Hélio Consolaro*
Esse caso é verídico. Se aconteceu com você, não me
acuse, caro leitor, porque nos templos é onde há uma multidão de fariseus,
pecadores batendo no peito dizendo que está salvo, enquanto os outros estão na
unha do capeta. Aliás, na hora dos cultos e das missas não há capeta para todo
mundo, pois o demo é invocado por todos os pregadores.
Então, caro leitor, na primeira fila da igreja, na hora
da missa estava sentada uma família do bem e sobrou um lugar na ponta do banco.
Um morador de rua resolveu entrar na igreja (é um direito dele) e ocupar
justamente aquele lugar vago. A família, de pronto, levantou-se, deixando o
mendigo sozinho. Uma desfeita. A homilia estava pronta para o padre, Deus ouviu
suas preces, a inspiração chegou, mas não aproveitou, não teve sensibilidade.
De pronto, também, o morador de rua levantou-se e de pé
fez sua pregação, bem melhor que a do padre:
- Fariseus! O seu Deus é o mesmo Deus a quem rezo! Gente
de pouca fé, vem à igreja para cumprir a burocracia canônica.
O cara era culto. E o padre que não era esperto, ou não
quis arrumar problemas com seus dizimistas, não se aproveitou da situação para
usar o exemplo mandado por Deus para fazer a pregação.
Um afrodescendente, um moreninho (como costumam dizer os
preconceituosos), saiu lá do fundo, levou o mendigo para se sentar-se ao seu
lado. O morador de rua foi todo satisfeito, rindo para a assembleia. Não foi
gente do bem quem o acolheu, era um simples como ele.
Além de fariseu, havia na missa repressores, defensores
da ordem, pois entraram na igreja dois soldados. Conversaram com o padre e
foram embora.
O ponto cego está na quebra da formalidade, a missa virou
uma bagunça. Para defender nossos interesses, quebramos a ordem de qualquer
rito.
LENDAS DE UM ORTOPEDISTA
Toda cidade que preserva seus causos, sua história, suas
lendas, aparece no acervo a de um médico ortopedista que ao fazer uma cirurgia,
não marcou direito qual membro ia operar e fez besteira: trocou o lado, em vez
do esquerdo cortou o direito.
Passei por isso nessa quarta-feira. Dr. Maurício Perina
me convenceu a consertar meu joelho bichado. Apesar de saber da competência do
cirurgião, pedi que queria ter prova concreta de que ele ia consertar mesmo o
direito.
Não se fez de rogado, nos momentos finais, na mesa de
cirurgia, descobriu a minha perna esquerda com as letras garrafais: NÃO
escritas na pele da perna em pincel atômico. Com isso, a anestesia tomou conta
de mim.
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