Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
ELOGIAR É FÁCIL. Entre os atritos de Trump e Lula, testemunhados pela imprensa internacional, ficou claro que o norte-americano gosta de elogiar publicamente, enquanto Lula exercia o pão-durismo da autoestima.30.10.25
Futebol e política
26.10.25
Poeta de 91 anos lançará livro de sonetos na próxima terça-feira - Antônio Reis
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| Vicente Marcolino | 
ARAÇATUBA (24/OUTUBRO/2025) - Na próxima terça-feira (28), a literatura produzida em Araçatuba terá um pico de qualidade, criatividade e raridade, com o lançamento de "Sonetos de um pensador", do poeta Vicente Marcolino, que aos 91 anos autografará seu primeiro livro. O evento será no Quintal Cultural, a partir das 19h30, e os apreciadores de literatura e de cultura em geral estão convidados. A obra poderá ser adquirida por R$ 50,00 e o consumo no bar será de responsabilidade do cliente.
O livro de Vicente Marcolino tem 146 páginas recheadas de sonetos, que pela regra rígida faz deste tipo de poema uma das mais difíceis expressões literárias. "Soneto é uma forma fixa de fazer poemas. Uma camisa de força usada para combinar as palavras: dois quartetos, dois tercetos, versos decassílabos com os finais de versos rimando entre si. Difícil compor tendo essa forma rígida", destaca o escritor Hélio Consolaro no prefácio da obra. O poeta da vez não se intimida com rigidez e dificuldade, e brinda os leitores com mais de uma centena de versos ricos e inspirados.
São muitos os temas abordados nos sonetos, numa demonstração de versatilidade e dedicação do autor. "Vicente Marcolino é um sonetista clássico. Inebriado, certamente, com seu pensamento poético, coloca de forma aparentemente singela e, ao mesmo tempo, empolgante, tudo que observa de seu cotidiano", avisa o sonetista e médico Smiley Castelo Branco na orelha do livro.
Com certeza, os temas foram colhidos de suas experiências em Novo Horizonte, onde nasceu, em Andradina e Campo Grande, cidades em que morou, e em Araçatuba, onde está desde 1954. A vida de agricultor, comerciário, industriário, bancário e microempresário também ofereceram a Vicente Marcolino subsídios e palavras para se tornar poeta. Ou melhor: sonetista.
SERVIÇO
Livro: "Sonetos de um pensador"
Preço: R$ 50,00
Editora: Academia Araçatubense se Letras 
Lançamento: Dia 28/10/2025
Horário: 19h30
Local: Quintal Cultural
Endereço: Rua Cussy de Almeida, 2.088, Araçatuba-SP
Assessor de Imprensa:
Antônio Reis
(18) 9 9776-2588
Não existe amor em Birigui
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
O nível da maldade das pessoas anda exagerado. Quanto mais pobre, mais simples for o agente, o requinte aumenta significativamente. Se quiser fazer um teste, caro leitor, leia os sites de notícias populares.
Na cidade de Birigui, mulher foi condenada porque matou árvore da vizinha. Entrou em ação advogado de porta de cadeia, juiz, promotor. Além de crime ambiental, houve ruindade.
Uma moradora do bairro Novo Jardim Stábile, em Birigui, foi condenada pela Justiça a pagar indenização por envenenar e causar a morte de uma árvore pertencente à sua vizinha. A sentença foi proferida em 23 de outubro de 2025 pelo Juizado Especial Cível da Comarca.
Não existe amor em Birigui, nem mesmo em Araçatuba!
23.10.25
Araçatuba tem literatura de cordel
Não sei se já ouvi caro leitor a seguinte frase: ainda vou descobrir qual é narrativa daquele cabra. Resumindo: vou conhecer a história daquele sujeito. Ninguém vive sem uma narrativa.
Cada um vai se amadurecendo, seja homem ou mulher, a narrativa vai surgindo. Há gente que se aprimora tanto, cuja história na hora de contar vira um primor. E tal tributo vira um meio de vida.
A Academia Araçatubense de Letras tem um grupo que a acompanha, se tornando maior que ela. De vez em quanto aparece um doido inventando alguma coisa e contanto sua história.
Como sou o mestre, no final das reuniões vou conversar com o novo participante. Assim saberei qual é a narrativa dele. Nesse dia fatídico, apareceu um Ceará. Perguntei se apelido era Ceará mesmo, pois tenho um amigo, frentista de posto, cujo apelido é Ceará, mas nasceu mesmo no Piauí.
