Hélio Consolaro*
Fui ao teatro municipal Castro Alves como se vai trabalhar, a minha função de
secretário de Cultura me dá essa sensação. Como não sei mais separar trabalho
de lazer (talvez tenha chegado à perfeição), então fui ao teatro também para me
divertir.
Acontece que o teatro não só diverte, mas faz pensar, nos
deixa nervoso, concordamos ou discordamos com aquilo que se apresenta no palco,
por que ele existe também para questionar a realidade que nos rodeia.
A apresentação do texto de Marcos Barbosa foi resultado
de uma residência artística (precisamos entender melhor essa nova modalidade)
promovida pela Secretaria Estadual de Cultura, via Poiesis, com apoio do Sesc e
da Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba-SP.
Entrei zen no teatro e saí tenso. Foram 50 minutos de muita
violência, cujo clima fora dado pelo filme curta-metragem passado antes, feito
especialmente para a peça de teatro. As personagens são membros de uma família:
pai, mãe, dois filhos e a avó materna. A exemplo de Vidas Secas, não são
nominadas.
O texto é de Marcos Barbosa, um cearense, escrito no ano de
2000, quando tinha 23 anos de idade. No Sertão nordestino, numa casa em ruínas,
Avó, Pai, Mãe e Filho tentam encontrar uma maneira de salvar o Filho Mais
Velho, que foi pego roubando nas terras do vizinho, Zé Galinha.
O primogênito tinha a vida ameaçada pelo Zé Galinha, acusado
de roubos, mas na verdade eram pretextos. No final da peça, percebemos que a
discussão central dela é a propriedade da terra. O autor escondeu isso em toda
a trama.
A solução do problema passa por todas as personagens, mas
nenhuma consegue encontrar um jeito de salvá-lo da morte. Até trocar um filho
pelo outro chegou a cogitar, causando uma grande tensão.
A própria avó que acusava a todos por não encontrar uma
solução, quando chega nela: entregar a propriedade ao Zé Galinha para resgatar
o neto, não desapega e prefere ver a morte dele.
“Braseiro” é uma peça de mensagem essencialmente política,
mas que não quer ser um panfleto, quer ser arte. A função poética da linguagem
sobrepuja às demais.
O elenco sob a direção de Mauro Júnior trabalhou muito bem.
O teatro de Araçatuba deu um passo à frente com a residência artística de
“Braseiro”.
Os atores souberam viver a tragédia e nos deixar tensos na
plateia. Aprendemos a viver os problemas de cada um em nosso dia a dia, à
medida que cada personagem precisava encontrar a saída para o problema. A arte cumpriu o seu papel.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário
municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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Braseiro
Texto: Marcos Barbosa
Direção, cenografia, iluminação, figurinos, maquiagem: Mauro
Júnior
Elenco: Eduardo Amaral (pai), Sílvia Teodoro (avó), Devanira
Moura (mãe), Patrick Leal (filho mais novo)
Trilha sonora
original: Patrick Leal
Direção de produção: Fernando Fado
Assistência de produção: Júlio Benedito
Operação de luz, som e projeção: Geovanna Leite e Fernando
Tavares
Fotos: Everton Campanhã
Realizador audiovisual: Patrick Leal
Registro audiovisual: Lalucci Filmes
Curta-metragem
Direção, fotografia, edição: Patrick Leal
Elenco: Fernando Tavares, Valtemir Juca, Ed Barba, Cido
Nunes Pereira, Mauro Júnior
Supervisão: Mauro Júnior
SALVE SALVE OS DEUSES DO TEATRO E AS PESSOAS QUE SABEM ESCOLHER O QUE DIZER AO MUNDO!
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