AGENDA CULTURAL

30.6.25

Juliana Marins - esporte radical




RESUMO DA NOTÍCIA: A brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que caiu de um penhasco durante a trilha de um vulcão, foi localizada já sem vida. A confirmação da morte foi feita pela família da brasileira nas redes sociais. Juliana fazia um mochilão pela Ásia desde fevereiro. O acidente aconteceu logo no primeiro dia da expedição a pé pelo vulcão Rinjani, na Indonésia. Ela caiu de um penhasco e foi localizada a cerca de 300 metros abaixo do local por drones. Desde então, equipes se deslocavam para tentar salvar a jovem, que caía cada vez mais.(RecordR7)


O esporte mais radical que eu pratiquei, apenas uma vez, foi voar numa montanha russa num parque instalado na Expô de Araçatuba. Este cronista ainda novo, cheio de aventuras, se dispôs a ser o primeiro da fila (da montanha e da família) a escorregar. 

Como primogênito, fui apontado para isso, corajoso, aceitei a indicação familiar dos Consolaros. Não cheguei a ser um calça-cagada, mas quase. Gritei até o fim. 

Ando de avião, mas tenho medo de altura, com a velhice não troco lâmpada em minha casa se precisar de escada. Adotei o ditado popular como filosofia de vida: melhor um covarde vivo do que um corajoso morto. Sou apenas corajoso ao digitar.

Quando soube das peripécias de Juliana Martins, tive um frio na espinha. Como pode uma pessoa ter coragem em desafiar suas próprias limitações. Eu me identifico com a frase de Leon Tolstói: "É corajoso quem teme o que se deve temer, e não teme o que não se deve temer."   

Nem todo mundo teve peninha de Juliana Martins. Escutei uma velhinha dizer: menina arteira precisa é levar umas boas chineladas. Mas a solidariedade humana não é um sentimento restrito aos certos, aos corretos, os erráticos também merecem ser ajudados. É quase uma empatia.

O outro lado da moeda é que todos, que puderam, ganharam dinheiro com o fato de a louca, mochilão, ter sofrido um acidente num lugar tão perigoso? Principalmente o jornalismo. Houve até um sujeito que organizou uma vaquinha digital a favor de Juliana Martins sem autorização da família. Este cronista aproveita o fato para escrever uma crônica.   

      

24.6.25

Juninão - uma festa que pegou

Até 2023 foi assim, como na foto

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Há uma frase no Rotary, quando há treinamentos para os presidentes eleitos,  que diz: o maior inimigo do presidente de clube  entrante é o sainte. Isso não acontece só lá, é um mal da humanidade. O ex-prefeito da cidade, por exemplo, precisa se pôr em seu lugar: fui. E o atual não deve ficar só lembrando dos defeitos do anterior: os pepinos agora são seus, se vira.

Assim está acontecendo com o Juninão em Araçatuba- festa junina inventada pelo ex-prefeito Dilador (sem partido). O atual, Lucas Zanatta (PL), vai continuar com a festa, mas mudou o seu formato. Não vai ser mais na praça Rui Barbosa.

PROGRAMAÇÃO DO JUNINÃO 2025
 08/06 – Domingo no museu (9h às 11h)
 14/06 – Bairro São José (16h às 19h)
 01/06 –Tarde encantada (16h às 18h)
 27/06 – Sexta no Tom (19h às 22h)                   
28/06 – Festa junina na fazenda (16h30 às 22h)         29/06 – Bairro Alvorada (16h às 19h)

Na administração do Dilador, a festa Juninão começou pequena, foi ao encontro do gosto popular ano a ano, mas a última versão se tornou um grande show no mesmo lugar: praça Rui Barbosa. Na época, fui contra ser na praça central, era um pequeno lugar para um grande público. O lugar foi pisoteado pela multidão.   

Lucas Zanatta descentralizou a festa, tendo como sede outros lugares, dando oportunidade dos bairros participarem. A turma do Dilador arrepiou e caiu de pau na Vanessa Manarelli (secretária de Cultura) e no prefeito. 