Ele estava precisando de uma guilhotina para cortar papel. Na sede da AAL não tem. E hoje cortar papel é uma raridade. Dei-lhe uma sugestão: lojas que vende materiais de escritório usados.
Na reunião do mês subsequente, aparece Urbano Sertão com um chumaço de caderninho de literatura de cordel. A literatura de cordel é um gênero de poesia popular brasileira, caracterizada por versos rimados e métrica regular, que se popularizou principalmente no Nordeste. Originada de referências europeias e árabes, a tradição chegou ao Brasil com os portugueses e se consolidou no país com influências indígenas e africanas. Seu nome se deve à forma de exposição dos folhetos em barbantes, os chamados "cordéis".
Comprei dele a coleção. Seu nome literário é Urbano 
Sertão. Como aprendeu isso, Francisco? Eu já sabia o  
verdadeiro.
21.10.25
Eu e o Lula
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Tenho um amigo que não aplaude ninguém, economiza aplausos até para artistas dos quais é fã. Não chego a tanto, mas como secretário municipal de Cultura lidava com artistas locais e convidados, cumprimentava-os, levava o relacionamento para o lado profissional. O então prefeito Cido Sério era um verdadeiro fã de auditório nos shows promovidos pela Prefeitura.
Eu passei a votar para presidente em 1989. Defendi candidatos, mas nunca cheguei a baba-ovo. Tenho verdadeira admiração por Lula, cheguei a coordenar o palanque dele na campanha presidencial de 1989, nunca vi tanta gente no Calçadão da Marechal, Araçatuba, duro de gente, mas os adversários arrumaram Miriam Cordeiro, pagaram para ela mentir.
Collor reconheceu, 15 anos depois, que o recurso de usar depoimentos e imagens da ex-namorada do então candidato Luís Inácio Lula da Silva, Miriam Cordeiro, dizendo que tinha tentado o aborto "não foi de bom gosto, de bom tom". A campanha de Collor pagou a Miriam para acusar Lula de ter pedido a ela que abortasse a filha de uma gravidez inesperada.
Como líder regional do PT, conheci de perto muitas personalidades nacionais, algumas delas dormiram em minha casa. Mas eu e Lula nos limitamos a nos cumprimentar, até nos grandes encontros nacionais da legenda.
Eu percebia que na época eu podia crescer eleitoralmente, mas não era isso que eu desejava para a minha vida. Sou mais lavrador, com os pés pregados ao chão do que um caçador, desejando o impossível. Como disse o padre Lauro: "Hélio, não deixe a política tomar conta de sua vida"! Malafaia não daria tal conselho a um seguidor da Assembleia de Deus. Não me arrependo de ter seguido tais ensinamentos.
Um amigo bolsonarista, ao tomarmos um cafezinho, me disse que havia descoberto ultimamente (caso Trump) que Lula era bem mais inteligente do que Bolsonaro. Não perdi a oportunidade e lhe respondi que, para ser mais inteligente que Bolsonaro, não precisaria de muita coisa.
Há gente afirmando que Lula já passou a mão na bunda de Trump. Outros dizem que o presidente norte-americano ainda vai ensacar Lula. Tomara que os dois tenham juízo e defenda cada seu povo.
Homenagem a Pedrinho da banca da revisa
O jornaleiro anunciou tanto o progresso que foi vítima da má notícia que anunciava. Seus clientes não se contentavam com rádio e tevê. E nos últimos tempos, sua irmã on-line praticou a antropofagia do jornal e da revista de papel. A Banca do Pedrinho ainda não é um museu, mas devia ser tombada, como retrato de uma época. Era um portal do conhecimento. Por ela a juventude fazia coleções, tanto de fascículos como de livros. Resistem as palavras cruzadas. A VIDA CONTINUA, MUDA-SE A FORMA DE VIIVER. Pedrinho, converse com o cara lá de cima, dono da realidade virtual, diga que pare o tempo, porque os veinhos não aguentam mais a ausência da concretude.
HÉLIO CONSOLARO
18.10.25
Dia do Professor - Marcos Francisco Alves
Nada de frases motivacionais muito usadas para nos manipular. Ou frases elogiosas para ganhar nossos votos quando sabemos que eleitos, irão nos tirar direitos. Nada de Paulo Freire ou assemelhados. Vamos mesmo de quem nos legou os meios para sermos respeitados como PROFESSORES (ou outra profissão qualquer) e termos dignidade.
