AGENDA CULTURAL

9.1.16

O Gandavo de Jatobá

Acadêmicos da Academia Araçatubense de Letras: Tharso Ferreira, Geraldo da Costa e Silva (Pratinha), Lourival Amilton Lautenschläger (Lorico) 

Tharso Ferreira*                                                          
Conheci o Gandavo de Jatobá. É uma joia rara. A grande surpresa veio pelas mãos cirúrgicas do Dr. Pratinha. 

Provavelmente, vocês não saibam o significado desta palavra, gandavo, e eu tampouco, mas Lourival Amilton Lautenschläger, o próprio, sujeito que sabe muitas coisas, mas a despeito de suas boas maneiras e de sua fala floreada, gracejada que eu ainda não conhecia, explicou com suas palavras que cantam no meio das barbas:

   - Gandavo é um contador de estórias! – daí eu me senti confortável diante de tão distintos cavalheiros, que mantém sólida amizade por mais de meio século. Assim que nos sentamos, as oito da noite, no grande restaurante nos altos do Jardim Nova York, trocamos nossas criaturas, eu o Calo de Taco, ele, a sua obra O Gandavo de Jatobá, que certamente lerei em um fôlego. 

Sou suspeito, gosto de velhos, principalmente os espirituosos como estes dois meninos. Sou o primo pobre deste trio. Mesa farta, assunto que não acaba mais, simpatia a deus-dará, assunto, assunto, assunto. Soube de coisas inimagináveis pela língua firme dos dois e não resisti a tentação de ir perguntando coisas, não ficava sem respostas. Entre um chopinho e outro, que um simpático garçom não deixava faltar, eu me perguntava porque Deus me sacaneou tanto me deixando tanto tempo sem conhecer estes dois fugazes. 

Fiz questão de ficar de frente para os dois que de lado a lado me enriqueceram a noite. Conversamos como que ligados a um fio elétrico me esclarecendo histórias do passado que não estão nos livros oficiais. Falou-se desde as românticas músicas francesas de que o Gandavo é apaixonado e até de pratos raros que eu nunca ouvi falar. Todas ditas em palavras vivas, soltas e fáceis diante de meus olhos ansiados, debruçado sobre a toalha de papel da mesa. 

Eu me escondi na sombra deles era o que me restava como a vida me ensinou a se curvar diante dos velhos, que por si só são mestres, e suas vozes me invadiram como água, foi uma festa de palavras, histórias, choques de conhecimento daqueles dois homens que percorreram boa parte do mundo e presta culto às coisas boas deste mesmo mundo. 

O gandavo de Jatobá se levantou algumas vezes, içado da mesa pelo desejo atravessado do pito, hábito adquirido pelas circunstâncias e pela vida. Deixava sua voz estentórea e procurava um lugar para o fumo enquanto ficávamos com suas risadas, conversar e pensamentos retidos na mente. Depois voltava com seus suspensórios soltos, sempre rindo e cheio de sorrisos, de bem com a vida como um manequim vivo da terceira idade e guardava seu maço de cigarros que não me deixou ver.  

Depois que levantei da mesa o que mais eu poderia fazer a não ser agradecer aos deuses por aquele momento, com linguiça picante, acebolada e palavras molhadas a chope. 

Cheguei em casa depois da meia noite, descansado e alegre. Fiz o percurso de volta pelas ruas desertas, pilotando meu carro velho, mudo e cego de um farol, parceiro de tudo, me levando para o descanso do sono. Remoí com ele cada palavra daqueles dois divinos. 

O frescor da noite me fez brilhar a mente e me vi imaginando que não há nada mais alegre no mundo do que as amizades sinceras e concluí que o destino me reservou estes dois de clã singular, mas tão diferentes, para que eu celebre a vida como se deve.


*Tharso José Ferreira é escritor e ocupa uma cadeira na Academia Araçatubense de Letras

Um comentário:

Anônimo disse...

sabe Tharso, eu também admiro estas duas figuras, elas são diferentes,sabem fazer as pessoas sorrirem sem serem palhaços e sabem dar a presença de sua solidariedade quando assim se faz necessário belas figuras, e agora você junto, vixi vai aprender muito
marianice