AGENDA CULTURAL

7.1.14

Valorizar a juventude

A PROFECIA DE THIAGO MOSAICO EM SUA PÁGINA DO FACEBOOK, LOGO APÓS O LANÇAMENTO DO LIVRO:
Encontro de gerações. Um, já um tanto mais maduro e calejado, o outro, rumando à maturidade. De semelhança a camisa listrada, os óculos e as ideias no papel. Parabéns aos escritores de distintas gerações:Hélio Consolaro e Rafael Batista. LEIA RESENHA

Hélio Consolaro*

O secretário municipal de Cultura paralisa seus afazeres administrativos para dar atenção à nossa juventude. Não é perda de tempo, porque não existe nada mais importante do que a juventude para um secretário de Cultura de qualquer município.

Recebi a visita do Rafael Batista, após eu ter escrito o artigo “Livros – duas experiências” postado neste blog. Foi a conversa de gerações bem distantes, apenas 45 anos nos separam. Ele tem 20 e eu 65 anos.

Confesso que me senti valorizado com a visita do jovem escritor. Não cantei para ele o verso: “respeite ao menos os meus cabelos bancos”, de Herivelto Martins e Marino Pinto, porque Rafael é polêmico, questionador, mas muito educado.

É bom registrar que Rafael não foi meu aluno em nenhum momento, não teve esse desprazimento. Cito isso para dizer que não houve relação de dependência durante o diálogo.

Discutimos cada parágrafo do artigo. Levei em consideração os apontamentos de vários comentários. Abordamos conceitos. Disse-lhe que não abro mão deles se estou convicto, pois curto a alegria de ser o que sou e adoro meus defeitos, pois é por eles que me diferencio dos outros, mas sou pelo diálogo, o jogo das contradições.   

O artigo não é resenha ainda, vou fazê-la assim que eu tiver tempo. (Estou escrevendo este artigo às 5h da manhã do dia 07/01/2014, uma terça-feira.) Há vários níveis de leitura de um livro. O primeiro contato, a apalpação, quando se leem orelhas, contracapa, prefácio, biografia do autor é o nível inicial. Depois se adentra o miolo, fazendo uma leitura propriamente dita. E há o nível mais metódico, como fichamento de leitura, quando se tratar de estudo. Já li todo o livro “Raul Abelinha; e outras quimeras”. Gostei. Durante a sessão de autógrafos, os compradores do livro fizeram a apalpação. 

Outro assunto discutido foi o termo “escritor reconhecido”. Há escritores reconhecidos que  são péssimos escritores, como há excelentes escritores desconhecidos escrevendo para as gavetas, ou melhor, para o computador.

Há várias formas de um escritor ser reconhecido socialmente como tal: ganhando prêmios (como aconteceu com o Rafael), escrevendo livros (como aconteceu com o Rafael), fazendo parte de academias, ser objeto de dissertação e tese nas universidades...

Também discutimos a mídia ou suporte “livro”. Há muita gente boa escrevendo em blogs e é mais lida do que se tivesse publicado livros, mas livro ainda é um suporte nobre no senso comum. Se alguém disser a alguém que é escritor, logo virá a pergunta: “Quantos livros você já publicou?”. Por exemplo, para ser membro da Academia Araçatubense de Letras precisa ter pelo menos um livro publicado. Rafael já pode se candidatar quando houver vaga.   

Lógico que havia aproximadamente 10 escritores no lançamento do livro do Rafael, amigos dele, que escrevem muito bem, mas eles não são reconhecidos socialmente como tal. Se aparecesse lá Cidinha Baracat, por exemplo, todos iriam estender o tapete vermelho para ela.

Então, caros escritores da literatura marginal, jovens escritores, gente que rabisca, escrivinhadores, blogueiros, vocês enriquecem a literatura de Araçatuba, é o novo que surge. A Secretaria Municipal de Cultura está aberta para recebê-los. Nós, os mais velhos, precisamos valorizar a juventude e olhar o novo com menos desconfiança.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP 

3 comentários:

Amanda Stuck disse...

Pensamentos frutos da prosa tida com o amigo Consa.
Espero poder dirigir-me assim.
Gratidão pela conversa.

O telefone disse
Tu tu tu tu tu tu tu...
Novamente
Tu tu tu tu tu tu tu...
Alô, problema na linha, coronel?
Não sabemos de nada.
De cara lavada
adentro à Cultura.
Oi, problema onde?
Na linha, pequena.
Tem horário pra falar?
Pode entrar e sente-se.
Não durou muito
Tempo o suficiente
Gratidão pelos braços
que estavam abertos
Gratidão pelo empenho
Pela desconstrução
dos concretos.
Maus entendimentos?
Por favor,
mais crescimentos
O texto não atinge
uma pessoa em especial
Atinge a todos aqueles
que julgam essa luta banal
Tem alguma lista?
Lista nunca!
Apenas uns nomes
Que nos são mais conhecidos
Nomes?
Talvez, sobrenomes.
Que imitam os telefones
Tu tu tu tu tu tu tu...
Quem dera meu Deus
A gente mudasse a visão
Por transplante talvez
Ou desalienação
Ai, quem dera
Batata esquentou
E quente pode queimar
Quente quente quente quente quente
quente quente
Queimou!

_Amanda Stuck.

HAMILTON BRITO... disse...

Só 65 anos?...tá bão.
Deve ser horrível, por força do ofício, ter que ler um livro sempre pelo nível metódico.
99% dos leitores não fazem isso.Ser intelectual não é moleza.
Um pensamento: a marginalidade ainda vai acabar mudando de lado.

Anônimo disse...

Que show, Amanda!
Parabéns!

Wanilda Borghi