Outro dia eu disse para um seguidor do ex-prefeito: ambos são políticos de direita, mas o Dilador é um grande centralizador, só ele mandava, e o Zanatta descentraliza as decisões. Para o ex-prefeito Araçatuba só existe no centro. 

Juninão pegou. Pode ser feita de uma só vez no recinto. Foi uma marca da administração Dilador, só mudou o formato. O povo quis Lucas Zanatta, deixou Borella (PSC) em terceiro lugar. Conformem-se ex-prefeito e seus seguidores.


Por que não paramos de fazer guerras - Leonardo Boff - colunista do ICL

Leonardo Boff escreveu: A busca da justa medida (I e II), Vozes 2023; A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual, Vozes 2014; Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz, Vozes 2009.

Trago algumas reflexões que supõem realismo e desafiam a nossa vontade política para construir a paz
 23/06/2025 | 04h46 - ICL

Vivemos neste momento tempos dramáticos com guerras de alta letalidade, na Ucrânia, no Congo, terrivelmente na Faixa de Gaza, com um genocídio a céu aberto, com a indiferença daquelas nações que nos legaram os direitos do homem, a ideia de democracia e o ser humano como fim e jamais como meio. Particularmente trágica é guerra entre Israel e o Irã que, se não for contida, poderá generalizar-se numa guerra total, com o risco de pôr fim à biosfera e a nossa existência neste planeta.

A pergunta que quero colocar é inquietante e bem realista: qual é a paz possível dentro da condição humana assim como se apresenta hoje em dia? Podemos sonhar com o reino de paz? Assim como somos estruturados: como pessoas, como comunidades, como sociedades, que tipo de paz é sustentável? Recusamos a afirmação: se queres a paz, prepara a guerra.

A Europa, de novo: a cultura da paz e a cultura da guerra

Trago algumas reflexões que supõem realismo e desafiam a nossa vontade política para construir a paz. Porque a paz não é dada, a paz é resultado de um processo de todos aqueles que buscam o caminho da justiça, que protestam contra um tipo de mundo que não deixa os seres humanos serem humanos uns  para com os outros, um palestino com um israelense.

Começo lembrando alguns dados das ciências da vida e da Terra, pois elas nos ajudam a pensar. Que elas nos dizem? Que todos nós, o universo inteiro, viemos de uma grande explosão acontecida há 13,7 bilhões de anos. Há instrumentos que podem captar o eco dessa imensa explosão em forma de uma minúscula onda magnética. E ela produziu um caos enorme.

Nós viemos do caos, da confusão inicial; mas o universo — perpassado de inter-relações — começou a se expandir e mostrou que o caos não é apenas caótico mas pode ser criativo. O caos gera dentro de si ordens. O processo cosmogênico cria harmonia e, ao expandir-se criando espaço e tempo, criou o cosmos; cosmos, de onde vem a palavra cosmético que todos conhecem. É beleza e ordem. Mas o caos nos acompanha como uma sombra. Por isso a ordem é sempre criada contra a desordem e a partir da desordem. Mas ambas, ordem e desordem, caos e cosmos sempre vão coexistindo juntas.

E, chegando ao nível humano, como aparecem? Aparecem sob duas dimensões, da sapiência e da demência. Nós somos homo sapiens sapiens, seres de inteligência e, simultaneamente, somos homo demens demens, seres de demência, de negação da justa medida. Mas, em primeiro lugar, somos seres de inteligência, de sapiência, isto é, somos portadores de consciência. Somos seres societários, cooperativos. Seres que falam, seres que tem cuidado, seres que podem criar arte, elaborar poesia e entrar em êxtase.

Nós ocupamos já 83% do nosso planeta, já fomos à lua e por meio de uma nave espacial deixamos até o sistema solar. Se algum ser inteligente abordar esta nave — que saiu do sistema solar e vai circular por três bilhões de anos no centro da nossa galáxia — poderá ver mensagens de paz escritas lá dentro, em mais de cem línguas, como também um choro de criança, o som de um beijo de dois enamorados e fórmulas científicas. A palavra paz vem escrita em mais de cem línguas, como mir, freedom, shalom, pax, — mensagem que nós queremos legar para o universo.

