AGENDA CULTURAL

17.4.25

Na igreja dos fariseus


Hélio Consolaro*

Esse caso é verídico. Se aconteceu com você, não me acuse, caro leitor, porque nos templos é onde há uma multidão de fariseus, pecadores batendo no peito dizendo que está salvo, enquanto os outros estão na unha do capeta. Aliás, na hora dos cultos e das missas não há capeta para todo mundo, pois o demo é invocado por todos os pregadores.    

Então, caro leitor, na primeira fila da igreja, na hora da missa estava sentada uma família do bem e sobrou um lugar na ponta do banco. Um morador de rua resolveu entrar na igreja (é um direito dele) e ocupar justamente aquele lugar vago. A família, de pronto, levantou-se, deixando o mendigo sozinho. Uma desfeita. A homilia estava pronta para o padre, Deus ouviu suas preces, a inspiração chegou, mas não aproveitou, não teve sensibilidade.

De pronto, também, o morador de rua levantou-se e de pé fez sua pregação, bem melhor que a do padre:

- Fariseus! O seu Deus é o mesmo Deus a quem rezo! Gente de pouca fé, vem à igreja para cumprir a burocracia canônica.

O cara era culto. E o padre que não era esperto, ou não quis arrumar problemas com seus dizimistas, não se aproveitou da situação para usar o exemplo mandado por Deus para fazer a pregação.

Um afrodescendente, um moreninho (como costumam dizer os preconceituosos), saiu lá do fundo, levou o mendigo para se sentar-se ao seu lado. O morador de rua foi todo satisfeito, rindo para a assembleia. Não foi gente do bem quem o acolheu, era um simples como ele. 

Além de fariseu, havia na missa repressores, defensores da ordem, pois entraram na igreja dois soldados. Conversaram com o padre e foram embora.

O ponto cego está na quebra da formalidade, a missa virou uma bagunça. Para defender nossos interesses, quebramos a ordem de qualquer rito.

LENDAS DE UM ORTOPEDISTA

Toda cidade que preserva seus causos, sua história, suas lendas, aparece no acervo a de um médico ortopedista que ao fazer uma cirurgia, não marcou direito qual membro ia operar e fez besteira: trocou o lado, em vez do esquerdo cortou o direito.

Passei por isso nessa quarta-feira. Dr. Maurício Perina me convenceu a consertar meu joelho bichado. Apesar de saber da competência do cirurgião, pedi que queria ter prova concreta de que ele ia consertar mesmo o direito.

Não se fez de rogado, nos momentos finais, na mesa de cirurgia, descobriu a minha perna esquerda com as letras garrafais: NÃO escritas na pele da perna em pincel atômico. Com isso, a anestesia tomou conta de mim.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Academia Araçatubense de Letras

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