“Mas o guia que deve nos conduzir na escolha de uma profissão é o bem-estar da humanidade e nossa própria perfeição. Não se deve pensar que esses dois interesses possam estar em conflito, que um tenha que destruir o outro, pelo contrário, a natureza humana é constituída de modo que ele apenas pode alcançar sua própria perfeição trabalhando pela perfeição, pelo bem, de seus iguais.
Se ele trabalhar apenas para si mesmo, ele pode até se tornar famoso, um grande sábio, um excelente poeta, mas ele nunca poderá ser perfeito, um homem pleno.
A história chama de grandes esses homens que se enobreceram trabalhando pelo bem comum, a experiência aplaude como o mais feliz aqueles que fizeram o maior número de pessoas felizes, a própria religião nos ensina que o ser a quem todos devem se espelhar se sacrificou pelo bem da humanidade, e quem se atreveria a reduzir a nada tais julgamentos?
Se escolhermos a posição na vida a qual podemos trabalhar pela humanidade, nenhum encargo irá nos pôr para baixo, pois esses encargos são sacrifícios pelo bem de todos, então não experimentaremos alegria mesquinha, limitada e egoísta, mas nossa felicidade irá pertencer à milhões, viveremos de ações silenciosas mas em constante trabalho, e sobre nossas cinzas serão derramadas quentes lágrimas de pessoas nobres”. KARL MARX: Reflexões de um jovem a propósito da escolha de uma profissão
Araçatuba, 15 de outubro de 2025
Marcos Francisco Alves, professor aposentado
14.10.25
"Lata véia" e motorhome
Na discussão do projeto, os oradores chamaram os carros velhos como "latas véias". Certamente nunca tiveram na família um tio, o pai ou alguém com amor absurdo por uma "lata véia".
Muitos casais, donos de uma "lata véia" se perfumam no sábado ou domingo para fazer compras nos supermercados mais chiques da cidade, levando eles mesmos as compras para casa.
Se por um lado há o consumidor, há também o problema habitacional, que é mais complicado, se o carro velho abandonado à beira da calçada passa a ser albergue noturno para algum andarilho.
Carro chique é motorhome, ninguém implica; mas "lata véia" ameaça a segurança das pessoas de bem.
Outro dia encontrei um amigo sumido, não o via por muito tempo. Ele entrou em Araçatuba para consertar a sua motorhome. Todo sorridente, sozinho, feliz da vida. Não paga aluguel, escolhe o quintal de sua casa a todo momento. "Se o vizinho começa incomodar, a gente não briga, muda de lugar."
O filme norte-americano sobre motorhome conhecido é "Nomadland" (2020), que acompanha a história de uma mulher que, após a crise econômica, vive como nômade, viajando pelos Estados Unidos em sua motorhome. "A mulher da van" é outro exemplo do gênero. O nosso urbanismo está cheio de gente morando na rua, uns bem, outros mal.
Um viúvo de uma cidade brasileira deixou sua Variant próxima à rodoviária e sumiu para a capital, nunca mais voltou. Até que um amigo se prontificou a tomar conta do veículo. Não demorou muito para se tornar a sua casa, morou lá por 20 anos sem ser molestado por ninguém, até que um vereador evangélico fez um projeto para arrancar a "lata véia" de lá. Enfeava a cidade. A mobilização da cidade foi tão grande que o "pau véio" continua no mesmo lugar. Na Semana Santa o vigário fez a cerimônia do Lava-pés na Variant, lavando os pés do morador de tão antigo veículo.
No Brasil, um país de cultura católica, é bastante tolerante com a frota desativada. No catolicismo, os pobres ainda são acolhidos por Santa Dulce dos Pobres, "O anjo bom da Bahia". Em Araçatuba, onde o evangelismo avança, em que predomina a Teologia da Prosperidade, os pobres não contam.
JORJÃO MATOU O BANDIDO
Quando conheci o Jorjão, guarda municipal de Araçatuba, na época de secretário municipal de Cultura, foi como ler duas páginas de um romance e pressentir que o final da história ia ser trágico.
