AGENDA CULTURAL

24.8.13

Médicos cubanos: mais perto da comunidade

CONTRAPONTO
Médicos cubanos: mais perto da comunidade
Médico londrinense formado em Cuba revela como a medicina é pensada no país e rebate as críticas de que a educação cubana é de má qualidade

Beatriz Pozzobon - jornal Folha Nova Norte - Londrina
Odarlone Orente - foto do perfil do
Facebook
Na semana que se seguiu ao lançamento do programa “Mais Médicos”, anunciado pela presidente Dilma Rousseff na última segunda-feira (8), o debate sobre a saúde pública ocupou o noticiário. O programa prevê a contratação de médicos para atuar na atenção básica à saúde e é restrito às áreas carentes, periferias das grandes cidades e municípios do interior.
O governo dá prioridade aos médicos formados no Brasil, mas caso não haja interesse por parte dos médicos brasileiros, serão abertas vagas para médicos formados em outros países, especialmente Espanha e Portugal. A decisão do governo de interromper a vinda de seis mil médicos cubanos não encerra a polêmica sobre a vinda de profissionais formados naquele país.

Formado em medicina pela Escola Latino Americana de Medicina, em Havana, Cuba, o londrinense Odarlone Santos de Souza Orente revela como é estruturada a formação do médico em Cuba e rebate as críticas de que a educação cubana é de má qualidade. Segundo ele, a formação dos profissionais em Cuba é voltada para chamada saúde da família e atuação na medicina primária dentro das comunidades, de forma a prevenir o surgimento de doenças.
A formação em Cuba visa perceber a pessoa não só enquanto doente, mas enquanto ser que traz uma doença. Odarlone reforça que quando o médico se dispõe a ouvir o paciente e conhecer a realidade em que ele se insere, muitos exames poderiam ser evitados, não onerando o Estado. Ele frisa que, caso necessário, o paciente é encaminhado para especialistas. No entanto, ele destaca que 80 a 90% dos casos podem ser tratados com foco na medicina básica e na prevenção.

Odarlone é hoje médico regulador do SAMU de Apucarana. Tem especialização em Medicina da Família, em Fortaleza. Morador de periferia e militante de movimentos sociais secundaristas, ingressou em 2001 na Escola Latino Americana de Medicina, por meio da Central de Movimentos Populares, na qual militava. Se formou em 2007 e em 2009 foi aprovado em exame na Universidade de Medicina do Mato Grosso.

A Escola Latino Americana de Medicina havia surgido em 2005, após dois furacões destruírem vários países da América Central, deixarem milhares de mortos e feridos. À época, o governo cubano mandou vários profissionais médicos e paramédicos para atender as comunidades devastadas. Surgiria, assim, a necessidade de formar especialistas em todos os setores da medicina segundo as necessidades das suas comunidades de origem.

Nesta entrevista, Odarlone fala da sua experiência no Brasil e em Cuba.
Odarlone Orente

Como é a formação dos médicos em Cuba? Qual a duração do curso e como este é estruturado?
O curso dura seis anos, assim como hoje é praticado no Brasil. Quando chegamos lá, fazemos seis meses de curso, chamado de Pré Médico. Se for reprovado, o estudante volta pra casa. Quando aprovado no Pré Médico, inicia sua carreira de medicina. Nos dois primeiros anos de curso são estudadas as ciências básicas e introdução à clínica. Neste período íamos também aos hospitais e postos de saúde observar como o médico estava atuando. A partir do terceiro ano, você era deslocado da sede da escola, para as diversas faculdades de medicina, que têm seus hospitais universitários. A partir de então, inicia-se nas áreas clínicas, nas diversas áreas como ginecologia e pediatria. Além de atuar nos hospitais, o estudante atua também dentro das comunidades, evitando, assim, que as pessoas necessitem dos serviços secundários e terciários da medicina.

Qual o foco da formação do médico em Cuba?
A medicina cubana orienta para a prevenção e proteção da saúde. Mas isso não desvincula da necessidade dos serviços nos hospitais de referência. Te orienta no sentido do médico conseguir vislumbrar o micro, mas também o macro. Para atuar na medicina primária, o profissional precisa ter uma visão da comunidade. E a medicina cubana, por ser uma medicina não mercantilista, te mostra como atuar próximo às comunidades mais carentes, que não terão acesso aos hospitais de referência.

O que diferencia a formação médica cubana da brasileira?
Na realidade, a medicina é a mesma. A diferença que se dá da escola cubana para a brasileira é na forma do médico atuar frente ao paciente. Ele vai percebê-lo não só enquanto doente, mas enquanto ser que traz uma doença. O que os nossos professores recorrentemente falavam é que nós não temos que tratar somente a doença, mas sim tem que conhecer o paciente. A causa pode não ser somente orgânica, tem outras coisas em volta que se você não ajudá-lo, ele irá continuar com esse padecimento sempre.

