AGENDA CULTURAL

14.5.18

Em busca da imortalidade. Nem o Google encontra

Hélio Consolaro*

Na lápide do túmulo, há o nome de uma pessoa sepultada. Nem depois de morta se cultiva o anonimato e a simplicidade. Algumas vezes, o morto escolheu uma frase de sua preferência para ser escrita naquela placa do sepulcro bem rebuscado. 

Dizem que tal sujeito quer influenciar o mundo com sua frase mesmo depois de falecido. O cara não quer mesmo largar o osso sossegado no túmulo. Mas isso é apenas um pequenino exemplo de outros egocentrismos.

Tenho uma amiga escritora que foi procurada por uma pessoa para que ela escrevesse a biografia, pois ela não quer ser esquecida por seus descendentes. Vai pagar caro pela encomenda. Outros preferem uma fotografia, um quadro artístico ou uma estátua. Há quem fez por merecer, positiva ou negativamente, e permanece com o seu nome na história da cidade, do estado, do país e até do mundo. Dois exemplos extremos são Hitler e Gandhi.    

O ser humano não quer morrer, até criamos a transcendência, o céu, o inferno, o além, pois pregam homiliastas que continuaremos vivos noutra dimensão. As igrejas propõem (ou até vendem) a infinitude porque ninguém se conforma em terminar seus dias numa cova, por isso os pregadores conseguem adeptos aos montes.  

O membros de academias de letras se chamam de imortais, pois ser um acadêmico é consagração, embora saibamos que em tais entidades há muitos escritores medíocres, como este croniqueiro. Na verdade, os bons artistas conseguem a imortalidade quando  constroem boas obras, tanto na música como nas letras, assim também noutras artes.

Há muita gente que paga para publicar suas obras, perturba suas famílias para comprá-las nas épocas de lançamento. O escritor  Paulo Polzonoff, autor do livro "O cabotino", não trata bem quem quer se perpetuar num livro biográfico ou autobiográfico, pois, escreveu ele, que nem os familiares perderão tempo em lê-lo. E vai mais longe: se não escrevesse tal livro, economizaria derrubadas de árvores no fabrico de papel. Embora atualmente, com os livros digitais, tal problema deixa de existir. 

Para terminar o texto de forma cômica, recorro ao poeta brasileiro Olavo Bilac que ao ser perguntado, quando era vivo, como era ser um imortal da Academia Brasileira de Letras, ele respondia com deboche: "Lá somos imortais porque não temos onde cair morto". Gente procurando grandeza diante de nossa insignificância. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membros das academias de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ.

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