberdade de expressão e movimentação deve ser garantida. Só não podemos tolerar o vandalismo.  

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP


Um comentário:

dedecamillo disse...

O SEU TEXTO ESTÁ MELHOR, MAIS CURTO QUE O DO JORNALISTA RSRSR E POR ISSO TB TALVEZ DEIXOU DE (FALAR) MAIS ALGUMAS ANÁLISES. O QUE POSSO DIZER É QUE NOS FALTA LIDER, E SERÁ QUE NO FUTURO A SOCIEDADE TERÁ ISTO, IGUAL NO PASSADO? APENAS FIQUEI FELIZ POR VER ESSA MULTIDÃO NA RUA, EMBORA SEM NORTE,À DERIVA DA SORTE!QUE SE DEIXARMOS DE LADO OS VANDALOS, DEU PRA SENTIR QUE O POVO NAO TEM MEDO DA POLICIA TANTO ASSIM. E QUE PELO MENOS FEZ OS DONOS DO PODER PENSAR MAIS UM POUCO. E com o meu ACHismo
acho que o movimento cresceu em numero, devido a insatisfação aos desmandos e a robalheira. Mas veja bem temos aí um sistema de cobranças de pedágios com preços absurdos,levando um ífimo grupo a ficar Zilionários em menos de 10 anos, mas, niguém (levanta) escreve, fala, uma virgula sobre isso!Porque? porque a maioria que tem carro é classe media acomodada! abçs DeDeCamillo