AGENDA CULTURAL

5.3.20

Bateu na cara da vida, não teve medo

Alberto Consolaro no Programa do Jô de 16 de agosto de 2013
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Pelas andanças por Araçatuba, viveram o casal Luís e Augusta uma espécie de peregrinação, a exemplo de Jesus e Maria na pobreza. Numa das paradas, alugaram um rancho, na concepção antiga do termo, no antigo bairro Abílio Mendes. 

Abílio Mendes era o nome do loteador que resolveu fundar um bairro rural, uma espécie de Engenheiro Taveira atual, mas  a cidade de Araçatuba chegou até lá nos dias de hoje. Então, agora se chama Vila Aeronáutica, porque naquela zona do município esteve o primeiro aeroporto, Franklin Roosevelt; e está o atual, Dario Guarita. 

Você, caro leitor, já ouviu falar em casa de taipa, ranchinho à beira chão, cujo piso era o próprio solo (higienizado com cinzas) que não tinha nem latrina? O mato era o lugar de fazer as precisões. 

Nessa moradia, eles tiveram o terceiro filho, que recebeu o nome de Alberto para homenagear o ex-patrão. Se o cargo de presidente da República não tivesse tão avacalhado, eu poderia dizer que nascia um ocupante de cargo outrora tão elevado.

Menino nascido pelas mãos de Suma Itinose, chamada entre a população de Dona Maria Parteira. Como era a casa mais pobre do bairro, Dona Francisca, uma das moradoras, eivada de solidariedade,  socorreu a parturiente durante a dieta. 

Pá de cá, pá de lá, privações mil, a única facilidade era ser branco. Esse menino ficou levado, tinha as pernas tortas a exemplo de um jogador de futebol. 

Naquela época, os meninos negros eram chamados logo de Pelé e os de pernas tortas (geno varo), de Garrincha. Problema que foi corrigido depois de cirurgia na vida adulta.


Casa de taipa (pau-a-pique) - apenas ilustração
A meta do casal era estudar os filhos, porque seus ascendentes italianos não conseguiram fazer a América. Saíram pobres da Itália e seus descendentes  continuaram pobres. E Alberto, diziam as más línguas, não era muito dado a estudos.

De repente, depois de fazer um cursinho intensivo, eis a notícia: o Beto passou no vestibular da Unesp, Odonto, na própria Araçatuba para facilitar as coisas, sem ter o perfil de "nerd". Os dois irmãos mais velhos estudaram em faculdades particulares, e o Alberto numa faculdade pública de renome. A frase mais ouvida era: "Quem diria!"

Essa inquietude do Alberto, busca constante, se manifestava também no casamento. É um eterno caldeirão sem tampa. "Será que essa é a definitiva?" - murmuravam seus amigos. 

Assim, aquele menino nascido lá no Abílio Mendes virou doutor. Bateu na cara da vida, não teve medo, pois as orações de Seu Luís eram fortes.  Escolheu o magistério de nível superior. Prudente, Uberlândia, Bauru - onde criou raízes. Sempre queria mais: livros publicados, programa do Jô Soares, palestras pelo mundo afora.  

Aquele menino que nascera em 1956, em pleno êxodo rural, que tinha tudo para ser mais um boia-fria, teve mãe e pai que lutaram contra o determinismo de Taine: o meio faz o homem. 

Dr. Alberto Consolaro, o nosso Beto, está se aposentando como professor da USP com todos os títulos e festa de despedida dos colegas. "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer." Parabéns. Eu me orgulho de ser irmão dele.

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3 comentários:

Mari Ines Consolaro disse...

Parabéns Professor e Dr Alberto Consolaro

Mari Ines Consolaro disse...

Parabéns professor e Dr Alberto Consolaro

Julce disse...

Parabéns Dr Alberto!