AGENDA CULTURAL

29.1.15

Carnaval e dengue

Hélio Consolaro*

Em 2011, não houve carnaval com desfile de escolas de samba em Araçatuba. As escolas não se viabilizaram legalmente para que a aplicação de verbas fossem feitas, perderam a chance de tê-lo.

Assim mesmo, houve samba-enredo, corte real e baile no antigo E.C. Coríntians. Não foi pelo amor, agimos pela dor, mas o prefeito Cido Sério não inventou nenhuma desculpa: a suspensão foi uma ação pedagógica.

Na época, o secretário de Cultura de Marília me telefonou perguntando como fizemos isso, porque em Marília, se a administração municipal tivesse tido a mesma atitude, haveria mortes. E Marília estava precisando desse corte também, segundo o telefonema.
Logo do carnaval 2015 - Araçatuba
Expliquei-lhe que nós tínhamos estabelecido com os dirigentes de escolas de samba uma relação de diálogo e transparência, por isso o repuxo fora mais suave, a sociedade entendeu que estávamos querendo eliminar velhos costumes.

Assim, retomamos o carnaval em 2012 no recinto de exposições Clibas de Almeida Prado, debaixo da tenda onde seria realizada a Feicana. Aliás, foi último ano que se realizou a feira. E lá estamos até hoje a céu aberto.

Neste ano, 2015, alguns municípios suspendeu o carnaval (será que volta?), alegando que o dinheiro seria encaminhado para o combate à dengue. Guararapes está com seu povo dengoso, morrendo e não tem carnaval.

Combater a dengue é uma ação barata que se chama constante vigilância da população e das autoridades. Na verdade, os prefeitos tinham outros motivos para tomar tal atitude e se aproveitaram da desculpa da dengue.
Corte real do carnaval 2015: rei momo, rainha, princesas 
Em Araçatuba, o prefeito Cido Sério (PT) combate a dengue com certa eficiência e faz também o carnaval. Investir em cultura é uma forma também de educar a população, de o município valorizar o seu povo.

Intervalos da diverCidade

A palavra “diversidade” em cultura significa incluir todos, diversos, principalmente a cultura popular. Não deixar ninguém de fora. A cultura é de todos, bem diferente da expressão “cultura para todos”.

“Cultura para todos” significa que alguns têm cultura, outros não. Alguns iluminados passam cultura para os coitados. No conceito de “diversidade cultural”,  “cultura de todos” todos têm cultura, porém, diferentes, por causa da estratificação social. Cada segmento social tem o seu jeito de ser, sua arte, todos são tratados com dignidade, não há iluminados e nem coitados. Essa diversidade precisa ser respeitada. 
Carnaval 2012 - debaixo da lona da Feicana
No carnaval de 2015, de Araçatuba, vai acontecer a inclusão do erudito pelo popular. Apresentam-se o Balé Municipal, o Projeto Guri, por exemplo. Entre os intervalos do desfile das escolas de samba, vamos incluir o que a cidade anda fazendo, principalmente no campo erudito. Teremos os “intervalos da diverCidade”. Durante o carnaval, se fará forte campanha contra a dengue.

Diversidade: porque não é carnaval, é fora do carnaval. Diverso porque é uma cultura fora do popular, promovido por uma sistematização. E também porque é diversão.

DiverCidade com “c”: para lembrarmos da cidade onde moramos. Essa forma de morar foi criada pela industrialização, pelo capitalismo, construindo aglomerados humanos (muito desumanos) e lugares nem sempre bonitos. A arte é uma tentativa de fazer de Araçatuba um lugar cada vez melhor para se morar, uma cidade mais harmônica. Preocupação do prefeito Cido Sério (PT).

Assim, esperamos que os intervalos da diverCidade promovam a interação entre as pessoas que moram em Araçatuba, mas em lugares distantes, em espaços sociais diferentes. 


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba.

Um comentário:

ubirajara vieira xavier. disse...

Muito interessante... A união do carnaval e ao mesmo tempo demonstração cultural, inclusive com o projeto Guri. Parabéns ao Secretário da Cultura de Araçatuba. UBIRAJARA VIEIRA XAVIER.