
Hélio Consolaro
Aproveito a data, Dia de Reis, quando se festejam os reis magos Baltasar, Melchior e Gaspar para fazer uma reflexão sobre o poder. Não se sabe ao certo se eles eram reis mesmo ou apenas magos. Nem chegaram no mesmo dia do nascimento do menino Jesus, talvez, a visita tenha se dado quando o garoto já andava.
Não importa se os magos eram reis. Bem diferentes de Herodes, não perseguiram, nem determinaram o controle da natalidade. Naquela época, para que não houvesse tantos pobres, os reis mandavam matar as criancinhas plebéias. E o menino Jesus seria uma das vítimas.
Os reis magos chegaram humildes, reconhecendo a nova divindade. Não mandavam na área, eram visitantes. Essa é a simbologia da presença deles no presépio. Se existiram ou não, se eram apenas magos não importa à liturgia, seguiram mesmo a estrela.
Ajoelhar-se é uma ação dos subalternos, dos humildes. Quem é arrogante, prepotente não o faz. Talvez esteja aí a dificuldade dos poderosos: dobrar-se diante de um ser superior, aliás, para eles não há superiores, pois Deus é apenas um colega. Não seria por isso que o céu é prometido apenas aos pobres?
A gente começa a aprender a dobrar a espinha aos pais, quem nos cria, e aos mais velhos. Depois, ao professor, na escola. Assim, o princípio da autoridade é interiorizado. Exageramos ao tratar Deus, a exemplo do tratamento dado pelos servos medievais ao suserano, de senhor: “Jesus é o meu Senhor”. Daí aquela outra frase: “temente a Deus”. Como humanizamos a Terra, que virou essa coisa, fazemos o mesmo com o céu, repetimos em nossas projeções a mesma hierarquia.
Se Deus não é amor, mas um cobrador de posturas, um mandão, o nosso relacionamento com Ele só pode assemelhar-se ao puxa-saquismo. Então, rezar e orar não é um relacionamento entre Criador e criatura, mas de subserviência de um filho bastardo que reivindica reconhecimento paterno.
Quando explico a literatura da Idade Média aos meus alunos, sempre digo que, apesar da inspiração divina, a escrita da Bíblia está contaminada pela cultura da época em que foi escrita, por isso a leitura dela não pode ser feita ao pé da letra, como fazem os fundamentalistas. E prossigo: manipulamos a Palavra Deus e a própria imagem do Criador de acordo com os interesses dos poderosos de cada época, já que no século 4.º, a igreja cristã abandonou os pobres. Não foi Constantino que se converteu, foi a igreja que aderiu.
Este croniqueiro acha que Deus seja seu amigo, mas não que se sinta poderoso. Na verdade, porque tenta (nem sempre consegue) ser tão humilde quanto Ele.
Olá Prof. Hélio... Tomei a liberdade de reproduzir parte de seu texto em meu blog - com os devidos créditos, claro. http:\\cotidianoporjandira.blogspot.com
ResponderExcluirAté!!!
Imagine... Na verdade passo sempre por aqui... Acho mto interessantes as suas crônicas... Bjos e até o próximo post... rsrs
ResponderExcluir