Quando eu era criança, até perto dos meus oito anos, acreditava em Papai Noel. Colocava meu sapatinho na janela antes de dormir e todo ano tinha um belo presente, às vezes, mais de um. Era uma festa!
Próximo a um
natal, eu então com sete anos (quase oito), parou em frente da nossa casa, um
caminhão Ford, carroceria de madeira, com três senhores. Um deles, era um
oficial de justiça com uma ordem de despejo em mãos. Lembro-me que era uma
manhã ensolarada e minha mãe, depois de atendê-los, entrou em desespero.
Mesmo com a
ajuda dos vizinhos, ninguém conseguiu localizar meu pai, o provedor e
responsável pela família. Ainda assim, aqueles homens carregaram todos os
móveis da casa e despejaram na carroceria do caminhão. Quando terminaram, o
motorista, compadecendo-se da situação da minha mãe, com duas crianças
pequenas, nos colocou na cabine e saímos a procura de familiares que pudessem
nos abrigar temporariamente.
Para a
grande tristeza da minha mãe, a maioria das portas se fecharam. “Não vou ajudar
vagabundo. ” Não tenho nem como guardar os móveis. ” “Aqui não cabe mais
ninguém. ” “Sinto muito, mas não posso fazer nada. ”
Era quase natal. Estava próximo o nascimento
do menino Jesus e a vinda do papai Noel! Essa era a minha única preocupação:
mudar de endereço sem avisar o Papai Noel.
Uma família
se comoveu e abriu as portas para nos acolher. Pessoas a quem minha mãe sempre foi
grata. Procurou retribuir através de suas orações e também os ajudando com seu
trabalho. Era um irmão do meu pai e sua esposa. Tios muito queridos, a quem até
hoje agradeço, pois, se não fossem eles, ficaríamos na rua. Aí sim, que o Papai
Noel não nos encontraria.
Naquele mês,
minha mãe procurou vender rifas, de casa em casa, para conseguir um brinquedo
de presente para mim e meu irmão. Naquela época, quem conseguia vender uma rifa
inteira, para uma empresa de brindes, ganhava de pagamento, um prêmio. Ela
vendeu duas e ganhou dois prêmios. Contudo, para mim, foi uma decepção. Além de
não ser o que eu havia pedido ao bom velhinho, ele não tinha vindo sequer me visitar!
O presente veio direto das mãos da minha mãe.
Eu não pude
reclamar e nem pedir explicações, já que via minha mãe tão triste, com os olhos
cheios de lágrimas. Fiquei em silêncio,
triste também e pensativa, tentando entender tudo que estava acontecendo.
Foi na casa
dos meus tios que eu descobri que Papai Noel não existia. Aliás, existia sim,
para alguns. Eu acreditava que dependia basicamente de onde a criança morava,
se tinha ao menos uma casa. Portanto, conclui que, para muitas crianças, não
passava de ilusão, de um sonho bobo. E era chegada a hora de crescer.
Seguimos em
frente, lutando muito para conseguir ter novamente uma casa própria. Vendemos
uma televisão, que aliás, era a única em todo o quarteirão da rua Aquidaban e
compramos um terreno. Com a venda de móveis, eletrodomésticos e muito trabalho,
conseguimos ter uma nova casa. Para quem
morava em residências espaçosas e de alta classe, de repente fomos para três
cômodos mal-acabados, em uma rua sem asfalto. Não tinha sequer fechadura na
única porta. Encostávamos a máquina de costura para fechar.
Definitivamente,
Papai Noel era para poucos.
Depois de
adulta, já com meus filhos, voltei a gostar de comemorar o Natal. Graças a
Deus, sempre com fartura. Era muito bom ver a carinha das crianças esperando
para abrir os presentes deixados pelo Papai Noel. Procurei transmitir para elas
o sonho e a esperança, através da crença no bom velhinho, que recompensaria os que
tivessem tido bom comportamento durante o ano. E eles, mesmo com todas as
peraltices, não ficavam sem presentes.
Hoje, vendo
minhas netas ansiosas pelo Natal, pelas festas e pelos presentes, continuo
alimentando nelas esse sentimento de esperança e de alegria, que todas as
crianças deveriam ter e, infelizmente, não têm.
Peço, em
minhas orações, que o verdadeiro espírito desta data, o nascimento do menino
Jesus, proporcione caminhos para que todos tenham dentro de si, o sonho e a
esperança de receber a visita de Papai Noel. E que essa possibilidade seja para
todos, sem distinção.
Rogo, para que
o menino Deus transforme os nossos corações. Que Ele nos faça entender e seguir
seus ensinamentos. Que possamos ser o bom velhinho, o Papai Noel na vida de
outras pessoas, acreditando que este é o verdadeiro sentido do Natal. E
lembrando que o verdadeiro segredo da felicidade é a caridade.
Um comentário:
Belo texto, Fátima! Parabéns!
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