Foto de Nélson Vieira Gomes
Araçatuba, temporal de 07/11/2014, árvore caiu sobre carro zero, ainda sem placa |
Hélio Consolaro*
Lá no Acre e Amazônia, há a designação do “povo da floresta”,
gente que vive e sobrevive da mata, como o seringueiro, por exemplo. Como se
nós paulistas, moradores dessa terra devastada, não sejamos também de uma
floresta, derrubada, destruída, esbagaçada, mas floresta.
Se não fosse isso, porque cada cidade precisa ter um
percentual de árvores plantadas para garantir nossa sobrevivência? Que é esse
tal de meio ambiente senão o estabelecimento de regras para que não pratiquemos
nossa própria destruição! A nossa vida seria ideal caso morássemos entre
árvores.
A Bíblia, por exemplo, propõe a destruição do planeta, por
isso o cristianismo não se preocupa com o meio ambiente, porque essa
preocupação tem caráter científico. A maioria dos cristãos ainda acredita no
criacionismo (Adão e Eva, éden) de forma literal, nada de sentido figurado. O
fim do mundo é relatada como castigo de Deus, desligado totalmente da natureza.
Para o religioso fanático, não existe natureza, existe apenas Deus.
E esse Deus Criador determinou ao casal Adão e Eva que
dominasse o mundo, criando o ser o humano como destruidor do planeta. Não era
para ele inserir no mundo, porque a natureza era o diabo, a serpente, a maçã, o
pecado. Com essa matriz de pensamento, liquidamos o planeta.
Estou escrevendo tudo isso porque no dia 07 de novembro de
2014, a partir das 22h30, Araçatuba foi abalada por um temporal. Árvores foram
quebradas, derrubadas, caíram sobre carros, muitas tiveram suas raízes jogadas
para o ar. É o ciclo da floresta, quando as árvores velhas são derrubadas pelo
vento para que as novas tenham espaço para crescer.
As nuvens, os ventos, os temporais, quando acontecem,
desconhecem que a realidade aqui embaixo mudou, que em vez de florestas, há
cidades, florestas de cimento armado. Assim,
gente perdeu o carro zero, como se a chuva fosse Saci Pererê, fazendo suas
artes em nosso meio.
A Prefeitura, bombeiros, Defesa Civil e outros órgãos do
poder público trabalharam a semana toda para pôr a cidade novamente em sua rotina.
A cidade de São Paulo paga o preço da falta de chuva e de
planejamento das autoridades estaduais, como se tal coisa nunca aconteceria. A
Sabesp dormiu de touca. Los Angeles e outras cidades dos Estados Unidos estão
ao lado de desertos, mas planejam suas ações contando com a falta de água.
Não foi a árvore que amassou o carro, caindo sobre ele, mas
é o carro que estacionou em lugar errado. Aliás, a árvore era uma remanescente,
filha única dentre a floresta de cimento armado. Povo da floresta, acordemos,
porque as árvores foram derrubadas impiedosamente, agora estamos pagando nosso
atrevimento.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário
municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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