Somos seres de paz, mas simultaneamente somos seres de violência. Existe dentro de nós crueldade, exclusão, ódios ancestrais, coisa que estamos assistindo em nosso país e principalmente na guerra contra os palestinos da Faixa de Gaza e na guerra entre Israel e o Irã. Temos mostrado que podemos ser homicidas, matamos pessoas. Podemos ser etnocidas, matamos etnias, povos — como os 61 milhões de povos indígenas da América Latina; é o nosso holocausto raramente referido. Podemos ser biocidas, podemos matar ecossistemas, como grande da Floresta Atlântica, parte da Amazônia e a grandes florestas do Congo. E, hoje, podemos ser geocidas, podemos devastar pesadamente o nosso planeta vivo, a Terra.

terceira guerra mundial "Nuvem de cogumelo de 'Gadget' sobre Trinity, segundos após a detonação do primeiro teste da bomba atômica."

Com tudo isso podemos ser o Satã da Terra. E aqui surge a angustiada a pergunta: como construir a paz, se nós somos a unidade dessa contradição, do caos e do cosmos, da ordem e da desordem, da sapiência e da demência? Que equilíbrio podemos buscar, e devemos buscar, nesse movimento contraditório, para que possamos viver em paz? Mas a própria evolução nos tem ajudado, ela é sábia e nos deu um aceno. Ela nos diz que aquilo que faz o ser humano ser humano — diferente de outras espécies — é a nossa capacidade de sermos cooperativos, seres sociais, seres de fala, de diálogo e de reciprocidade.

Quando nossos ancestrais saíam à caça, não faziam como chimpanzés. Estes, os chimpanzés, são nossos parentes mais próximos, com 98% da carga biológica em comum.

Mas como se deu o salto do mundo animal ao mundo humano? Quando nossos antepassados saíam à caça e não comiam privadamente a caça — como fazem os outros animais —, mas traziam-na para lugares comuns e dividiam fraternalmente entre eles tudo aquilo que recolhiam como alimento O salto se deu pela comensalidade, por nossa capacidade de sermos cooperativos e sociais. E do fato de sermos cooperativos e sociais surgiu a fala, que é uma das definições do ser humano. Só nós falamos. Por isso que a essência do ser humano é ele ser um ser falante, solidário, cuidadoso e cooperativo.

céu 'Brasil é essencial para evitar novas atrocidades', diz diretora da Human Rights Watch

Qual é a perversidade do sistema sob o qual todos nós sofremos? Um sistema mundialmente integrado sob a égide da economia de mercado e do capital especulativo. Ele é só competitivo, e nada cooperativo. É um sistema que não deu ainda o salto para a humanidade, vive a política do chimpanzé, onde cada um acumula privadamente e não coloca em comum para outros seus semelhantes.

Mas já que temos as duas dimensões dentro de nós, de demência e inteligência, competitividade e cooperação, próprio do ser humano é impor limites à competitividade. É reforçar todas as energias que vão na direção da cooperação, da solidariedade, do cuidado uns para com os outros. Assim fazendo, reforçamos o autenticamente humano em nós e criamos as bases para uma paz possível e sustentável.

É próprio dos seres humanos cuidarem.  Sem o cuidado a vida não é salvaguardada, não se expande, fenece e morre. Então a cooperação e o cuidado são os dois valores fundamentais que estão na base de qualquer projeto produtor de paz. Não é fechar a mão, é estender a mão na direção da outra mão. É entrelaçar as mãos criando a corrente da vida, de cooperação e solidariedade, que são as condições que poderão gerar a paz entre os humanos.

Quando cuidamos uns dos outros, não temos mais medo; temos a segurança. Segurança da moradia, do meio ambiente, da vida pessoal. Para exorcizar o medo coloquemos o cuidado. Por esta razão, já Gandhi — esse grande político humanista — dizia que a política é o cuidado com as coisas do povo. É o gesto amoroso para com as coisas que são comuns. Política não é gerenciar a economia, as moedas, é cuidar das pessoas e do povo, cuidar das grandes causas que fazem a vida do povo.

