AGENDA CULTURAL

27.5.20

As penosas obrigações de quem governa


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Se tudo fosse feito como manda o figurino da ética e dos bons princípios, a frase do título desta crônica seria a mais pura verdade.

Que força leva uma pessoa a abandonar o jardim de sua casa para querer cuidar das ruas da cidade? E quase sempre o político desestrutura a sua família nessa troca.

Sérgio Moro era uma pessoa com projeção social, respeitado por parte da população, podia até ser ministro do Supremo Tribunal Federal sem entrar na política. Por que se arriscou tanto para ser ministro de um presidente aloprado? Perdendo inclusive a magistratura. Trocou o céu de brigadeiro pelo inferno de um capitão. E assim há outros exemplos.

Nem sempre as melhores pessoas se candidatam eleitoralmente a um cargo público, porque não é fácil ouvir a sua vida particular na boca do povo. Há quem diga que juiz de futebol e político têm duas mães: uma para amar e outra para ser xingada.

Há muito gente que se atreve a candidatar-se porque pretende mesmo é trazer o dinheiro público para o bolso privado, seu e/ou dos outros. Geralmente quem chama todo mundo de corrupto, se eleito, vai fazer a mesma coisa, pois critica o outra por pura inveja, porque não está lá se chafurdar. Quem usa cuida.

Há alguns ditados populares que revelam o ambiente da política. Exemplo 1: se o adversário for muito limpinho, inatacável, coloque nele um rabo de palha e atice fogo. Exemplo 2: a arte de engolir sapo, dar uma de desentendido, para agregar em vez de dividir. Exemplo 3: há lideranças políticas que dividem para reinar, criam inimigos, inventam obstáculos. Exemplo 4: para os amigos, as benesses; para os inimigos, a lei. 

Para lhe falar a verdade, caro leitor, há  gente que se encanta com o poder, gosta de ser o centro das atenções, ter o prazer de mandar, tem astúcia. Nem por isso roubam e de vez em quando tais predestinados caem na graça popular. São chamados de estadistas.


Para alguns, governar é um sacrifício, se afastam da família, precisam fazer a vontade alheia, não a sua. Para outros, governar é viver nababescamente, sempre rodeado de amigos porque tem dinheiro sobrando, mulheres bonitas e bajuladores. Sempre tirando do cargo as insuportáveis vantagens.

Se pretende ser candidato neste ano a algum cargo, caro leitor, não se apresente como um demagogo, mas também não seja ingênuo, que nem falar em público sabe. A gente está precisando de gente honesta, mas esperta, com astúcia para discutir e governar a cidade. 


Um comentário:

Eric Costa e Silva disse...

Temos casos onde o candidato é eleito a deputado federal e se ausenta de assumir. Pelo simples fato dele não ter sido candidato