8.10.25
Pôr do sol da ponte do rio Tietê
“Um bom viajante não tem planos fixos e não pretende chegar de viagem.” – Lao Tzu
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| Pôr do sol - Tietê | 
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Todos os entardeceres
são iguais, não importa em que parte do planeta esteja, pois o Sol é o
mesmo.  Não é verdade. Ver o sol se pôr na
ponte sobre o rio Tietê, rio que separa os municípios de Araçatuba e de Aracanguá
é bem diferente do Taj Mahal, Índia: as cores do crepúsculo
refletidas no mármore branco do palácio criam uma paisagem impressionante e
grandiosa.
 Presidente Epitácio, cidade da beira do rio
Paraná, região de Presidente Prudente, Oeste Paulista, tem o seu pôr do
sol como o mais bonito do Brasil. Moramos na região e não sabemos disso.
   Estivemos, eu e a Fátima, visitando meu mano Alberto
(Ingrid e Albertinho) no Espigão do Costeiro, zona urbana e na beira-mar de São
Luís do Maranhão, mas naquele dia uma minúscula nuvem atrapalhou o espetáculo do astro rei. Assim mesmo, várias fotos foram registradas nos celulares. Até selfies.
Apesar do nome, ninguém dorme sobre as dunas dos Lençóis Maranhenses, pois por lá existem belas pousadas. A melhor visita se faz ao cair da tarde para pegar o pôr do sol. As camionetas Hilux cavalgam as dunas como equinos mecânicos.
Santo Amaro do Maranhão tem
15 mil habitantes, mas possui quase 500 unidades de Hilux 4x4 prestando serviço
aos turistas, subindo as dunas e mostrando as lagoas.  A Toyota
agradece, pois é o único tipo de veículo a navegar nas areias dos Lençóis
Maranhenses.
Só os românticos e os
enamorados ou partidários da Terra-Mãe é que emocionam ao ver o pôr do sol na
ponte sobre o rio Tietê. A
maioria passa pelo fenômeno crepuscular como credores ou devedores, tendo como
referência o vil metal.
No Espigão Costeiro, São Luís
do Maranhão, só carros novos encostam para gastar o dinheiro naquele momento poético.
Enquanto isso, em Araçatuba, a rotina segue modesta e sem ostentação, mas,
talvez por isso mesmo, exista certo charme escondido entre as ruas e becos,
esperando ser descoberto por quem se dispõe a caminhar a pé pela cidade com um
olhar curioso e aberto ao inesperado, percebendo que até nos cantos mais
simples da cidade há beleza para ser apreciada.
Até dizem os guias que
turistas não têm miséria, gastam à vontade o que foi juntado a ranger de
dentes. Ouvi uma conversa:
- Em Araçatuba, não tem isso,
é uma vida chinfrim.
Precisamos passear a pé pela cidade com olhos de estranhamento, como se tivéssemos passando por uma cidade desconhecida. Sem dívidas a pagar.
6.10.25
Roque Soares da Silva, multiplicador de cidadania - Marcos Francisco Alves
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| Dr. Roque Soares da Silva está entre Cido Sério e Marcos Francisco Alves | 
Roque Soares da Silva foi
advogado, professor universitário e ativista araçatubense que educou,
influenciou e inspirou uma geração de líderes comunitários, religiosos e
políticos de Araçatuba. Marido dedicado de Lourdes Gálico Soares e pai amoroso
de quatro filhos e três filhas, Roque ajudou a expandir a representatividade
democrática de bairros araçatubenses e desenvolveu mentes e corações para a
participação política e para o gosto pela cultura, ao fundar instituições e
criar eventos que congregavam a comunidade. Com uma compreensão cosmopolita do
cidadão atuante e formalmente educado, além de ideias e ações fundadas na
democracia e na liberdade, Roque deixou marcas na história da Araçatuba e em
muitos de seus habitantes.
 Nascido em 1 º de outubro de 1932 em Araçatuba,
Roque – cujo nome herdou do pai – foi o filho mais velho de quatro irmãos e uma
irmã. Sua mãe, Lázara Alves de Jesus, era costureira, e seu pai, Roque Soares
da Silva, operário de beneficiamento de arroz. Sua infância foi de dificuldades
e restrições comuns a outras crianças do período e, como outras crianças do
período, começou a trabalhar aos 10 anos de idade, após terminar o primário.
Seu primeiro trabalho foi de atendente de serviços gerais no bar de seu tio.