E, graças a Deus, no nosso país, se inaugurou uma política que dá centralidade ao cuidado com a fome da nossa população; coloca como fundamental a titulação das terras dos povos originários e os que vivem em favelas.

O nosso país, se bem cuidado, pode ser a mesa posta para a fome de todos os brasileiros e para a fome da humanidade, porque tal é a grandeza de nossos solos produtivos. Então, devemos deixar ressoar o discurso do Presidente Lula em todos os fóruns:

“Não precisamos de guerra, precisamos de paz. Não precisamos de bilhões de dólares para construir a máquina de morte, nós podemos reordenar esse dinheiro para propiciar vida, expandir a vida, dar futuro à vida. No lugar da competição colocar a cooperação. No lugar do medo colocar o cuidado. No lugar da solidão de quem sofre colocar a compaixão de quem se verga sobre o caído, sofre com ele, levanta-o do chão e anda com ele”.

Queremos na nossa busca da paz, borrar a palavra inimigo; fazer de todos os seres humanos aliados; fazer de todos os que estão longe próximos e dos próximos fazê-los irmãos e irmãs.

Quando perguntaram ao mestre Jesus “quem é meu próximo?”, ele não respondeu. Contou uma história que todos conhecem, a do bom samaritano. Ali Jesus deixa claro quem é o próximo. “Próximo é aquele de quem você se aproxima”. Depende nós fazermos todos os humanos — homens e mulheres das várias raças, procedências, inscrições ideológicas — fazê-los nossos próximos. Não deixar que sejam inimigos, mas aliados e companheiros.

Nós comparecemos como seres humanos quando repartimos o pão. Repartir o pão é ser com-pan-heiro, como a própria origem da palavra o sugere: cum panis, aquele que reparte o pão para entrar em comunhão com o outro. Nascemos como seres de com-pan-heirismo. Qual é o nosso desafio? Assumir como projeto pessoal, projeto político aquilo que a nossa natureza em sua dinâmica pede: construirmos uma sociedade de cooperação, de cuidado uns para com os outros. O Papa Francisco nos legou esta severa advertência: “estamos todos no mesmo barco; ou nos salvamos todos, ou ninguém se salva”.

Carta da Terra, por sua vez também advertiu: que devemos “formar uma aliança global, para cuidar da Terra, cuidar uns dos outros, caso contrário arriscamos a nossa destruição e da diversidade da vida”; uma aliança de cooperação com a natureza e não contra a natureza; um desenvolvimento que se faz junto com a natureza e não à custa da natureza.

A paz é possível de ser construída. Não uma mera pacificação como propõe o Presidente Donald Trump, mas uma paz tão bem definida pela Carta da Terra: “como a plenitude que resulta da correta relação para comigo mesmo; da correta relação para com o outro, com a sociedade, com outras vidas, com outras culturas e com o Todo do qual nós somos parte”. Numa palavra, a paz como um processo de justiça, de cooperação, de cuidado e de amorização. Esse é o fundamento, que nos dá a percepção de que a paz é possível e que pode ser perpétua.

Importa não só nos opormos à guerra mas importa ganharmos a paz. Então a paz exige compromisso: nele queremos invocar forças, também aquelas que vão além das nossas forças. O universo é uma incomensurável rede de energias, todas elas bebem naquela Fonte originária de onde tudo vem e provem que os cosmólogos chamam “o abismo gerador de todos os seres” e que os cristãos chamam de Criador. Nós queremos que a paz do Criador reforce a busca da paz humana. Então o que parece impossível e torna possível, uma ridente e feliz realidade. 


19.6.25

Explosões no céu

Chargista NANDO
 Hélio Consolaro*

NÃO ME CHAME DE GUERREIRO. XINGUE-ME DE FDP QUE FICO MAIS CONTENTE 

Estamos em junho. Época de muitas festas. Elas eram bem diferentes no tempo de juventude. Os busca-pés, rojões, bombas foram abandonadas. Atualmente, só pode soltar fogos de caráter ornamental, sem estrondo. 

