AGENDA CULTURAL

13.12.13

Mandela e Lula


Hélio Consolaro*

A maior mágoa de setores da classe média é que Fernando Henrique Cardoso não se tornou o salvador do Brasil. Com toda sua intelectualidade, conseguiu ser ultrapassado por um presidente operário. E pior, não conseguiu ter a humildade de João Batista, ser o precursor.

Nessa mesma esteira, setores da classe média estabelecida, que catam as quireras do poder há séculos no Brasil, endeusou FHC porque ele falava outros idiomas. Essas mesmas pessoas odeiam Lula, porque trouxe como companhias pobres e mulatos, dando-lhes possibilidade de consumo.

Esquecem-se de que Lula criou 14 universidades, embora seja pichado de analfabeto por alguns setores, enquanto o intelectual, o bilíngue FHC zero, isso mesmo, nenhuma. Numa roda de professores universitários em Goiás, ouvi depoimentos deles de que no governo tucano se ferraram, embora FHC seja professor universitário, e que Lula arrumou a universidade brasileira.

Para azar dos médios, dois sujeitos que não participam do establishment fazem sucesso fora do país: Lula e Paulo Coelho. O primeiro é pichado de analfabeto, o segundo, de não saber escrever, embora seja membro da Academia Brasileira de Letras. Parece que para certos brasileiros, brasileiro algum pode ser algo no mundo, a não ser pelo esporte.

Na verdade, para ser um grande líder precisa ter uma grande alma. Pode ser que neste momento, há gente querendo endeusar Mandela, pensando eleitoralmente no Joaquim Barbosa, presidente do STF. Os dois são negros, mas de alma bem diferente. Mandela foi preso, Joaquim Barbosa manda prender.

Para os raivosos, Mandela é muito bom, mas na África do Sul. Não o querem como sogro de seus filhos. Como Lula, Mandela teve paciência para enfrentar os contrários. Nada melhor como um dia atrás do outro. O prefeito Cido Sério em Araçatuba tem o mesmo perfil, vai engolindo sapo e também os adversários.

Juscelino Kubistschek também enfrentou oposição atroz em seus quatro de anos de governo. Quem fala de seus oposicionistas, lembram que existiram, que esguelaram contra JK. Apenas ele teve nome registrado na história.

Mandela pacificou a África do Sul com paz. Parece um pleonasmo, mas nunca vi pacificar algum lugar com armas em punho. Gandhi já deu a grande lição, não se podem usar as armas do adversário para combatê-lo, é o princípio da não violência ativa. Não se combate violência com violência.

Lula jamais perseguiu alguém, embora tivesse uma grande arma nas mãos: o poder. Teve o chicote nas mãos e não açoitou ninguém. Só se conhece alguém, quando ela tem todas as ferramentas à mão para oprimir outrem, mas não o faz.

Não escrevi esse texto com paixão partidária. Gosto do metalúrgico como ser humano, pessoa. Como Mandela, Lula não é santo, aliás, santo é uma coisa de sacristia, poucos santos declarados pela Igreja Católica o são. Mandela e Lula são grandes homens que habitam o mundo da excelência. Para desespero das almas raivosas, os dois estão sentados lado a lado.

Os grandes líderes estão e virão de países emergentes. O modelo da riqueza pela riqueza esgotou-se.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP 

Um comentário:

NATAL LUIZ SBRANA disse...

Parabéns pelo texto, gostei.