 Aos 14 anos, Roque tornou-se lavador de garrafas. Seu
supervisor, notando sua inteligência, recomendou-o para uma transferência para
a administração da empresa, onde Roque teve o primeiro contato com a
contabilidade. Ele então decidiu voltar à escola para terminar o ginásio e
fazer um curso de contabilidade e, aos 21 anos, formou-se contador. Quando
preparava seu casamento com Lourdes Gálico, amor que duraria sua vida toda,
Roque já nutria uma nova ambição: tornar-se advogado.
 Viajando 7 horas por semana
entre Araçatuba e Bauru, enquanto trabalhava como contador em Araçatuba, Roque
formou-se em direito em 1963, em um período que 50% da população brasileira
acima de 15 anos ainda era analfabeta. Fazer faculdade era inimaginável para
sua família e para muitos de seus amigos e conhecidos. Ele foi o primeiro da
sua família a se formar em um curso superior.
 Depois da graduação em
direito, Dr. Roque – Fiúca para os familiares e amigos próximos – envolveu-se
mais profundamente com sua comunidade. Seu mote era “não adianta saber as
coisas, tem que compartilhar”. Roque, então, começou a fazer o que se tornaria a
marca de sua atuação pública em Araçatuba: idealizar e liderar organizações e
eventos que congregavam a comunidade, com o objetivo de educar e promover o
desenvolvimento ético e de noções de cidadania para os participantes.
 Membro ativo da Igreja
Católica, tendo ministrado aulas de catequese, Roque tornou-se uma das
lideranças das atividades religiosas e sociais das Comunidades Eclesiais de
Base (CEB) da Igreja araçatubense. As CEBs haviam sido criadas pelo Concílio
Vaticano II como forma de reaproximar a igreja de seus fiéis.
 Nos encontros do Circulo
Bíblico – nome informal das reuniões da CEB que ocorriam na Igreja São João –
Roque conduzia discussões a respeito do significado moral e prático das
narrativas bíblicas, fazendo paralelos das estórias com os contextos em que os participantes
viviam. A perspectiva trazida por Roque aos encontros era de promover a
solidariedade e a caridade de Cristo como práticas possíveis da vida cotidiana.
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| Roque Soares da Silva | 
A cada dia, mais jovens vinham
para as reuniões de educação religiosa do Dr. Roque. Reconhecendo as limitações
do espaço disponível para um número crescente de participantes, ele então idealizou a União Livre dos Amigos (ULA), grupo
que passou a se encontrar no Círculo Operário, andar
superior do antigo Cine São João. A União Livre dos Amigos tornou-se um
encontro religioso e cultural, onde falava-se sobre os ensinamentos de
solidariedade de Cristo, e também se discutiam arte, literatura e
acontecimentos atuais.
 Diversos políticos
araçatubenses hoje em atividade iam aos encontros da União Livre de Amigos. Lá,
liam peças de teatro, seguidas de discussões lideradas pelo Dr. Roque. Além
disso, Roque dava palestras sobre acontecimentos globais do momento – ele considerava
essencial que os jovens aprendessem a interpretar o mundo com a melhor e mais
atualizada informação possível, além de discutir o que liam e ouviam.
 As reuniões no andar
superior do antigo Cine São João cresceram tanto que chegaram a ter uma centena
de participantes ativos na discussão. Eram pessoas que vinham para ouvir sobre
a solidariedade do Cristo, sobre teatro contemporâneo, e sobre o mundo fora do
Brasil – para serem educadas, serem inspiradas, e inspirarem sob a liderança do
Roque.
 Além de servir a comunidade
religiosa, Roque expandiu seu serviço à comunidade araçatubense liderando a
fundação de diversas Associações
de Moradores em diferentes bairros da cidade, particularmente nos
locais mais carentes de infraestrutura e serviços governamentais. Esse é o caso
Associação dos Moradores do bairro Jardim Guanabara, além de J. das Flores
e Aclimação e outros. Por sua formação em direito, Roque entendia
que as demandas dos bairros com relação a serviços governamentais locais
(prefeitura) precisavam de canais de comunicação formal. Assim, a população
organizada seria melhor ouvida e atendida pelos governantes, possibilitando um
exercício mais efetivo de cidadania para aquelas pessoas. Com firme propósito
de inclusão social, as associações de moradores de bairro foram este canal de
comunicação e organização de demandas entre bairros e a prefeitura.  
 Identificando ainda a
necessidade de reforçar os pleitos das Associações, Roque criou com parceiros o
Conselho das Associações de Moradores, instituição que podia negociar demandas
das diferentes Associações com a prefeitura.