No âmbito municipal, o iniciador da campanha contra fogos de artifício foi o falecido vereador Édipo Pereira, radialista. Até se tornou lei municipal. Agora, o Estado de São Paulo também aderiu. Os criadores de cachorro estão adorando.

As festas juninas fazem parte do mundo católico: Santo Antônio, São João e São Pedro. Os evangélicos, quando as promovem, evidenciam apenas o caráter lúdico do folguedo.

Tenho acompanhado o noticiário televisivo da guerra entre Israel e Irã. Aquele céu cheio de explosivos mortíferos estourando me lembram as festas juninas no sítio de meu avô. Mas lá no Oriente Médio não festejam a vida, eles gostam de se matar. Comemoram a colheita da morte.

O Brasil do imperador Dom Pedro II fez uma guerra contra o Paraguai. O Brasil venceu a guerra se aliando ao Uruguai e à Argentina. Nessa guerra é que surgiu o exército com vocação política, inclusive usou os republicanos para dar o golpe no imperador.  

O termo "voluntários da pátria" com monumento em São Paulo é dessa época; 37 928 - efetivo. Quem fosse alistado como soldado, se fosse negro, ganhava a liberdade. Não eram os soldados que eram bucha de canhão. No final da guerra, os negros eram obrigados a se alistarem.  

Donald Trump, 79 anos mal vividos, disse outro dia, justificando o conflito, que para obter a paz precisa começar uma guerra. Ele preside um país que vive industrialmente da venda de armas poderosíssimas, aviões potentes. Aliás, ele foi eleito pela segunda vez com apoio maciço dos armeiros.   

Se há guerra, ela começa por quem tem posições negativistas sobre a humanidade, como Trump e Bolsonaro. Uma pessoa que só valoriza os ricos (ou é um deles) não vai ter dó de quem morre numa guerra inocentemente ou mesmo de covid. Vai rir e fazer gracinha.

Outra característica das guerras são os guerreiros usarem o escudo de uma religião: Idade Média foi carregada de guerras santas. É dar um ar de nobreza paro o conflito, justificar a morte dos combatentes. Na Guerra do Paraguai, o imperador usou o patriotismo. 

Há um clássico da literatura russa, do autor Lev Tolstoi, chamado "Guerra e paz", mas há gente com o sobrenome Guerra; outras são mais felizes: sobrenome Paz.

Escuto sempre alguém elogiando outra pessoa chamando-a de guerreiro. Guerreiro é quem faz a guerra, pratica a violência. É elogio numa sociedade violenta; é xingamento numa sociedade que quer a paz. NÃO ME CHAME DE GUERREIRO. XINGUE-ME DE FDP QUE FICO MAIS CONTENTE 

 

11.6.25

Vamos mudar para Gabriel Monteiro?

Vista parcial de Gabriel Monteiro-SP 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Sempre tive um pé atrás com os concursos de cidade: melhor isso, melhor aquilo. Eu desconfiar e um cachorro fazer cocô na rua é quase a mesma coisa. A mídia, a imprensa, os cronistas e jornalistas gostam de divulgar os resultados. 

Todas as vezes em que o Índice de Progresso Social com 57 indicadores ambientais e sociais com base nos dados oficiais de 5.570 municípios brasileiros gera uma classificação com notas os araçatubenses ficam com baixa autoestima, olhando os moradores de Gabriel Monteiro (2 705 habitantes) com inveja. 

Acham que a minúscula Bié é o melhor dos mundos porque ela aparece em segundo lugar do IPS, perdendo apenas para Gavião Peixoto-SP (4 702 habitantes) região de Araraquara. E Araçatuba (207 775 habitantes) é o 64 do Brasil, e o 46 de São Paulo.

Quando os jovens de Bié pedem para os pais levarem-nos para o shopping de Araçatuba ou Birigui, eles respondem: "Nada disso, não vamos nos rebaixar, moramos na segunda melhor cidade do Brasil!"

Se o médico da Unidade Básica de Saúde pede para internar algum doente, a prefeita manda a ambulância para Araçatuba. Muita gente não moraria numa cidade sem hospital e a prefeita pratica a ambulaterapia.  

