Marta Suplicy - senadora SP-PT
Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo do dia 14/7/2012
"Bullying",
conceito moderno, mas que é um comportamento muito antigo, não é
aplicável somente a crianças ou jovens, como tem sido pautado pela
mídia.
Pensamos no
"bullying" e vem a imagem de alguém mais frágil sendo humilhado ou
maltratado por outro mais forte, num exercício perverso de
manifestação de poder. Entretanto o "bullying", hoje, faz parte das
nossas vidas, mesmo sem a consciência de quando ele acontece.
Ou não será
"bullying" ser constrangido a ouvir aquela música a mais de mil
decibéis saindo do porta-malas de um carro, quando você gostaria de
estar apenas ouvindo o barulho das ondas do mar? Ou mesmo ligar o rádio e
só ter sertanejo universitário para ouvir?
E no trânsito, a
figura tão comum dos motoboys ou daqueles motoristas que dirigem como
se estivessem permanentemente numa prova de Fórmula 1, ultrapassando
pelo acostamento, ziguezagueando, buzinando freneticamente, lhe
empurrando para passar o farol vermelho? Você se sentindo ameaçado,
fragilizado, impotente, acuado. Isso não é "bullying"?
E a busca da
eterna juventude, da barriga tanquinho, dos músculos definidos e da
magreza anoréxica são ideias das nossas cabeças?
Sem falar naquele
chefe que exige o impossível, que lhe impõe tarefas ridículas e de
eficácia duvidosa, num "bullying" exercitado no contínuo exercício de
desqualificação na relação de trabalho.
O "bullying", com
outra roupagem, também aparece nas campanhas publicitárias, que
martelam dia e noite na nossa cabeça mensagens de coisas que não
queremos comer, não precisamos usar, trocar ou comprar. E das quais é
difícil se defender ou escapar.
E se a vítima for
criança, coitados dos pais que serão infernizados pela necessidade de
consumo de alguma inutilidade -absolutamente necessária para a paz e a
felicidade familiar, mas que era desconhecida até a semana anterior.
E os "bullyings"
mais sutis? O que é esse sentimento que nos obriga a ser um sucesso?
Vencer sempre? De ser "entendido" disso ou daquilo?
E o "bullying" para os diferentes? Doentes mentais? Portadores de HIV?
E o político? A história e recentes reportagens proporcionariam um capítulo instrutivo.
A lista é imensa.
E o "bullying" via
internet, com alcance muito mais perigoso, pois a agressão pode ser
devastadora e difundida em muito menos tempo?
Vivemos num mundo onde o "bullying" é uma constante.
E, num mundo
conectado, cada vez mais globalizado, não ter como blindar-se e formar
opinião mais livremente é a submissão ao maior tipo de "bullying"
possível. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
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