 Durante a ditadura militar,
Roque foi filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de
oposição do regime. Nesse período, fim da década de 1970, ele liderou o Movimento Contra a Carestia (MCC) em
Araçatuba. A política econômica regida pela ditadura concentrava renda e causa
inflação muito alta, afetando a imensa maioria da população brasileira,
empobrecendo e fazendo de muitos trabalhadores miseráveis e famintos. Os
movimentos comunitários e de bairro uniram-se aos sindicatos e um dos frutos dessa
atuação conjunta foi o Movimento Contra a Carestia. O MCC criou
abaixo-assinados para persuadir os governo federal da necessidade de
intervenção na economia para o controle da inflação. Em Araçatuba, a coleta de
assinaturas para o pedido formal ao governo militar de controle sobre a
inflação foi coordenada e empreendida por Roque e parceiros.
Na política, Roque ainda trabalhou com amigos oriundos da União Livre dos Amigos, além de novos amigos e parceiros, para eleger o primeiro prefeito fruto de ampla aliança democrática e popular em Araçatuba, em 1983. Por sua capacidade técnica e atuação política, Roque foi, então, nomeado para a Secretaria de Negócios Jurídicos da prefeitura. Também em 1983, Roque atuou como presidente da Comissão Executiva do PMDB de Araçatuba, onde discursou para o público sobre a necessidade de eleições diretas para presidente. O registro deste acontecimento encontra-se nos arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), agora disponíveis na internet por meio do Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Integrou
a Campanha pela legalização do Partido Comunista do Brasil – PC do B – pois,
democrata convicto, considerava absurdo de que formas de pensar não pudessem se
 exprimir e participar do jogo político.
Também  via no PC do B, um partido
comprometido com as cuasas populares e que em muitos aspectos  se conciliava com sua vivência cristã.
Filiou-se a esse  Partido, foi por ele
candidato a deputado estadual e  nele
sempre se notabilizou pela defesa intransigente da democracia, das liberdade e
do socialismo.
 Como educador, Roque
Soares, além das iniciativas citadas anteriormente, foi professor de Direito
Constitucional, Direito Comercial e Economia Política na Instituição Toledo de
Ensino, hoje Centro Universitário Toledo. Roque também nunca parou de advogar
nas áreas Cível e Trabalhista. Além disso, também ministrou aulas de Oratória e
Orientação Social no Serviço Social da Indústria (SESI), e de Contabilidade na
Faculdade de Ciências Contábeis e Atuariais nos Salesianos de Araçatuba.
 Em 2006, aos 74 anos de
idade, Roque foi diagnosticado com a doença de Alzheimer. Depois de dez anos
recebendo cuidados médicos, carinho e atenção da família, dos amigos e dos
cuidadores, Roque Soares da Silva faleceu em 1º de julho de 2016, aos 83 anos.
Pelo seu  papel desempenhado em  prol da cidade, articulou-se homenageá-lo,
dando ao  Atende Fácil  seu nome. O prefeito  Cido Sério, com apoio da Câmara de
Vereadores/as, aprovou a sugestão.
A visão a que Roque dedicou-se a
promover, de uma civilização baseada no amor, na solidariedade, na
inteligência, e na curiosidade, ainda inspira muitos araçatubenses e suas
famílias a continuar cultivando estes valores e práticas. Todos estes são
gratos por terem tido em Roque alguém para despertar o gosto pela alta cultura,
pelo aprendizado, e pelo engajamento político democrático, que não excluía
nenhuma categoria arbitrária de cidadão.
Roque tinha consciência que
agir de acordo com ideias elevadas era muito mais importante do que apenas
promover aquelas ideias. E ele – pai, vô, bisavô, professor, amigo,
companheiro, líder comunitário, sábio – seguia firmemente o que pregava.