Aprendi com livro Polyanna, de Eleanor H. Porter, escritora estadunidense, nascida em 1868, que devemos sempre ver o lado bom das coisas, dos fatos, do mundo. Então, pensei que em Gabriel Monteiro só houvesse político honesto. Além disso, é governado por uma mulher!

Eis que encontro a manchete do jornal Folha da Região, 06/06/2025: "Prefeita nomeia o marido, condenado por furto, como secretário." 

Com seguinte texto: 

"A nomeação do marido da prefeita de Gabriel Monteiro, Renée Crema Vidoto, para o cargo de Secretário Municipal de Governo e Gestão continua a repercutir na cidade e na região. Valdério Vendrame Vidoto, nomeado pela Portaria nº 9.941/25 com salário de R$ 4.314,98, possui condenação num processo criminal que tramitou na Comarca de Bilac (SP), relacionado a um caso de furto qualificado."

Renée aprendeu com a prefeita de Birigui (Samanta Paula Albani Borini) que nomeou o seu pai (Wilson Borini, ex-prefeito ficha suja) para ser seu chefe de gabinete. Mude para Bié, lá pode tudo.  

4.6.25

Calça-cagada

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Participei da Feira do Livro de Birigui  no último sábado a convite da Editora Pindorama. O evento foi realizado no Instituto Federal, escola pública do município. Lá houve a palestra do presidente da Academia Biriguiense de Letras: Deidimar Alves Brissi, professor de Física (não é Educação Física) preocupado com a cultura e com as letras.

O nome da palestra era galante, mas ele disse mil vezes “calça-cagada” cujo palavrão adotei como título dessa crônica. A palestra tinha como foco a cultura caipira, puxando para o nacionalismo: valorização da cultura caipira como ato decolonial.

A cultura caipira está no contexto paulista, mas esparramou pelo Brasil pela chamada Paulistânia, região brasileira com influência de São Paulo. Foi criada espontaneamente pelo rastro dos bandeirantes. Não estou falando da música, mas da cultura em geral, inclusive da literatura.

Deidimar chama de calça-cagada o sujeito sem personalidade, sujeito que veste a calça e fica com a cueca à mostra. Brasileiro carregado de vira-latismo, expressão inventada pelo escritor Nélson Rodrigues,  que valoriza mais as coisas estrangeiras em detrimento das nacionais: colonialismo herdado dos portugueses. 

Nomes de  produtos brasileiros com palavras estrangeiras, denominações de arranha-céus com nomes em inglês, como se fosse valorizar o produto é uma prática de marqueteiros. Quando trabalhei como orientador de língua portuguesa no departamento comercial da Folha da Região, agências de publicidades primavam pelo estrangeirismo nos anúncios. Esse pessoal pode ser chamado também de calça-cagada.  

No começo do século 20, final do 19, era moda a elite intelectual falar francês e viajar para Paris. Havia a matéria no currículo escolar no ginásio. Após a Segunda Guerra Mundial, com a hegemonia norte-americana o inglês passou a ser tratado como uma língua universal.

Seguindo a tendência atual, o vira-latismo e a língua predominante mudará de parâmetro: será o mandarim (idioma chinês). Imitar os outros é nossa sina, não é mesmo, calça-cagada!


3.6.25

Administração da letra Z

Santo Artêmedis, irmão salesiano, dedicou-se à enfermagem, argentino
Araçatuba oficializa parceria com a Zatti para gestão das UBSs

Zanatta (sobrenome do prefeito) Zucon (sobrenome da vice-prefeita) e Zatti, sobrenome do patrono da organização social do Salesiano que administrará as UBS. A gente torce para não dar zebra. Entre Zanatta e Zatti há trocadilhos.
Essa união traz evangélicos (prefeito Lucas Zanata) e católicos juntos (à Missão Salesiana de Mato Grosso- MSMT). Uma aliança ecumênica.
A ex-presidente Dilma Roussef e o ex-prefeito Cido Sério devem estar rindo de satisfação. Os dois se empenharam em dotar Araçatuba de uma faculdade de medicina (Hélio Consolaro)

1.6.25

Por que fazer velório?


