AGENDA CULTURAL

7.2.16

Homenagem a um monarquista

Hélio Consolaro*

A plebe usava (e ainda usa) muitos artifícios para desbancar os nobres. Se o sujeito tivesse um nome comprido, como o saudoso Paulo Napoleão Nelson Basile Nogueira da Silva , o chamava de ladrão de cavalos. Embora terminasse num simplório "da Silva", como se fosse um militante do PT, Dr. Paulo Napoleão, como gostava de ser chamado, mantinha a nobreza.

Permita-me tal licenciosidade, caro leitor, admirador do eminente escritor e professor de Direito, mas o cronista precisa animar o seu texto, para que seja degustável pela plebe.


Como fundador da Academia Araçatubense de Letras, Dr. Paulo Napoleão, ocupou a cadeira 13 (por ironia a um antipetista), cujo patrono, escolhido por ele, é o jurista Afonso Arinos de Melo Franco, tendo como sucessora na cadeira 13 a escritora Emília Goulart dos Santos, nem tanto nobre.  

Nos primeiros anos da AAL, trouxe como patrono da entidade outro monarquista, membro da Academia Brasileira de Letras, João Scatimburgo, já falecido. Assim formavam pares com Célio Pinheiro, Odette Costa Bodstein. As sessões solenes da AAL tinham discursos quilométricos. Mas a nova geração chegava respeitando os mais velhos, pois sabia que a tradição era necessária para que o novo crescesse com robustez.


Dr. Paulo Napoleão publicara vários livros, frequentava as revistas acadêmicas com seus ensaios, mas seus últimos livros tinham relação com seu ideário político, como: "Pedro I - o português brasileiro" (2000), "Crônica de Dom João VI" (2002) e "Pedro II e seu destino" (2003).

Como todo gênio é excêntrico e tinha admiração de seus alunos. Cada entrada sua em sala de aula nas faculdades de Direito, desenvolvia e terminava um tema com eloquência. E quase sempre trazia consigo um copo de uísque.

Tive a oportunidade de participar de mesas de debate com o Dr. Paulo Napoleão pela ocasião do plebiscito sobre sistema e regime político a ser adotado pelo Brasil: república - parlamentarismo, presidencialismo - e monarquia, realizado em 21/04/1993. Na época, como defensor do presidencialismo (o vencedor) não havia arautos do presidencialista na intelectualidade, assim este cronista estava em todas as mesas em Araçatuba.      


Seu falecimento no dia 3/2/2016 me chegou atrasado, mas aqui está minha lembrança de sua pessoa, de seu papel em nossa sociedade. Nobres, ricos ou falsamente imortais, na hora da morte nos tornamos todos reles mortais. Alguns dignificam essa passagem rápida por aqui, a tornando “sui generis”, como foi a dele, principalmente por nossos defeitos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Foi um mestre eloquente, e como diz o cronista, um defensor da monarquia. Tenho vários livros dele, adquiridos quando estudava direito.Todos falavam da prosperidade que a monarquia traz. Em um de seus livros ele relata que D.Pedro morreu pobre, nunca desfrutou dos benefícios da realeza. Nas provas, esse grande mestre, pedia: "Respeitando os incisos, descreva-os com as suas palavras o significado do artigo 5º da CF.

Anônimo disse...

Nossa triste saber que o Dr. Napoleão partiu para o oriente eterno. Sempre o consultava quando precisava abordar e entender sobre algum texto jurídico. E todas as vezes me atendeu, sempre muito solicito.
Condolências aos familiares.
Nelson Gonçalves, jornalista São José do Rio Preto - SP