AGENDA CULTURAL

11.8.18

Caminhante da avenida da Saudade

Hélio Consolaro*

Pela oitava vez, passarei um Dia dos Pais órfão. Até parecia que ter pai vivo era tão natural, uma rotina. Neste domingo, pegarei a av. da Saudade para cumprimentar-lhe por seu dia. Poderia fazê-lo de qualquer lugar, pois ele mora no universo, mas a ida até o cemitério significa uma atenção especial, melhor que um presente.

Dizem que nós, homens, imitamos nosso pai, aprendemos ser macho com ele. É uma teoria, apenas isso. Meu sobrinho Eduardo viveu com seu pai até os 6 anos, perdeu a mãe muito cedo, foi criado por parentes, pois ele tem todos os trejeitos do pai, inclusive a personalidade, tendo apenas a convivência dos primeiros anos. Será que esse curto período foi o fundamental ou está tudo no DNA?

Os quatro filhos do Seu Luís (eu e meus irmãos) se parecem, nem tanto na fisionomia, mas no biofísico, na voz, no jeitão. O velho ficou em nós, grudado. Lógico que tenho o meu lado feminino, passado por Dona Augusta, não o renego.

Mijar de pé, por exemplo. Quem me ensinou esse jeito de urinar? Provavelmente, a minha mãe. Principalmente, nos tempos em que pomar, bananal e casinha eram os mictórios. As mulheres nos ensinam como ser macho quando somos pequenos, até chorar não deixam, para que não sejamos “mulherzinha”, depois nos chamam de machistas. É difícil entendê-las. Se as mulheres criam os homens, por que somos assim chamados de cruéis?

Na minha época de criança, menino tabaréu, morador de zona rural, a expressão “mijar para trás” significava ser mulher, não honrar compromissos. Homem que era homem mijava para frente. Entre os meninos, fazíamos até uma aposta no pomar para ver quem mijava mais longe. Hoje, aos 60 anos, essa proeza fica para a mangueira, quando aguamos o jardim.

Se tem uma coisa no homem que causa inveja às mulheres, é a capacidade do homem de mijar de pé. Lá em casa, a Japa vive implicando comigo por causa disso. Às vezes, fico meio chateado, ela não entende a minha formação.

A aflição das mulheres é urinar em um banheiro público imundo. Ficam de cócoras sem encostar a bunda no vaso e tentam fazer xixi.

Que tenho de masculino? O lado solitário, de não abrir a guarda para não me enfraquecer, de chorar escondido, de deixar a mulher e andar em manada de machos, nem que seja no boteco tomando algumas num fim de semana.

A mulher de cada homem detesta boteco. Talvez seja porque a companhia dela já não o satisfaz, ou porque de copo em copo, ele vai perdendo potência sexual. A perda do seu homem, para elas, parece uma ameaça constante. Como fêmeas, disputam entre o si os mais varonis.

O pai é um bicho arredio, às vezes, pouco carinhoso. Por mais presente na família, é um touro bravo, de poucas palavras, a última instância, mesmo quando abandona a casa. Já está perdendo o status de provedor, mas se torna mais presente quando abandona o lar, porque se sente obrigado a superar a distância com mais carinho e com uma convivência concentrada nas horas que passam com os filhos.

Ser pai é meio complicado, não há manual de instrução e nem treinamento. Repetimos aquilo que o pai foi conosco. Até me surpreendi, o Menininho (meu filho), veio passar o Dia dos Pais em Araçatuba. A morte do avô deve ter lhe ensinado alguma coisa.

Feliz, Dia dos Pais. Nem que seja como este croniqueiro, caro leitor, um caminhante da avenida da Saudade.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro das  academias de letras de Araçatuba-SP,  Andradina-SP, Itaperuna-RJ.

5 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Realmente a única coisa que invejo de um homem:
Fazer xixi em pé...por isso contribuo economizando a água da descarga, fazendo meu xixizinho em pé na hora do banho no box.( ai que delícia!!! )

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Ma que diabo, isso é hora e lugar pra falar de xixi e como fazê-lo?
Uns caminham pela avenida da Saudade pelo pai , outros pela mãe mas como o show deve continuar...é, melhor mudar de assunto.

Marisa Mattos disse...

Ah...feminismos à parte,nem o xixi em pé eu invejo...gosto da mulher que sou...rs...mas olha,ando num marasmo que faz dó...nem caminho por lugar algum...só pela vida...Beijocas...estou sempre por aqui.Parabéns pelo seu dia!!!

Joyce Correia disse...

Caro Hélio, já tive a oportunidade de te dizer do amor que sinto pelos meus pais. É chover no molhado. No entanto, se sentir saudade de que ainda está por aqui já é terrível, não quero imaginar aquela que se tem daquele de quem não poderemos mais olhar nos olhos, sorrir o mesmo sorriso, dividir a mesma dor...Em nome desse sentimento, torço pra que "que o caminho seja brando a teus pés, o vento sopre leve em teus ombros. Que o sol brilhe cálido sobre tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos. E até que, de novo, eu te veja, que Deus te guarde na palma da Sua mão." (anônimo).
Obrigada pelos textos...divertidos e emocionantes.
Abraços cheios de respeito, Joyce

Rosvel de Menezes disse...

Agradecer ao Professor...por ter comparecido no Dia dos Pais...ou dos "Paiaços", no periodo da manhã, até o Bairro São José, e ter participado do evento 'Jogando Conversa fora com os Papais'. Os Pais presentes, ficaram surpresos pelo comparecimento e atenção dedicada.