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Fazemos velório por tradição, pois faz parte de nossa cultura. É o jeito como fomos criados. São explicações óbvias. Velar é abrir mão do próprio sono para vigiar o defunto, ver se está morto mesmo.

Há gente que põe no testamento como quer seu velório. Os boêmios são os mais exóticos. Como houve nos tempos de Jesus as carpideiras, mulheres contratadas para chorar. E assim por diante, é só pesquisar.

Com o advento da pandemia, covid-19,  velar defunto à noite já tornou um comportamento mais raro, fecha-se a capela e todos vão dormir, mas sempre amigos e parentes do falecido gostariam de ficar lá. Não estou falando do papa Francisco, que juntou multidão, mas de gente simples.

Um discurso de velório deve ser curto e comovente, expressar respeito, carinho pela família e amigos presentes. O objetivo é lembrar o falecido com respeito e compartilhar memórias significativas, transmitindo conforto e apoio a todos que estão em luto. Criticar o inimigo morto no velório não é recomendável. O ex-vereador José Américo do Nascimento nunca perdeu um velório e se elegeu por três vezes.  

Os velórios são um encontro de pessoas em torno de uma pessoa falecida. Ir se despedir pessoalmente do morto é uma forma de prestigiá-lo, sinal de uma fértil convivência. Atualmente, a cremação está em ascendência,  ela abrevia o velório.

Em velórios, temos uma riqueza de frases ditas durante a cerimônia, elas podem expressar condolências, homenagens ou reflexões sobre a morte e a vida. Algumas opções: "Que Deus conforte a família", "Descanse em paz", "Sua memória viverá para sempre em nossos corações", "Amado e jamais esquecido", ou frases mais reflexivas, como: "A morte é apenas uma transição, não um fim"  

Em velório de gente do bem, as grandezas e belezas são as coroas. Se o morto ou morta for um líder, cada entidade abre o seu cofre para montar enfeite de flores durante do velório.  

Há muitas situações hilárias durante a cerimônia: até bandeira do Corinthians cobrindo caixão, ou então há gente que chora para o defunto errado. O escritor brasileiro Viriato Corrêa montou em seu livro "Cazuza" uma cena onde o defunto reviveu e saiu do caixão.  Leia o livro para ver o que aconteceu. 

Velório é um rito da morte, da despedida. E tão certa. Por isso tristemente acontece. 

27.5.25

Os que estão segurando o mundo no trabalho miúdo - João Luís dos Santos - Penápolis

(JL dos Santos, ao estilo de JL Borges) 

O professor que planta manjericão no quintal,

sem veneno, sem pressa

como quem conversa com a terra —

como um bom selvagem.


A comerciária que sorri só de ouvir

um batuque passando na rua,

e pensa: ainda bem que tem som nesse mundo.


O estudante que se liga na origem das palavras,

e acha bonito quando entende

que “favela” vem de planta resistente.


Os dois senhores de camisa amarelada

jogando baralho em frente ao cemitério,

sem pressa, sem fala, só cartas.


A moça que vende melancia e velas

implora uma venda e sonha com mar.


O rapaz da gráfica que alinha as páginas

mesmo sem curtir o texto,

mas faz bonito — por ele e pelo trabalho.


Um casal lendo poesia no banco da praça,

ela em silêncio, ele com o olho fechado.


A criança que faz carinho no cachorro da rua,

com um cuidado que falta em tanto adulto.


Quem tenta entender a maldade que sofreu,

sem virar veneno também.


Quem agradece, do nada,

porque ainda existem belas poesias,

tipo as dos velhos Pessoa,  Bandeira ou de Barros.


E aquele que, no fim das contas,

prefere que o outro ganhe a discussão,

só para sentir  a paz durar mais cinco minutos.


Essa gente que nem se conhece,

mas estavam ali e acolá, vivendo, firmes, suaves  —

são os que estão segurando o mundo,

sem publicar nada nas redes sociais.

26.5.25

Santa Rita - Causas impossíveis


Hélio Consolaro

No catolicismo, cada cidade tem sua padroeira, ou padroeiro.