Os médicos brasileiros organizaram manifestações em todo o país contra a vinda de profissionais estrangeiros sem a revalidação do diploma. Como você visualiza esta situação?
O Revalida é para o médico que deseja ficar no país e exercer a profissão no Brasil. O programa Mais Médicos lançado pela presidente tem outro caráter. Ele tem caráter de urgência e tempo determinado de três anos para os colegas estrangeiros atuarem. Na verdade, acho que até será um estímulo aos brasileiros para depois ocuparem essas vagas que os estrangeiros, de alguma forma, vão desbravar.

Qual sua opinião sobre as alegações de que a formação médica em Cuba não é de boa qualidade?
Tudo que é diferente, tudo que a gente desconhece, suscita medo, temor. Também pelo fato de ser Cuba polêmicas que talvez não surgiriam se o foco fosse outro país.  A maioria das pessoas, mesmo as instruídas, se focam em determinadas publicações, que nem sempre mostram como é de fato. Se elas visualizassem os índices de saúde em Cuba não diriam coisas como essa. É só pegar os índices de mortalidade infantil, mortalidade materna, o índice de infecção de novos casos de HIV/Aids, o número de transplantes realizados. Em Cuba, são fabricadas vacinas para vários países, inclusive para o Brasil. O envelhecimento populacional só tem aumentado a cada ano que passa, apesar de ser um país pobre e bloqueado. Alguma coisa eles estão fazendo de certo, não é mesmo?

O idioma diferente poderia ser um fator impeditivo de atuação dos médicos estrangeiros no Brasil?
A maioria dos médicos que participam de missões, especialmente os cubanos, são recém-formados. São médicos que tem mestrado, doutorado, que tem “know-how” para isso. Alguns trabalharam muitos anos em comunidades africanas, de fala portuguesa. Acho que o idioma é um impeditivo relativo. É um idioma muito similar e os sintomas são parecidos. E no limite, casa o paciente e o médico não consigam se comunicar, poderia haver um tradutor. Eu não vejo dificuldade nisso, não é algo que dificultaria a atuação.
Odarlone Orente

O problema na saúde brasileira está na falta de médicos, na desumanização do serviço ou na ausência de estrutura adequada para atendimento?
A saúde brasileira é um problema crônico, não é um problema só deste governo, vem se alastrando ao longo dos anos. É claro que o aumento do número de médicos do país não irá resolver todos os problemas, mas ajuda a movimentar a solução. Porque é difícil você explicar para uma pessoa que ela não terá como procurar um médico, porque na região onde ela vive não tem nenhum. Mais do que estrutura física, é importante que haja uma sistematização no atendimento, uma rede para que você consiga diagnosticar o que é mais grave e encaminhar para o local correto. E, quanto à desumanização dos médicos brasileiros, é difícil falar. Em Cuba, no Brasil, ou em qualquer outro país, haverá profissionais mais tecnicistas e outros menos. O que eu posso falar é que tenho trabalhado com profissionais formados no Brasil, que atuam de forma humanizada. Isso vai muito mais da índole da pessoa do que apenas da formação.

Com relação ao aumento do curso de medicina de seis para oito anos, com atuação de dois anos no SUS. Qual a sua opinião?
É uma forma de melhorar ainda mais a formação do profissional, que irá absorver mais conhecimento e sair mais capacitado. Até mesmo porque a maioria dos colegas, mesmo os que atuam na rede privada, tem vínculo público, ou já tiveram por um longo período. É uma medida louvável, para que a pessoa aprenda e vivencie a realidade do Sistema Único de Saúde, tanto nas unidades básicas, como nas de emergência. E lembrando que ele não irá trabalhar de graça, não é um serviço social. Nesse período de dois anos, o estudante de medicina irá receber bolsa de R$ 3 a R$ 8 mil por mês.

Quais as vantagens do programa Mais Médicos para o Brasil?
A vantagem imediata é para a população, que terá oportunidade de atendimento, especialmente àquela que hoje não tem acesso nenhum aos serviços de saúde. O programa vai mostrar a essas pessoas que elas não estão abandonadas, que tem gente pensando nelas, sejam os médicos brasileiros, ou não. Talvez não seja só isso que resolva, mas já é o primeiro passo, começa-se a movimentar uma cadeia de soluções. Outra vantagem seria a formação de profissionais mais qualificados e atentos à realidade brasileira como um todo, não concentrados apenas nos locais onde vivem. O que eu almejo é que se crie um plano de cargos, carreiras e salários para os médicos, de forma a ajudar a permanência dos profissionais brasileiros nessas regiões.

