AGENDA CULTURAL

13.7.13

Saber nada estruturante

Hélio Consolaro*

Há gente que domina meia dúzia de regras gramaticais, daquelas bem tradicionais e se acha conhecedor da língua portuguesa, como acontece com este professor de Português. E sai por aí vendo erros onde não existem.

Em 1990, o ex-ministro Antônio Rogério Magri, governo Collor, que sofria pressão popular, caiu na besteira de inventar um adjetivo: o plano Collor era imexível. A elite intelectual e a imprensa criticaram severamente o ministro, dizendo que tal palavra não constava dos dicionários.

Como já escreveu Pasquale Neto, “não é pela presença ou pela ausência nos dicionários que se pode decretar a (in) existência de uma palavra”. Eles vão registrando as palavras que a população está usando, portanto, funcionam como bancos de dados. Infelizmente, eles são meio lerdos, demoram muito para renovar os verbetes. Os dicionários não são normativos.

Nem por isso, o cidadão com médio conhecimento deixa de usá-los como única referência léxica. Daí toda a conversa quando algum político, que passa por uma fase crítica, principalmente com a elite intelectual, acaba sendo execrado porque criou uma nova palavra, que não constam dos dicionários.


Em 2006, quando Geraldo Alckmin era o homem indicado para ser candidato a presidência da República pelo PSDB, disse "o Brasil, se não fizer reformas estruturantes, não vai melhorar a questão tributária". Em poucos minutos, a declaração estava nas primeiras páginas da internet por causa do neologismo “estruturante”. Saiu em sua defesa nada menos que o professor Pasquale Neto.

Recentemente, o prefeito Cido Sério (PT), no programa CQÇ, usou o adjetivo “estruturante” também. Como há certo segmento social de Araçatuba que, apesar de ele ser reeleito com mais de 50% dos votos, ainda não deglutiram a fragorosa derrota, se meteu a fazer gozação sobre o emprego de tal palavra.

“Estruturante” é uma palavra formada com os próprios elementos da língua portuguesa, sem importar termos, como faz o estrangeirismo. O sufixo “-nte”, verbal, derivado do antigo particípio presente, como “falante”, ouvinte”, que revela uma ação duradoura. Quem não conhece o processo de formação de palavras é que classifica o neologismo como erro.
Feio mesmo foi o deputado estadual Dilador Borges (PSDB), na abertura oficial da Expô 2013-Araçatuba, sábado, 06 de julho de 2013, diante de seus pares, pecuaristas de Araçatuba, e autoridades estaduais, que, nem lendo um texto, conseguiu transmitir a sua mensagem aos presentes, revelando um despreparo significativo.


Antes de pichar alguém, caro leitor, procure uma pessoa mais entendida em língua portuguesa para ter um parecer sobre aquele possível erro. Assim evitará aquele sabor amargo de ter cometido uma injustiça, como ocorreu com Rogério Magri, Geraldo Alckmin e Cido Sério. 

*Hélio Consolaro é professor de Português, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP 

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso ai Professor. V.Sª ainda dá oportunidade para "" Quem fala o que não que não deve,ainda têm oportunidade de apreender"