AGENDA CULTURAL

22.12.15

Médico polêmico

Hélio Consolaro*

Inseri neste blog no dia 07/10/2015, um texto intitulado “Então, a CPMF” quando já aparecia o médico Joanis Samuel de Almeida, o mesmo que foi demitido pela ASF (Associação Saúde da Família). Motivo alegado: cometeu discriminação ideológica e política com pessoas nas quais mantinha contato profissional. Ele não é funcionário público.

Escrevi na época: “Na assembleia de orçamento participativo ocorrida no dia 06/10/2015, 20h, terça-feira, na Emeb Fausto Perri, bairro Alvorada, Araçatuba, o médico do bairro (atende na UBS) usou a palavra e desbancou o atendimento da saúde no bairro de uma forma bem contundente. 

Em muitas coisas, ele tinha razão, noutras, se tratava de questão ideológica [...]”



O vice-prefeito Carlos Hernandes (PMDB), representando na assembleia o prefeito Cido Sério (PT), numa atitude inusitada, nunca feita antes, fez um discurso político naquela oportunidade, rechaçando o discurso do médico. Na época, o Dr. Samuel estava acompanhado por duas senhoras da alta sociedade araçatubense. Elas entraram e saíram em silêncio do recinto, estavam dando retaguarda ou apoio moral ao jovem médico.

Naquela oportunidade, ele não citou nomes, apenas discordou, que é uma possibilidade de qualquer cidadão que participa de assembleias de Orçamento Participativo. Não se pode brincar de democracia, ela vai até as últimas consequências, e a brincadeira não pode terminar no meio. Disseram as más línguas que ele era protegido de Cidinha Lacerda, ex-secretária de Assistência Social de Araçatuba.

Na minha vida, procurei nunca ser ingrato, a ingratidão é um mau sentimento, mas também radicalizei muitas vezes na minha juventude, chegando a ser um inocente útil.

O padre usar o altar; o pastor, o púlpito; o professor, a sua cátedra; e o médico o poder da farda branca para fazer política partidária não ajuda na construção da democracia. A sociedade precisa de lugares neutros para respirar, se livrar das disputas políticas.


Durante os 37 anos de magistério, procurei não usar a cátedra para fazer proselitismo partidário, embora a minha militância política fosse ostensiva na cidade. Quando algum aluno me perguntava alguma coisa sobre política, eu me limitava a responder ao perguntado.

No 3.o Congresso de Agentes Comunitários, conforme vídeo exposto pela Folha da Região, o médico fugiu do tema propositalmente, levou até eslides prontos do “Fora Dilma”. Ele não respondeu a perguntas, nem se exaltou com o momento. Não. Ele veio preparado para fazer o proselitismo, tudo planejado.

Não estou defendendo que ele seja queimado em praça pública, mas as ações de um profissional precisam ser norteadas pelas boas maneiras. A democracia é regime político que mais precisa de disciplina, principalmente de autodisciplina. Essa fogosidade ideológica do jovem médico precisava de limites, porque a verdade não mora apenas de um lado.

Se se discute se nas repartições é justo pôr o crucifixo, já que o poder público é laico, não se pode instrumentalizar esse mesmo espaço para questões partidárias, muito menos quando se usa a farda branca.

O radicalismo político (diferente da radicalidade) às vezes toma conta da alma humana, principalmente da juventude.
A pessoa cai nesse poço e não consegue sair. A moderação chega com a idade. Quando chega, a maturidade se torna um poço de sabedoria. Se mesmo velho, continuar porra-louca, é bom consultar um psiquiatra.

Dr. Samuel é jovem, está se construindo. Esse imbróglio em que se meteu fará parte de sua trajetória. Se fosse meu filho, eu diria: “Tome mais cuidado na próxima. A sociedade está querendo lhe jogar a máscara de arrumador de confusão. Não a vista! Vai sofrer muito com ela, mas a escolha é sua. Não me leve a sério, sou um velho”.  


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP 

Um comentário:

Anônimo disse...

Surpreendente final, a ultima frase me confunde ...acho. O pai nao está seguro do seu conselho? O pai acha que a fogosidade da juventude é boa?