Colaboradores: Marta Dourado
Sandra Ferreira Costa

6 comentários:

Anônimo disse...

ESTAMOS LENDO UMA ENTREVISTA DE UM MÉDICO QUE SE SUBMETEU A UM EXAME DE SUFICIÊNCIA NA FACULDADE DE MEDICINA DE MATO GROSSO DO SUL, CONFORME AS BOAS E TRADICIONAIS REGRAS QUE OBJETIVAM PROTEGER OS NOSSOS DOENTES DOS AVENTUREIROS COM FORMAÇÃO DEFICIENTE. O BEM DO PACIENTE EM PRIMEIRO LUGAR. ESSAS REGRAS SÃO ANTIGAS E AINDA DEVEM SER MAIS SEVERAS. TAL COMO A DA OAB PARA ADVOGADOS. POR ISSO MUITO JUSTO QUE SE EXIJA O REVALIDA. QUEM SABE NÃO TEME... AS INSTITUIÇÕES DEVEM SER RESPEITADAS. NÃO HÁ LUGAR PARA GOVERNOS ABSOLUTISTAS NO MUNDO REPUBLICANO DEMOCRATA. MARIA LUZIA

Anônimo disse...

Só pra constar... o Sr. Lula e a Dona Dilma foram salvos pelos médicos brasileiros (Hospital Albert Einstein) pagos com dinheiro do povão, e o "cumpanheiro" Chaves morreu nas mãos de médicos cubanos...

Claudia disse...

Medicina em Cuba: 2 anos de formação exclusiva em Socialismo e Marxismo e 4 anos de curso de medicina.
Se fossem realmente bons em Medicina, seriam submetidos a prova de revalidação(que serve para garantir que são bons médicos), teriam um contrato de trabalho com limites de atuação, com férias, 13 salário, direitos trabalhistas como qualquer trabalhador.
Mas não, não sabemos se estão aptos para cuidar de nossos familiares, receberão salários de fome, não terão férias, suas famílias estão lá, reféns de um regime horrendo e serão punidas caso o médico faça ou diga algo contra o regime.
Importar médicos de Cuba sem revalidação é mais do que importar medicina de péssima qualidade, é importar ideologia marxista/socialista, que será divulgada e propagada para os mais humildes (os mais ignorantes e sucetíveis)e, enviando 500 milhões de reais para um governo ditatorial (meio bilhão!), contribuiremos para o aumento da pobreza daquele povo sofrido.
Em pensar que isso tudo é só a resposta populista de um Governo perdido em busca de apoio do povo.
Pena que não é este o caminho.
Sou enfermeira e insisto, não faltam médicos, falta estrutura para trabalho (de todos da saúde), faltam remédios, equipamentos, vagas em hospitais, ambulancias, planejamento, carreira de estado para os profissionais da saúde.
Um exemplo, em Araçatuba, a maioria dos trabalhadores da saúde trabalham pendurados, com contratos temporários em empresas (AVAPE) de cunho político. Sabemos que quando o PT sair, a empresa vai mudar e iremos pra rua novamente... quem vai se aplicar se não tem segurança ou um planto de carreira? imaginem os médicos...

O autor deste blog, com sua visão "marxista meia-boca" (pois é fácil vestir a camisa vermelha tendo uma vida ao belo estilo "classe média americano" do interior de são paulo) deveria repensar seus princípios antes de postar uma entrevista sem nexo para demonstrar a qualidade da medicina cubana.

Claudia

Anônimo disse...

Eu tô adorando. Não aguento mais a arrogância e a indiferença dos médicos brasileiros. Num total desrespeito ao Juramento Hipócrates, dão preferência a amigos da realeza em detrimento de um menos favorecidos. Outros, então, nem examinam o paciente. Pessoas morrem todos os dias nos hospitais públicos e a única coisa que sabem falar é o velho jargão "o Estado não dá os meios necessários". quem dúvida pode telefonar duas vezes pra qualquer médico desta city. Na primeira, fale que é convênio do SUS e na segunda fala que é particular.
Inexplicavelmente, quando consegue-se atendimento, a fila de espera é enorme e, a justificativa, nenhuma. Se são bem ou mal formados, estes, pelo menos, não priorizam o dinheiro e a riqueza.
E quando um profissional da saúde comete alguma coisa errada, existe punição? Aliás, seus pares só condenam quando o caso ganha notoriedade.
A saúde vai de mal a pior, acredito que a concorrência sempre será benéfica em qualquer ocasião.

Anônimo disse...

