AGENDA CULTURAL

16.1.14

Rolezinho e “footing”

Hélio Consolarlo*

Li com alegria que o secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, reuniu-se com o comando da Polícia Militar e disse que o rolezinho não pode ser considerado crime, mas um fenômeno cultural, por isso não deve ser tratado como caso de polícia por si. Uma avaliação ponderada e correta.

Li com tristeza o depoimento do senador do PSDB, por São Paulo, Aloysio Nunes, que registrou seu julgamento no Twitter. Como um homem com tantas responsabilidades pode ser tão obtuso:

“Domingo, levei meus netos, de 5 e 4 anos, à exposição do ‘Gloob’ no Shopping Morumbi. Imagino como eu e demais avós reagiríamos caso um bando de cavalões cismassem de dar um rolê por lá...” escreveu no Twitter o senador tucano; segundo ele, “os bacaninhas de sempre fazem agora apologia da nova modalidade de inclusão da periferia”.

No Shopping Araçatuba, há rolezinho há muito tempo no domingo. Nunca houve balbúrdia, a polícia acompanha preventivamente fato e o dono do shopping nunca reclamou disso publicamente. Se não houver manipulação política do fenômeno, passa despercebido. Se fizemos o “footing” antigamente, porque não se pode haver um rolezinho pacífico na atualidade?

As famílias beneficiadas pela economia inclusiva conseguiram suas casas, seus apartamentos, mas eles são pequenos, por isso a cidade é uma extensão delas, espaço necessário de lazer. Daí a preocupação em promover o entretenimento em finais de semana para que a juventude tenha lugar para se divertir de forma sadia. O rolezinho é um jeito de passear nos shoppings, que substituíram as praças públicas.

Barrar pessoas no baile, impedi-las de entrar num lugar por preconceito é a forma mais burra de construir a violência em nossas cidades. A rejeição não constrói o amor, constrói o ódio.

Como secretário municipal de Cultural, conversei com o DJ Sancler para saber a opinião dele a respeito dos rolezinhos em São Paulo, já que é líder da cultura Hip-Hop em Araçatuba tem um programa radiofônico para os manos na Rádio Cultura.

Sancler me disse que se fosse o dono do shopping, teria recebido os jovens do rolezinho com um ato cultural compatível com o contexto cultural deles. Depois de quebrar o gelo, chamaria as lideranças para conversar e estabelecer um nível de convivência. Afinal, o diálogo é a melhor forma de resolver problemas.

É que dialogar é muito difícil para quem sempre mandou, explorou e escravizou. Se quisermos construir a paz, sempre é melhor incluir, aproximar-se, valorizar do que excluir e rejeitar.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Araçatuba-SP


2 comentários:

Helio Ninha disse...

Bom Dia !...
Xará

Quanto ao assunto "role", vou de dar aqui meu "pitaco"...Se esses atos de vandalismo deva chamar de "ato cultural" é uma verdadeira piada. Antigamente as nossas "paradas" em praças era para paquerar e pegar as mulheradas, e não prá cheirar, ou fumar drogas e depois ficar correndo, um atrás do outro...isto prá mim tem nome: "Viadice", uma cambadas de "nóias"...borracha neles...

Baraka disse...

Vandalismo agora é "Fenômeno Cultural", "Ato Cultural", etc etc etc...