AGENDA CULTURAL

6.1.16

Araçatuba é uma cidade racista?

Hélio Consolaro*
Matemático é preso por xingar policial militar de ‘preto safado’

Casos de injúria racial estão aumentando em Araçatuba e três pessoas já foram presas recentemente
DA REDAÇÃO, ANTÔNIO CRISPIM - ARAÇATUBA, 05/01/2016

 O matemático A.b.E. 36 anos, residente à Rua José Rico Belda, no Planalto, em Araçatuba, foi preso na noite de domingo sob acusação de injúria e desacato. De acordo com o boletim de ocorrência, ele teria desacatado e ofendido policiais militares. Ainda segundo o BO, ele teria xingado um policial de "preto safado". A.B.E. foi levado ao plantão policial e autuado em flagrante. Sua mãe também esteve no plantão e registrou ocorrência de abuso de autoridade.

Empresária é presa por chamar balconista e ex-funcionária de ‘macaca’

Mulher foi levada ao plantão polícia; ela pagou fiança de R$ 1 mil para responder em liberdade
DA REDAÇÃO, ANTÔNIO CRISPIM - ARAÇATUBA, 30/12/2015, jornal O LIBERAL

A empresária Z.E.S.F., 39 anos, com estabeleci-mento no Jardim Alvorada, foi presa em flagrante na noite de segunda-feira (28), em uma padaria na Avenida Odorindo Perenha, no Umuarama, após xingar a balconista E.A.A.S., de 30 anos, de "macaca". A empresária, que já xingou a balconista em 2011, quando esta trabalhava para ela, foi presa e autuada em flagrante por injúria racial. O delegado arbitrou fiança de R$ 1 mil. Como a fiança foi paga, a empresária foi colocada em liberdade.

Mulher é presa após xingar funcionária da Zona Azul de ‘Macaca Preta’

DA REDAÇÃO, MÁRCIO ZENI - ARAÇATUBA, 10/12/2015 - JORNAL "O LIBERAL"

Divulgação
Nova confusão envolvendo funcionários da Arapark e usuários do serviço desta vez terminou em prisão
O clima hostil que se intensificou no mês passado entre funcionários da Arapark, a empresa que administra o sistema de estacionamento rotativo em Araçatuba, e usuários do serviço, com agressões mútuas e ataques de fúria, atingiu seu nível mais grave com a prisão em flagrante ontem à tarde no centro da cidade de uma esteticista acusada de agredir uma funcionária da empresa, de 26 anos, e de chamá-la de "macaca preta", após saber que o carro tinha sido multado porque o bilhete de zona azul havia expirado.


A mulher foi para a cadeia de Lavínia (a 68 quilômetros de Araçatuba) porque o crime de injúria racial é inafiançável. Além disso, vai responder formalmente na polícia por lesão corporal e por ter danificado o celular que pertence à Arapark.



A minha pergunta é intrigante, em menos de um mês três incidências. Ou Araçatuba já era racista, mas ninguém sabia, não aparecia na mídia?

Só posso dizer que, como araçatubense, nascido aqui, com história nesta cidade, estou preocupado. Se nós estamos educando nossas criançãs e nossos jovens para a paz ou para a guerra?

Por mais razão que a pessoa tenha, quando chama a outra de "macaca", "preto safado", perde-a. A outra passa a ser a vítima.

Está na hora de a conscientização não ficar apenas no dia 20 de novembro. Precisamos construir a "cultura de paz", que é a cultura da convivência, do perdão, de aceitar o outro como ele é todos os dias, inclusive nos policiando.

Há leis que obrigam o trabalho de conscientização da importância dos negros na história do Brasil nas escolas. Temos um aparato jurídico anti-racista quase perfeito, mas isso de nada adianta se não mudarmos a consciência do ser humano para que ele tenha outra postura mental diante do diferente.

Temos um presidente norte-americano (Barak Obama) e um prefeito municipal (Cido Sério) que são afrodescedentes, uma presidenta mulher na presidência da República. Tivemos também, até recentemente, no Supremo Tribunal Federal um ministro negro (Joaquim Barbosa). Em vez de orgulho, isso está despertando a ira?

Como secretário municipal de Cultura temos discutido tudo isso por meio da arte, sem preconceito, principalmente no teatro, combatendo o preconceito em geral, mas parece insuficiente. Queremos e precisamos construir a cultura de paz, não a cultura de guerra.     

Araçatuba não pode ficar com essa pecha de cidade racista. Sem escondê-la debaixo do tapete, precisamos discutir isso abertamente como forma de mudança.




*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Um comentário:

Jackie disse...

Racista é, sempre foi e sempre será. Falo porque já passei por isso. Um professor de geografia, finado já, na época que estudei no IE, meados de 1994, desenhou o mapa múndi na lousa e não colocou o Japão, quando o questionei a causa, ele disse "você acha que essa merdinha faz alguma diferença? Toma, eu coloco essa porcaria aqui", quando defendi o país dos meus ancestrais, simplesmente me colocou para fora da sala e não me permitiu mais assistir às suas aulas. Briguei muito, discuti até com a direção. Até que ele decidiu que eu não entraria mais nas suas aulas, mas que me deixaria com média "B". Foi o máximo que consegui para não ser prejudicado. O mais irônico é que ele morreu se intitulando protetor dos que sofrem preconceitos.