Ponho-me como anônimo, pois é mais fácil para mim tal tipo de postagem, mas assino!
O anônimo-anônimo, não assina... Mas diz estar adorando a concorrência! Espero que ele procure para ele e sua família médicos cubanos que não passaram pelo revalida. Afirma também que os tais Médicos cubanos não priorizam o dinheiro! Ora! Se vêm para o Brasil é porque o pagamento aqui é melhor do que o de lá! A pobreza lá é notória. Presidente Lula e Presidente Dilma frequentam o hospital Sírio Libanês e estão sobrevivendo de formas terríveis de câncer! Graças aos nossos profissionais brilhantes. Já, Hugo Chaves, o venezuelano, tratou-se em Cuba e já partiu...Fidel Castro esteve às beiras da tumba e mandaram chamar médico espanhol; tirou o pé da cova e vai sobrevivendo... Tenho pena dos cubanos, pois Fidel tirou um "ditador" que governou mais de uma e meia década e aboletou-se no poder faz cerca de 50 anos. O governo agora está na mão do irmão dele Raul, farinha do mesmo saco, governo hegemônico Uma "família real" governando. É preciso haver alternância de poder para diminuir a roubalheira.A devassa da oposição é sempre temida.
Por outo lado é preciso lembrar que o médico brasileiro também tem família, precisa de moradia, e gasta dinheiro com escolas, roupas, tratamentos dentários para seus filhos E os empregos oferecidos pelo governo pagam pouco,os convênios também pagam mal, portanto é certo que guardem alguns horários em seus consultórios para os clientes pagantes.Nada censurável! Você, senhor anônimo, se tem família luta para dar a ela o melhor, não é? Cláudia Maria Villela

Anônimo disse...

Ok anônimo-anônimo. Já fui atendido por médicos de outros países e, infelizmente, o que aqui diziam que era depressão que tinha acometido meu pai, foi devidamente diagnosticado de câncer por um médico boliviano, então, sua tese de que eu não procuraria médico cubano já é uma falácia. Aliás, ligue pra qualquer médico duas vezes, sendo que na primeira, peça horário como conveniado e na segunda como particular. E o Chavez morreu de câncer ou de falta de tratamento pro câncer? Até onde sabemos, o cantor Leandro também morreu de Câncer. Se tem pena dos cubanos, por que então, não leva a sua família pra um médico de lá e veja com seus próprios olhos se eles são ou não revalidados. Se o governo está nas mãos de fulano ou Siclano, que tirem ele de lá, se não estiver governando com dignidade, assim, acredito, entre outras coisas, que nenhum governo perdura tanto se não tiver o mínimo de apoio da população. Está dispostas mesmo a alternar o poder de Cuba com os que eles mesmos decidiram pra si, sendo que a CF/88 respeita a autodeterminação dos povos? Fique à vontade. Se pagam pouco aos médicos brasileiros, qual seria o salário mais justo, segundo sua opinião? O boliviano que atendia meu pai andava em trapos e era hostilizado pelos médicos que achavam que era feio pra categoria. E falando em dinheiro, você queria que eles viessem de graça? Eles estão vindo por bem menos do que se exige um médico brasileiro. Se o governo ou planos médicos pagam mal, que culpa tem o povo ou o conveniado? Acha certo então que um pagante tenha muito mais direito que um humilde roceiro? (Se for positiva a sua resposta, infelizmente, é o fim do poço que estou vendo). Eles precisam ser preteridos no atendimento?. Aliás, por que, então, as clínicas particulares aumentaram tanto assim? Também, por que existem casos de médicos concursados que não cumprem a sua carga horária quando trabalham pra Prefeitura ou pro Estado? Lembra-se do caso do dedo de silicone? Ou isso é coisa de médico cubano? E já que citou a família nisso, digo que procuro o melhor sim, por isso, nada mais justo que a concorrência me dê meios de optar por qual profissional eu prefiro ser atendido. Tudo onde se tem concorrência, obriga o seguimento a se adaptar. Você proibiria um familiar seu de ser atendido por um médico cubano, mesmo que custasse a vida dele? Eu luto pelo que é melhor sim, mas nem por isso me permito deixar de ser justo e brigar com o governo para que ele pague melhor seguimentos diversos. Emprego nenhum é ameaçado, quando se faz com boa vontade.E, finalizando, pouco interessa o nome de quem escreveu, afinal, aqui, o que vale são as ideias e os pontos de vistas. Eu, sou um mero desconhecido.
PS: veja o vídeo abaixo e, se algum cubano, ou estrangeiro que for, atender assim, passo a defender seu lado.
http://www.youtube.com/watch?v=IW4EUHB0wmY