Araçatuba tem a Senhora Aparecida e os duros, lascados, Santa Rita, cuja capela fica na Praça São Joaquim.

O slogan dela é inclusivo, tudo que outros santos não resolveram fica com ela. Dizem os devotos que ela é muito atenciosa, Hoje é dia dela, e tem procissão!

Parabéns, vereadora!



Hélio Consolaro

A função de vereador deve ser exercida diuturnamente. Não há expediente burocrático. Pintou problema, alguém gritou o nome do edil, e ele aparece do nada. Assim Sol do Autismo agiu quando um deficiente físico foi impedido de embarcar em ônibus da TUA.

Para completar sua coerência, votou contra a subvenção de R$450 mil da prefeitura à TUA no projeto discutido pela Câmara Municipal de Araçatuba. Vereador bom (ou boa) tem cheiro de povo.

22.5.25

Tire o pé de minha aposentadoria


 Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatiba-SP

Lembro-me bem a briga que tive com meu falecido pai. Ele não queria pagar o INSS, para não ter o desconto, e eu ressaltava as vantagens de ter uma aposentadoria na velhice. A previdência pública estava começando. Após conseguir o empenho de todos os filhos, ele se convenceu e se inscreveu. Passou a pagar o carnê mensalmente.

Quando se aposentou, dinheirinho no bolso, pediu perdão a todos pela incompreensão daquela época. E assim, passou a viver de sua aposentadoria, que lhe garantia o sustento. Nesse momento do país, se milhões de aposentados não recebessem suas aposentadorias religiosamente, a economia se degringolava.

E o sistema foi crescendo. Algumas vezes piorava, outras, melhorava. Assim também fui organizando as minhas contribuições. Há as leis, mas há também as muitas possibilidades, vários institutos. Não basta apenas pagar, mas descobrir também as vantagens.

Para milhões de aposentados, aquela quantia mensal parece cair do céu. Não foi assim tão fácil, a sociedade, governo, todos os brasileiros se organizaram para ter uma previdência, principalmente pública. Ela é fruto de um Estado que se preocupa com o bem-estar de sua velhice.

Atualmente há uma gana para se pôr a mão na aposentadoria dos velhinhos, desde de parentes, filhos netos até advogados e políticos. Não contraia empréstimos consignados para socorrer parentes, grite logo, seja chato: tire o pé de minha aposentadoria.

Quando me aposentei,  o tal do BMG queria tomar conta de dinheiro, mas me neguei, transferi para meu banco de longa data. Este banco mineiro avança 

sobre o salário, não faz nada ilegal, mas se aproveita da simplicidade dos assegurados do INSS.  

Banco BMG é conhecido por seus produtos e serviços direcionados a aposentados, pensionistas do INSS e servidores públicos. O banco oferece empréstimos consignados, cartões de crédito consignados e outros produtos financeiros que se adequam à realidade e às necessidades desse público. Cuidado com a agressividade mercadológica. 

AS MINHAS APOSENTADORIAS

Não tive pressa para me aposentar, nem ficava contando os dias que faltavam. Nem sou patriota metido a besta. De repente, FHC foi fazer uma reforma da previdência (eu teria que trabalhar muito mais), apelei para a aposentadoria proporcional. No serviço público estadual me aposentei com 49 anos, pois havia começado a trabalhar como funcionário aos 16 anos.

Em 2013, me aposentei por idade pelo INSS. Então acumulo duas aposentadorias, todas pagas, sem maracutaia. Nesse tempo de contribuição à previdência federal, eu estava na função de jornalismo e professor da rede particular, e os oito anos como secretário municipal, pois a Prefeitura de Araçatuba não tem instituto de previdência, contribui com o INSS.  

Também não estou livre de ataques de golpistas aos 76 anos, fui conversar várias vezes com o gerente de minha conta bancária. Já movi ações judiciais. Nem todos aposentados brasileiros tem essa agilidade.  

Velhinhos e velhinhas que trabalharam tanto vivem perseguidos pela desonestidade. A tristeza é que esse povo malandro foi criado e educado por nós. 

Além de gritar não à anistia, também esbravejo: tire o pé de minha aposentadoria!