AGENDA CULTURAL

14.7.21

Roubaram o meu lixo!

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
(Crônica reescrita em 21/07/2021)

Quando a miséria chega à casa das pessoas por uma política econômica nada inclusiva, que trata os pobres como mendigos, com auxílio emergencial, sem nenhuma contrapartida, a venda de porta em porta aumenta e cada um se vira como pode.

A Prefeitura de Araçatuba tem o serviço de recolhimento de lixo reciclável. No meu bairro, toda quarta-feira, a empresa passa com seu caminhão. E o lixo orgânico é recolhido nas terças, quintas e sábados.

Não sei se isso acontece em toda a cidade de Araçatuba, mas na minha rua, que não fica em zona nobre, essa separação entre orgânico e reciclável é feita, e a recolha do lixo obedece a tal critério.  

Embora a gente saiba que às vezes o lixo só muda de lugar dentro da cidade, sai das casas embalado e vai para o aterro, nos sentimos aliviados por ele não estar acumulado em nossas calçadas.

Em certas casas, o lixo é um luxo. Noutras, o lixo dos outros  é o sustento da família, principalmente em de crise. Nestes míseros tempos atuais, a empresa prestadora de serviço no recolhimento de lixo reciclável arrumou concorrentes, há catadores terrivelmente liberais que passam antes e pegam o rico lixo. Não estão roubando, apenas estão exercendo o direito de sobreviver. O caminhão contratado pela prefeitura, uma forma estatizante de administrar (segundo os liberais), passa em vão na rua de minha casa.

Já ouvi várias vezes a frase em meu quarteirão:

- Roubaram o meu lixo!

Tudo bem. Que mal tem? O problema é se a prefeitura dispensa o caminhão contratado e deixa o recolhimento do lixo reciclável por conta dos garis informais. Se essa hipótese acontecer, é o extremado neoliberalismo desorganizando o que funcionava bem, deixando a população à sua própria sorte.

Já pensou se não houver quem organize dia e horário de o “lixeiro” passar em cada rua? No caso a prefeitura, e ficar a critério de coletadores informais, conforme o mercado?  A cidade ficaria tomada pelo lixo, desorganizando a vida urbana.      

Trata-se de apenas um exemplo pedagógico. Ser extremamente estatista, é comunismo, tudo só funciona com a intervenção do Estado (poder público). Ser terrivelmente neoliberal é acreditar que o sistema se organiza por si, o que não é verdade.

A melhor alternativa é agir conforme a necessidade, sem a preconcepção ideológica. Ser estatizante quando for preciso, liberalizante quando a realidade permitir. 

2 comentários:

Bié disse...

A disputa aqui em Campinas é grande, a ponto de eu já ter feito amizade com alguns dos laboriosos cata tudo.

Unknown disse...

Em minha rua acontece lo mesmo. Que fazer a não ser continuar colocando na rua.