AGENDA CULTURAL

20.12.20

Aldir Blanc: buteco é um templo

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.

Não sei se o caro leitor ouviu falar na Lei Aldir Blanc. Em Araçatuba, ela está sendo aplicada pela Secretaria de Municipal de Cultura. É o auxílio emergencial em tempos de pandemia aos artistas e profissionais da cultura que vivem do espetáculo. Aldir Blanc era o compositor que mais teve músicas gravadas por Elis Regina. 

Baterista, mas escreveu também alguns livros. Era o médico psiquiatra que trocou a medicina pela música, pela arte. Fez parte da equipe de redação do semanário O Pasquim, que fazia oposição à ditadura militar.  

Já durante a pandemia, toca a campainha de casa, eis que vejo o amigo Antônio Carlos Faria com uma sacola, havia dois livros, me esperando no portão. Depois de que fomos secretários municipais juntos em Araçatuba, ele sempre me presenteia com livros. E um dos livros era do Aldir Blanc, edição comemorativa dos 70 anos de vida do autor, 2017, editora Morula: "Direto do balcão - Aldir 70". Um presentão. 

Aldir Blanc morreu em 04/05/2020, aos 73 anos, justamente quando a lei era votada no Congresso Nacional. Como era uma lei cultural, o compositor foi homenageado de pronto dando o seu nome a ela. Apesar de sua vida boêmia, era "pai de família", como se diz aqui no interior paulista.

Quem não se lembra de "Dois pra lá, dos pra cá", "O bêbado e o equilibrista" que são composições dele. Aldir e o João Bosco faziam parceria. Surgiu no meio artístico que os dois haviam brigado. No livro, numa das crônicas, Aldir diz que isso é lenda urbana e que amigos, para preservar a amizade, de vez em em quando precisa manter um certo distanciamento. 

Sua figura exótica, cabelos e barbas longas, fez com que os netos lhe pusessem o apelido de Bidu, personagem de HQ de Maurício de Sousa. 

"Direto do balcão" é um livro de crônicas, 220 páginas, dividas em blocos: Antologia Biriteira, Artistas da rua, O bardo da muda, Brazunda, O baile não segue calmamente, A oitava arte em perigo, O passado  no futuro. R$ 19,90 - digital.

Na crônica "Novos crimes pelo telefone", ele define assim o telefone na vida do homem moderno: "O TELEFONE. Quase meia-noite. Corações disparados, minha mulher e eu nos entreolhamos em quase pânico. Isso também mudou. Com a violência imperando, o telefone deixou de ser um veículo para conversas amenas. Seu toque parece sirene ou tragédia iminente. As filhas. Tiroteio no samba, em baile funk, forró, retiro espiritual? Assalto em coletivo? Mordida de pitbull? Ação de civilizados policiais londrinos? Galeras na 'balada' dirigindo de porre e o inevitável desastre? Envolvimento com drogas?"                                                     

No livro, Aldir Blanc é um debochado, mais sério que José Simão - Folha de São Paulo. São crônicas publicadas em jornais cariocas e na revista "Bundas". O escritor é um anarquista, se "há governo, sou contra". O nome "Direto do balcão" se deve ao bloco maior de crônicas cujo tema são os bares do Rio de Janeiro. Para ele, "buteco" é um templo.

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Um comentário:

Maria zei disse...

Parabéns por essa matéria. Um abração, Hélio Consolaro