Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
As capivaras e as antas existem, não são apenas personagens de livros infantis. Vou escrever sobre esses dois animais porque, com esse fogaréu que virou o mundo, elas aparecem mortas ou atravessando estradas.
Naquela história dos antigos, minha avó dizia que de dois
mil não passará (e passou) e que o mundo vai terminar em fogo, como está
acontecendo nestes dias. Não ocorreu, mas está próximo.
A anta é o maior mamífero da fauna brasileira, bitelo, herbívoro,
dá muita carne, por isso muito caçada. Parente da capivara, do tamanduá, da
queixada, dos porcos. Tem até jeito de um pequeno elefante.
E eu, naquela época do magistério antigo, chamava meus
alunos de anta. E eles retribuíam o bullying, me chamando de Professor Anta. Eu
nem ligava, tudo era divertimento para passar as horas na escola, para que ficassem
mais divertidas.
Agora, estudando bem a anta, descobri que eu fazia mesmo
era bullying com o coitado do animal, não xingava os alunos, eu desvalorizava
os bichinhos. Havia até um livrinho infantil chamado “Anta Antônia”, da autora
Heliana Barriga.
Caçar capivara era um termo corrente na boca dos sitiantes,
uma espécie de porco do mato. Os caçadores faziam jiraus à beira dos córregos à
noite para pegá-las no tiro no momento em que vinham tomar água. As capivaras
são roedores, herbívoros, parentes da paca, da cotia, do porquinho-da-índia, dos preás.
Se agora qualquer morte vira notícia jornalística instantaneamente, pois fere o direito à vida, houve época da colonização de nossa região Noroeste
Paulista que matar gente, animais e chutar cachorro eram atitudes de machos, na
brutalidade em que vivíamos. As notícias das carnificinas na região andavam em lombos
de burros, Araçatuba não sabia o que acontecia em Andradina. Nem havia polícia.
As labaredas que vemos hoje pela televisão não queimam apenas
vegetais, mas destroem ninhos, queimam animais vivos, lares são engolidos pelo fogo.
Hoje socorremos os animais atingidos pelo fogaréu, como
se fossem gente, mas ainda existem pessoas que estranham tais atitudes das
pessoas mais sensíveis.
Para deixar você mais preocupado, caro leitor, quero
lembrar-lhe que no seu quarto, no lugar que está a sua cama, pode ter sido no
passado remoto uma moradia de anta. Ou era uma oca indígena. O planeta é um
mundo sem porteira em que existem falsos donos, ninguém é dono de nada.
Faça qualquer coisa, caro leitor, pelo menos reze para que você e nós não nos tornemos churrasquinho nesse braseiro que formamos. Não são árvores que morrem, mas lares que destruímos.
6 comentários:
Belíssimo texto
Excelente matéria. Parabéns!
Gostei !!!! Meu netinho está na fase da Capivara kkk caneca de capivara… pijama kkk
Excelente reflexão! Está da cama merece aplausos 👏🏼👏🏼👏🏼
Prefiro cuidar do meio ambiente e dos animais sempre. São eles que me dão qualidade de vida e muitas alegrias.
Elizabeth Calderaro. Conselheira do parque estadual Xixova Japui aqui em Praia Grande SP.
Seu texto conduz à reflexão, haverá cobrança em relação a destruição ...
Vou procurar saber mais sobre antas,fiquei curiosa.Parabéns pelo texto.
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