AGENDA CULTURAL

16.7.15

Operários como protagonistas

Ontem à noite, 15/07/2015, assisti, a um espetáculo de dança e música intitulado "Canteiro de obra", de Deca Madureira, direção artística de Tutti Madazzio, no teatro municipal Castro Alves, de Araçatuba. A casa estava quase lotada (lotação máxima: 220 lugares).

O espetáculo foi contemplado pelo ProAc 10/2014 pelo programa cultural "Concurso de Apoio a Projetos de Difusão e Circulação de Espetáculo de Dança no Estado de São Paulo", tendo apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba.

O bailarino explora o espaço levando em seu carrinho de mão as "ferramentas" do seu trabalho, levando o público a um canteiro de obra onde, além de deparar com experimentações sonoras e rítmicas baseadas em construção divil, irá se surpreender com um operário que mergulha na sua rotina e utiliza suas essências culturais e artísticas como ferramentas criativas, construindo seu entorno e reconhecendo a ele próprio. Chico Buarque na música  "Construção" e Vinícius de Moraes no poema "Operários em Construção" abordaram o mesmo tema.

Deca Madureira não é um senhor paulistano quatrocentão, nem um "coxinha" carregado de preconceitos, é um pernambucano que valoriza a cultura popular e põe no espetáculo a vida do imigrante nordestino em São Paulo. Ele não quis pôr no palco a vida dos ricos, optou pelos pobres. 

Com essas informações, podemos ver claramente a sua opção política ao apresentar o espetáculo cujos personagens têm origem nordestina, mas não é isso o mais importante na obra, porque, se fosse, seria uma obra de catequese, um panfleto.

A importância da obra é o casamento perfeito entre a música representando o barulho de uma obra de construção civil e os movimentos dos trabalhadores formarem os passos da dança. Houve um sincronia perfeita. 

A questão política esteve na escolha do cenário e dos personagens em tempos de muito preconceito com a população nordestina no Estado de São Paulo.

Como já disse João Cabral de Melo Neto quando escreveu "Morte e Vida Severina", perguntaram se escrevera o auto pensando no movimento da reforma agrária da década de 60. Ele disse que não, fizera a obra pensando na realidade pernambucana, mas se estivesse sendo usada politicamente, não era um problema dele. Uma resposta que cabe na boca de Deca Madureira.

No final, Deca Madureira, de uma forma simpática, com seu jeito simples, sem cacoetes do mundo artístico, promoveu um debate prolongado com a plateia juntamente com os músicos George Costa e Leo Correa. Até as crianças perguntaram. Devia estar lá o EJA, mas os adultos estudantes estavam em férias.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP 





  

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Hélio,bom dia !

Leio com muito afinco sua matéria que o Diário de Penápolis publica,pelo qual tenho uma admiração muito grande pela forma e conteúdo que você expressa em suas escrita.Embora minha característica é direcionada a escrever poemas,sempre que surge sentimentos de descontentamento também escrevo algo referente a forma que nossos políticos conduzem os rumos de nossa Nação,e o que é pior,isso vem ocorrendo á décadas para não dizer a séculos .Quando em sua carta de hoje 19/07 você se referiu ao governador Geraldo Alckmin você disse exatamente o que eu penso,não só referente ao Geraldo como ao ex-governador Mário Covas,Aécio Neves e outros tucanos..Hélio, você já imaginou se oque está ocorrendo aqui no "meu" Estado do Paraná o governo fosse do PT ou de qualquer um outro partido que não fosse do PSDB a revoada que os tucanos estariam fazendo ?

Helio quando leio suas cartas e vejo escrito ARAÇATUBA confesso que sinto uma saudade muito grande,até por que minha falecida esposa nasceu na Água Limpa e quando solteira viveu por muitos anos nessa cidade,pelo qual ainda vivem muitos parentes nessa cidade,inclusive o Carlos Costa, conhecido como "BRANCO" ele é meu cunhado, muito conhecido ai Araçatuba pois sempre teve oficina mecânica,retífica de carro etc.

Um grande abraço

Virgílio Melhado Passoni
Jandaia do Sul (PR)