AGENDA CULTURAL

10.12.16

Almir e Arlindo: brigar por quê?


Hélio Consolaro*

Vivemos numa mesma cidade e devemos respeitar uns aos outros, independentemente de ideologias partidárias. João Luís dos Santos (PT), ex-prefeito de Penápolis por dois mandatos


Desde quando o vereador mais antigo da Câmara Municipal de Araçatuba, Arlindo Araújo (PPS), veterinário, e o vereador eleito Almir Fernandes (PSDB), advogado, quase se pegaram no Palácio 9 de Julho, estou querendo escrever sobre o assunto, porque tenho coisas a dizer sobre o assunto.

Mas me contive, esquecia o assunto, quase mandei a Helena amarrar minhas mãos, mas antes de começar de fato, ainda me impus uma flagelação: fui lavar toda a cozinha acumulada na pia. Enquanto lavava, ruminava o assunto, trabalhava o texto.  

Mas o que me motivou a escrita foi a fala do companheiro, também professor de Português, prefeito de Penápolis por duas vezes, João Luís dos Santos. A frase foi registrada pela Folha da Região, 10/12/2016, e é a epígrafe desta crônica. Ele discorria sobre a situação em que vive a cidade com prefeito reeleito cassado.

Na assembleia da Amolivros na biblioteca municipal Rubens do Amaral, de Araçatuba, na quarta-feira, o jornalista Iranilson Silva, que também é blogueiro conversávamos separadamente sobre o assunto e eu lhe disse uma frase parecida com a do João Luís, de Penápolis. Entre Almir Fernandes e Arlindo Araújo, há uma complicação: de 2017 a 2020, os dois conviverão numa corporação: 15 vereadores de Araçatuba e participarão da mesma base, a governista. Não há como um evitar o outro.

O ex-prefeito de Penápolis, João Luís dos Santos, que conheço desde quando ele era jovem, tem toda moral para dizer essa frase pacifista, porque ele não é de brigar com ninguém; mas eu não, porque eu já fui meio doido na Câmara Municipal de Araçatuba (1983-88).

O finado delegado de polícia (olha com quem fui brigar), Nélson Reis Alves, ficou três anos sem conversar comigo por causa de atrito em plenário, como ele era delegado, podia andar armado, até coçou o cabo do 38 por cima do paletó. Depois de três anos, voltamos às boas. Não precisava tanto tempo, demoramos muito.

Diante da ameaça do Miguel Isique (outro vereador da época) de que ia socar a mão na minha cara (isso aconteceu na cantina da Câmara Municipal), tirei os óculos e mandei-o bater e ainda disse: “Tiro os óculos para não aumentar as despesas”. Ele teve juízo e me desobedeceu. Hoje conversamos tranquilamente.

Sem conviver diretamente com o Arlindo Araújo, o vereador também não me cumprimenta, quem foi testemunha disso foi o ex-vereador Netão numa audiência pública na Câmara Municipal. Talvez seja porque eu tinha aquela coluna “Ponto Cego”, na Folha da Região, que mexia com os políticos da cidade. Não fiz nenhum escândalo com a negação do cumprimento porque é um direito dele; e também desejo que a porta da reconciliação fique aberta, nem que seja no leito de morte.

Como o Almir Fernandes se elegeu criticando vereadores e a Câmara Municipal de Araçatuba numa linguagem agressiva nas redes sociais, certamente, os primeiros momentos dos trabalhos do Legislativo Municipal em 2017 vão ser pesados. Tomara que se acertem, seguindo o conselho do João Luís dos Santos.

Afinal, os dois (Almir e Arlindo) ajudaram a eleger o novo prefeito, os dois apoiam os governos estadual e federal, não há discordância ideológica. Vamos aumentar o tamanho desse pavio. 

Os conflitos são inevitáveis, até dentro da própria família. A sabedoria está em superá-los. Na política, a toda hora seus agentes estão com os fios desencampados, então, a saída é manter a formalidade, polir a linguagem, respeitar o opinião do outro.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.



-->

Nenhum comentário: