Hélio Consolaro*
A morte do papa Francisco me serviu para localizar minha faixa
etária, quem são meus contemporâneos.
Se eu tivesse seguido o sacerdócio, seria hoje um cardeal ou um velho padre de uma capela de asilo de idosos.
Entrei na igreja Nossa Senhora Aparecida de Araçatuba, sendo carregado, para ser batizado com roupas novas, quando monsenhor Vítor Ribeiro Mazzei disse qual seria o meu nome.
Meus avós paternos foram meus padrinhos. Ganhar presente de padrinho era uma honraria, era a espera de todo afilhado.
Na Capela São Benedito, bairro Santana, Araçatuba, depois de abandonar a roça, aprendi catecismo com o seminarista José Waltrick (mora atualmente em Aracanguá).
Estudos concluídos, fiz a primeira comunhão pelas mãos do
padre José Maria, com direito a foto. Tive a primeira conversa com Jesus.,
Depois disso, entrei no reino das fitas: amarela era da Cruzada; azul, dos Marianos. Depois disso, os padres começaram a perguntar obscenidades nos confessionários.
Com tantas contradições, passei a ter orgasmos com os catecismos
desenhados pelo Zéfiro e trazidos pelo mestre Laurindo.
Dentre trevas e luzes, veio o papa João 23, com seu Vaticano
II. Os papas antes dele eram chamados Pios. Assim o medo do pecado abandonou o céu,
tomou conta a liberdade de viver.
Casei-me em Rosana-SP com Helena Nagai, outra católica,
sob as bênçãos do padre José Sometti. Formei uma família.
Enviuvei-me. Minha namorada não falta à missa aos
domingos. Quando soube disso, me descobri perseguido pelo catolicismo.
Os papas se humanizaram, mas a igreja continuou vetusta, monárquica
e machista.
Alguns pregadores se apresentam modernos, sorrisos largos,
mas são armamentistas, defendem seu patrimônio em detrimento da vida.
Como disse um estudioso de assuntos eclesiásticos, Francisco
é mediático, preenche as telas da Globo, mas a igreja estrutural é conservadora
e carrancuda, está de mãos dadas com os evangélicos conservadores. Aguardemos seu
sucessor. Haverá retorno ou continuidade da ruptura? Rezemos. A minha vida continuará
católica.
*Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor. Membro
das academias de letras de Araçatuba, de Andradina, Penápolis e Itaperuna.
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