O então prefeito Cido Sério homenageou Roque Soares da Silva nominando o ATENDE FÁCIL. https://www.blogdoconsa.com.br/2016/09/roque-soares-e-homenageado.html
*Marcos Francisco Alves, professor, Araçauba
Níver Daniel - Marcos Francisco Alves
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| Daniel - cara do pai | 
Blake, o poeta, afirmou que “...Ter na infinidade/ a palma da mão cheia/ e em uma hora ver / a eternidade de /passagem /um cão pelo dono / abandonado/ faminto, prediz a / ruina do estado...”, talvez se referindo às oportunidades que perdemos vida afora. Talvez também, não nos basta apenas a inteligência ou nossas mágoas não superadas para nossa presença nesse mundo. Cada um de nós somos uma possibilidade em trilhões de outras para estarmos nessa mundo e nem sempre, fazemos dessa dádiva, reconhecimento. Sim, porque “a vida esconde nos lugares mais simples sua grande beleza”, já nos disse Pablo Neruda. E o tempo não tem por que nos esperar a decidir o que fazer na vida. Quem somos nós para esse desejar?
“Com o tempo tudo passa. Vi, com
alguma paciência, o inesquecível tornar-se esquecido e o necessário sobrar.”,
já escreveu Gabriel García Marquez, com a lucidez que muitas  vezes nós não temos. Não  basta ter rumo, tem que saber onde queremos
chegar. Cheshire tem sempre razão.
Vasculhando  o que me resta  de memória, lembro do  poeta uruguaio Mário Benedetti: "Esse grande simulacro...o esquecimento está
tão cheio de memória que às vezes não cabem as lembranças e rancores...
precisam ser jogados pela borda”, haja vista que “no fundo o esquecimento é um
grande simulacro”, pois ”ninguém sabe nem pode, ainda que queira, esquecer”. E,
claro, não posso me esquecer desse 27.09, seu nascimento pois  as coisas mais auspiciosas são as que ficam.
E no pouco tempo me dado, por escolhas certas ou tortas, me regozijei com sua
vinda e que esse dia, foi um dia que me ficou 
na  memória pois asseverou
Benedetti;  “Lento mas vem, o futuro se
aproxima devagar, mas vem”.  
Como também me recordo das nossas
andanças por São Paulo, ou de quando você, distraído, trombou com um  poste. No Mercadão ou de quando você atuava no
movimento estudantil. Da sua primeira namorada, a  médica (eu gostava muito dela). Ou seu
abandono dos cursos onde  você entrou com
destaque. Daquele emprego, que permitia a você, frequentar bons restaurantes em Sampa. Da sua ida para Portugal.  Do  nascimento de Agnes e do Teo . Enfim, da sua
presença em nossas vidas, para o bem e para o mau.
Gabriel Garcia Márquez, disse que “a idade não é a que temos, mas a que sentimos”, assim como “a vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”. Nestes tempos ainda de incertezas, nos quais precisamos nos livrar das mentiras, da ignorância e seus derivados, da negação das ciências, do racismo, do machismo e todas as fobias de gênero, de etnia, de sexo, de raça, de nacionalidade, de classe, de guerras injustas, do LGTBQ + etc que possamos contar nessas datas como mais um momento de brado, de luta para a plena libertação dos espíritos e de resistência, contra todas as formas de opressão, mas que também seja um momento de comemoração, de alegria, de parcerias, de perdões, de delicadeza e de gentileza, para com o mundo e do mundo para nós. Podemos sempre recomeçar, reconstruir e participar de um futuro melhor para a Humanidade. Se pudermos ler Dostoiévsk “ ...O homem tem tudo em suas mãos, e tudo escapa entre seus dedos por pura covardia...”
E aqui te vejo  vivendo, neste 27 setembro, com certeza,
tentando reencontrar rumos e lugar para chegar, como mais um dia de celebração
para poder contar sobre  sua VIDA para as
suas pessoas queridas, pois como também escreveu o grande escritor colombiano,
“a vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para
sobreviver”, sendo que “a memória do coração elimina as más lembranças e
enaltece as boas e que graças a este artifício conseguimos suportar o passado”,
pois “os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão à
luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si
mesmos”. Que você esteja
sendo muito feliz, sabendo que a lembrança desse nascimento é uma alegria por
saber que, de alguma maneira, você cruzou minha vida mesmo antes do seu
nascimento e isto é motivo de
celebração, uma celebração pública permitida por esta mídia, mas uma celebração
sincera pela pessoa importantes que você se tornou  em minha trajetória mesmo  quando dos nossos desencontros. Melhoro, não
por conta apenas da sua presença ou pelo fato de você ser “minha” imortalidade,
mas por saber que vc irá encontrar seu lugar nesses tempos de viver. Amo
você. Parabéns pelo aniversário
Marcos Francisco Alves, professor, 27.09.2025.
Araçatuba-SP


















