Fui seu aluno no antigo IE, onde fiz o científico, final da década de 60, antes de embarcar para Sampa. Muito que ainda lembro da Química, aprendi com ele, em aulas divertias mas cheias de reverência com o conhecimento que nos contagiava . Não vulgarizava os conteúdos. Exigia disciplina e atenção enquanto ensinava. Anos depois, também professor, sempre me referenciava nele e em outros/as que encaravam os conhecimentos com rigor. Naquela época, e não sou saudosista, os tempos também mudaram, professor entrava em sala para ensinar e, nós alunos, para aprender. Pedagogia diretiva.
Hoje, temos falta desses antigos/as professores/as. Com as devidas exceções de sempre, com cumplicidade de pedagogia duvidosas, de currículos sem sentido onde os conhecimentos são vulgarizados, onde imperam as tais plataformas digitais que exigem obtenção de metas definidas pelo órgão central onde impera o tal do “ Não bateu a meta, tchau” , escolas desestruturadas, profissionais mal pagos etc. Precisamos formá-los novamente.
Sim, caras pálidas de todas as cores e gêneros: precisamos retomar a formação de profissionais de educação em faculdades e universidades de qualidade, onde as ciências são tratadas com as deferências próprias de cada uma. Ensino a distância: forma o quê? Pior, em instituições que transformaram o ensino em mercadoria e o que importa é apenas o lucro. A função da escola é garantir a apropriação dos conhecimentos científicos, artísticos, filosófico etc. A escola pública tem compromissos históricos que contradizem os do neoliberalismo, é espaço de luta de classes, por isso o seu desmonte, com pedagogias das vivências, centralidade no cotidiano, mal estruturadas, currículos fragmentados...
Sim, caras pálidas, precisamos dar uma olhada para trás e constatar como eram professores/as, sem qualquer conotação ideológica, como o Kazuo Sugayama e tantos/as que foram professores/as na arte de transformar pessoas, através da apropriação de conhecimentos. E através deles/as, com seus ensinamentos, possibilitaram resistências Brasil afora, formaram grandes lideranças políticas, quadros partidários. Aqui a grande razão para o controle e sucateamento do Ensino público: para que formar bons quadros do magistério? Porque pagar bem a esse pessoal, se, de uma forma ou outra, eles/as checarão estruturas políticas ultrapassadas, repressivas e passíveis de serem destruídas? Para quê escolas que ensinam?
Encerro essa homenagem ao prof. Kazuo Sugayama e a tantos outros/as, que, às vezes, mesmo não sabendo, cumpriram os escritos de Eric Hobsbawm, no livro Sobre Historia, pág.21, quando ele começou a lecionar:
“As pessoas em função das quais você está lá, não são estudantes brilhantes como você. São estudantes comuns, com opiniões maçantes, que obtém graus medíocres na faixa inferior das notas baixas, e cuja respostas nos exames são quase todas iguais. Os que obtém notas melhores cuidarão de si mesmos, ainda que seja para eles que você gostará de ensinar. Os outros são os únicos que precisam de você.”
Professor Kazuo, presente.
Marcos Francisco Alves, professor de Química
Araçatuba,07/09/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário