AGENDA CULTURAL

20.9.17

Por uma escola acolhedora, democrática

Hélio Consolaro*

Outro dia, um grupo de estudantes, provavelmente monitorados por seus pais, marcaram uma entrevista comigo. Eram todos com jeito de alunos de escolas particulares.

Na hora, fiquei sabendo que eles faziam parte do movimento "Escola sem partido" e queriam saber a minha opinião sobre o tema, já que eu tenho posições mais à esquerda dentro da sociedade araçatubense.

Disse a eles que não é digno um professor usar a força de seu status em sala de aula para fazer proselitismo ideológico, pois não sou favorável à criação de "inocentes úteis", como também uma das funções importantes do magistério é formar a cidadania. 

O professor (ou professora) que abre mão de formar cidadãos está em débito com a democracia. Todas as leis educacionais brasileiras não permitem que se fale de partidos nas escolas, nem emprestem seus prédios para atividades partidárias.

Nesta semana, fiquei sabendo que está para entrar na pauta da Câmara Municipal de Araçatuba um projeto de lei copiado de um modelo da cúpula do movimento. Clique aqui para ler a proposta. 

Se o projeto for aprovado, haverá placas em todas as escolas municipais de Araçatuba, onde estudam alunos até nove anos, como se estivesse havendo uma doutrinação intensa de crianças nas creches. Há gente vendo monstros em vez de moinhos de vento.

Se professores e professoras tivessem consciência de sua força política, não estariam em situação tão ruim. Nosso magistério, em sua maioria, aliena-se dos problemas brasileiros. Repito: há gente que não conhece a escola pública de seu país, busca fantasmas onde não há. 

Não sou adepto do movimento "Escola sem partido" (achava melhor "sem partidos", no plural), mas não sou contra, pois cada doido com sua mania, com direito de expor suas ideias, mas considero um absurdo vereadores de Araçatuba se preocuparem com o nada, quando escorpiões invadem nossas escolas municipais; e em todo o Brasil,  professores ganham péssimos salários e apanham de alunos em sala de aula. 

Os militantes do movimento "Escola sem partido" deviam apoiar a luta dos professores brasileiros que se encontram em situação lastimável, sem nenhum prestígio social, quando na Finlândia e no Japão ganham metade do salário de um deputado.   

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras



Um comentário:

Gabriel Araújo dos Santos disse...

Vale a pena ler o Consolaro. Está sempre pronto para receber uma flechada, pois tem mágica moral e ética para se livrar dela. Legal, gostei por demais. Era o que esperava. Sua publicação devia ser vista pelo Brasil inteiro, mas, sinceramente, duvido que será lido por pelo menos dez por cento dos alunos e professores daí de Araçatuba e região.