AGENDA CULTURAL

20.8.10

Os presidenciáveis falam mal



Hélio Consolaro*
O advogado Nilson Faria, vice-presidente da seccional da OAB, Araçatuba, me mostrou a capa da revista Veja 2 177, de 11 de agosto de 2010, cuja reportagem principal era “Falar e escrever bem: rumo à vitória”. Até pensei que fosse uma inocente matéria sobre língua portuguesa. Esperar inocência da Veja...

Comprei a revista meio a contragosto, que estava em liquidação na banca por R$ 5,90, e percebi que se tratava de como os presidenciáveis se saíram no debate na TV Bandeirantes.

Como eleitor, não assisto a debates, para mim é tão emocional como um jogo de decisão entre Palmeiras e Corinthians. Não gosto de sofrer, leio os comentários depois, principalmente de amigos de todos os lados.

Segundo a reportagem da Veja e a transcrição de trechos, nossos presidenciáveis estão mal no quesito
idioma. Não se trata de falar “nóis vai”, mas de ter um pensamento confuso. Comportaram-se como vereador de primeira candidatura. O nervosismo ficou evidente.

Se numa chamada oral, aluno e professor, aquele treme, imagine numa prova de fogo, em que há milhões de examinadores de olho. O Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) foi bem, mas ele já sabe que será um aluno reprovado, não tem nada a perder, ficou mais solto. Além disso, ele é uma pessoa madura, com muita experiência, orador de primeira. Os demais nunca fizeram discursos. Não fazem parte da velha geração de políticos.

O presidente Lula comete erros grosseiros de português, mas raras as vezes se expressa tão confusamente como fizeram os debatedores.

Estar bem psiquicamente ajuda a fluência. Não ter medo de errar, considerar-se igual a todo mundo, não se achar inferior é outro quesito importante para a boa expressão verbal.

Trecho embaraçado da Dilma:
"Eu inclusive terei todo um nível de apoio a um tratamento especial, a investimento, inclusive no que se refere a acessibilidade, porque o Brasil não está, não estava ainda preparado pra dar isso pras pessoas e eu considero que, seja nos edifícios, e em todo uso de equipamentos, isso é fundamental"

Eis um trecho confuso de José Serra:
"Eu vou valorizar, eu vou estatizar as empresas que já são do governo no sentido que elas vão ficar servindo ao interesse publico. E não de um partido, de um acordo político, ou de um grupo de parlamentares, de deputados etc. Essa é uma questão muito importante em relação ao que que a gente vai fazer com o patrimônio do governo"

Marina escorregou gramaticalmente:
"O capitalista precisa de água potável, terra fértil e ar puro. O trabalhador e a criança pobre, lá da favela do Coque, aonde eu conheci o Dado, precisam também. Essa é uma luta generosa, que se cada um de nós não fizer sua parte - Seje de esquerda, de direita ou de centro - Nós não teremos futuro"

Até o ex-presidente Jânio Quadros, professor de Português, escorregou, quando disse: “Fi-lo porque qui-lo”. Certamente, ele quis fazer rima, jogar com as palavras sonoramente, mas a colocação pronominal correta, seria “Fi-lo porque o quis”. FHC, com todo o seu ph.D também deu suas escorregadas. Afinal, quem está com sua fala exposta por 24 horas na mídia, num momento comete seus deslizes. Apesar de minha flexibilidade e tolerância, os candidatos precisam melhorar.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba-SP.

2 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Com todo o respeito: ainda bem que o mundo não é constituido só de intelectuais, acadêmicos, pessoas conhecedoras das teorias da literatura, sabedoras das estruturas dos textos para maior clareza. Se fosse, o resto da população ficaria muda, os jornais não teriam as tiragens necessárias para se manterem e as revistas estariam falidas no dia do lançamento. Mas, cumprimento-o pelo dever cumprido; afinal, és mestre e dos bons.

Patrícia Bracale disse...

Eita, q/ bom q/ posso errar tbém, e muito.
O importante é se fazer entender.