AGENDA CULTURAL

30.6.17

O lar e o bar: ambos deixam a pessoa mamada

Mas os marmanjões, como este cronista, não desmamam nunca, sou um bebedor diário de leite, embora goste também de cerveja

Ordenha feita mecanicamente
Hélio Consolaro*

No noticiário regional, município de Lins-SP quer estimular a pecuária leiteira. O assunto mexe com as tetas das vacas a cada cria. A pecuária de corte é mais cruel, quer a carne do bovino, mata-o.

Ainda adolescente, eu era um anotador de experiências científicas com rebanho na antiga Fazenda do Estado, oficialmente conhecida como Posto Experimental da Criação, cujo recinto de exposição Alcides Fagundes Chagas era parte dela.
 
Ordenha manual
Lá descobri que a raça nelore só dá carne e a holandesa, só leite. E os zootecnistas queriam fazer, naquela época, do gado guzerá, uma raça boa produtora de leite e de carne por meio do aprimoramento genético. Na década de 60, há mais de 50 anos, já se trabalhava com a inseminação artificial e usava cerca elétrica para dividir pastagens.   

Quis explicar isso para que o leitor conheça melhor este croniqueiro, não sou tão xucro no assunto, pois vou escrever sobre o consumo de leite.   

Nós, seres humanos, temos contato com leite pelos seios da mãe, o leite materno. Os homens, principalmente, começam a mamar e não largam mais, porque os seios têm duas funções: sustentar a criança e sustentar o amor. No fundo, as duas coisas se reduzem ao amor.
 
Como era embalado o leite antigamente
Como nem todas as mães humanas são boas produtores de leite, então as crianças ingerem o leite da vaca (ou cabra) processado, em pó ou pasteurizado. Lá vem as mamadeiras. Mas houve época em que o leite da vaca passado para as crianças era só fervido, como forma de higienizá-lo.

Mas os marmanjões, como este cronista, não desmamam nunca, sou um bebedor diário de leite, embora goste também de cerveja. Ingerindo estas duas bebidas tidas como incompatíveis entre si, descobri que faço mais barulho tomando cerveja com amigos do que bebendo leite com a família. Há quem diga que ninguém faz amigos bebendo leite, mas com ele se cria um bebê.
 
Leite em caixas longa-vida
A famosa lactose é a rejeição do organismo ao leite. Tenho um amigo que só teve uma vida regular depois que parou de tomar leite, nem sabia que isso se chamava lactose.     

Roubamos o leite bovino dos bezerros para tomá-lo, assim mamamos na vaca indiretamente. Passamos a criar vacas em confinamento, ter retiros, inventamos as ordenhadeiras mecânicas. Então construímos  os laticínios, as fábricas de leite em pó, a manteiga, as guloseimas feitas de leite. Você percebeu, caro leitor, como somos cruéis. E na Ásia e na África, as pessoas tomam o leite apenas enquanto criança, os adultos não conseguem conviver com a lactase. Não há essa mamação generalizada.

Aqui há o cruzamento do bar e o lar: porque estar “mamado” pode ser que o bebê já ingeriu leite, mas significa também que o sujeito está bêbado.

P.S. Por que escrever um texto tão óbvio? Eu também me perguntei. Apenas para esclarecer às novas gerações que o leite não é feito na padaria, no supermercado, nem nasceu na caixinha. 


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*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras

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