AGENDA CULTURAL

20.11.21

E se Daniel Mundukuru tivesse sido eleito para a ABL?

 

Gilberto Gil, Fernanda Montenegro e Daniel Mundukuru

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba. Acadêmico da AAL

Há muita gente, e bem ilustrada, que não está entendendo a escolha da Fernanda Montenegro e do Gilberto Gil para compor a plêiade da Academia Brasileira de Letras, pois não são conhecidos como escritores.

O presidente atual da AAL, Marco Luchesi, diz sempre que seu objetivo é aproximar a entidade ao IBGE, ou seja, ter lá representantes de todos os segmentos sociais. Se isso fosse verdade, para ocupar a cadeira 12, o plenário teria escolhido o professor indígena Daniel Munduruku, um dos candidatos, mas escolheu o médico Paulo Niemeyer Filho.

No início da ABL, quando literatura se confundia com cultura, houve uma discussão entre os fundadores Machado de Assis e Joaquim Nabuco. O primeiro queria uma academia composta apenas por escritores; o segundo, pleiteava que ela devia abrigar as personalidades culturais. E na história da ABL, houve sempre este pêndulo.  

Nos primórdios da Academia Brasileira de Letras, escritor admitido por ela ficava mais conhecido, sucesso garantido, o reconhecimento tinha mais força. Hoje, diante do crescimento da mídia, a entidade diminuiu de tamanho e de importância no contexto cultural.

Quem vai ganhar mais com o ingresso de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil é a academia, porque eles são personalidades midiáticas. Que vão ganhar os ingressantes a não ser os R$ 10 mil mensais? Eles já estão com idade avançada, pessoas financeiramente bem-sucedidas, ser acadêmico é apenas um glamour a mais. Há quem diga que as escolha deles foi uma jogada de marketing da Academia Brasileira de Letras. 

De onde vem o dinheiro da ABL? "Academia é uma instituição privada. A principal fonte de renda são os aluguéis de um prédio comercial ao lado de sua sede, além de aplicações financeiras", diz a Folha de São Paulo. 

No próximo dia 25/11/2021, 19h, no teatro municipal Paulo Alcides Jorge, o escritor José Hamilton Brito irá tomar posse de uma cadeira da Academia Araçatubense de Letras. Ele vai receber algum salário também?

Não. Os acadêmicos de Araçatuba pagam sua imortalidade anualmente (R$ 750,00) para manter a entidade funcionando. A sede é composta por duas casas da Vila Ferrorivária, na rua Joaquim Nabuco, 210 (centro), cedidas pela Prefeitura de Araçatuba há quase 30 anos. Na cidade, pertencer à AAL dá um reconhecimento literário mais robusto.

Por que imortal? Pertencer a uma academia de letras tem como condão o reconhecimento literário, então, nunca será esquecido na literatura do país ou da localidade. Como já escrevi, já não tem tanto peso assim. 

Segundo o escritor Olavo Bilac, o escritor acadêmico tem mais glamour do que dinheiro, então é chamado de imortal porque não tem onde cair morto.

O ser humano é tão mesquinho que inventa essas honrarias para esconder que verdadeiramente somos um saco de tripas, como afirmou o escritor russo Máximo Gorki.   

2 comentários:

Lu Mota disse...

E eu aqui tentando ser uma imortal... Mas vamos lá, imagine o que significa para um adulto, essa honraria, no lugar onde passou fome. A gente sempre espera uma coroa de louros. Rsrs.

Jesus disse...

Imortal por conta disso mesmo! 😂😂😂