AGENDA CULTURAL

1.6.16

Educar mais para punir menos

Hélio Consolaro*

Entender o enigma da alma humana é um desafio, nem sei se Deus conseguiu. Jesus Cristo deu algumas pistas, Freud debruçou-se sobre estudos das suas patologias e continuamos com um ponto de interrogação sobre nós mesmos.

Na verdade, somos mesmo animais, mas os tidos como irracionais obedecem seus instintos também na questão sexual que é tratada como procriação. Nunca ouvi dizer que 33 cavalos praticaram o coito com uma só égua num único momento. Apesar de os macacos serem, os mais próximos dos seres humanos, serem acusados de promíscuos, nem eles praticam o estupro coletivo.

A forma como a humanidade tratou o sexo, a falta de educação sexual que deve ser dada pela família e reforçada pela escola, produzem os monstros. Quem os educou? Se um deles fosse meu filho, eu morreria de vergonha por ter falhado tanto.

Outra causa suposta são as drogas, mas mesmo sob o efeito delas, as pessoas de boa índole se manifestam diferente, conversam mais ou vão dormir. Os de má índole ficam violentos e valentes. É o que deve ter acontecido com o caso do Morro São José Operário, na Praça Seca, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro: excesso de droga.

Os mais velhos podem dizer que a culpa é da internet. Como já demonizamos um certo dia a televisão. Todas as desgraças eram culpa da TV. As mídias podem facilitar a divulgação, mas não são causa. Antigamente, o mundo era muito mais violento, aliás, nem todas as violências eram criminalizadas.

Era comum o rapaz roubar a moça de seus pais porque não queriam o namoro ou casamento. Punha a menina de 14 ou 15 anos na garupa do seu alazão arreado e ia para bem longe. Ninguém era acusado de pedofilia e nem de sequestro.

Em rodas de conversa, costumo dizer que antigamente, nos tempos da colonização de nossas cidades, o pistoleiro matava uma pessoa, apostando com um outro, para ver de que lado a pessoa alvejada ia cair.  E quantos índios foram mortos, tribos exterminadas... Ou índio não gente?

As leis precisam ser severas, o crime castigado, mas necessitamos cuidar da formação de nossas crianças e de nossos jovens. E não é só a escola que é encarregada disso, a principal responsável é a família (de qualquer tipo), o primeiro grupo de convivência do novo ser que chega, a criança. Educar mais para punir menos.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

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