AGENDA CULTURAL

24.6.18

Cecília Meireles, sofrer sem perder a ternura


Várias fotos de Cecília Meireles
Hélio Consolaro*

Falar sobre uma pessoa que você não conheceu e nem conviveu com ela, nem respirou o mesmo ar não é uma tarefa fácil. Sendo uma poetisa, o que sobrou dela, um pedaço de sua alma, são seus poemas.

Assim, noutro dia, fui convidado para discorrer sobre Cecília Meireles para estudantes da unidade do Sesi de Mirandópolis. Eram estudantes do ensino fundamental, a partir do 5.o ano; e o trabalho foi dividido com Tito Damazo, que ficou com o ensino médio. Usei biblioteca bem zelada pela bibliotecária Cristiane Oliveira Marinho. Aliás, trata-se de prédio novo.  
Alunos ouvindo Hélio Consolaro falar sobre Cecília Meireles 

Se bem entendi, era uma recomendação à toda rede de escolas do Sesi: relembrar as obras de Cecília Meireles. Que seria dos escritores se não fossem as escolas, o problema são as famílias e a sociedade que não dão continuidade à aquisição do hábito de leitura aos jovens. Pais não leem em casa, empresas e entidades não põem biblioteca à disposição de seus colaboradores.

Iniciei a viagem embarcando no trem da biografia de Cecília Meireles e desembarquei nas poesias infantis dela, uma belezura. Com certeza, ao escrever seus “Poemas infantis”, Vinicius de Moraes bebeu em “Isto ou aquilo”.
Lendo poemas

Cecília Meireles nasceu (7/11/1901)  e viveu na cidade do Rio de Janeiro, teve uma vida sofrida. Na escola primária, ganhou uma medalha de ouro do inspetor de ensino por escrever. Este funcionário da Educação era nada menos que Olavo Bilac.

Cecília perdeu seus irmãos mais velhos por morte (Vítor, Carlos e Cármen), nasceu e não conheceu seu pai (já havia morrido), sua mãe faleceu quanto Cecília tinha três anos idade. Ficou com sua avó açoriana, que morava no Rio de Janeiro.

Hélio Consolaro (chapéus) e Tito Damazo
Com tanta perda na vida, predomina em sua poesia o tema da transitoriedade, nela nada é permanente. Além disso, uma mulher escrever poemas ou ser escritora no início do século 20. Enfrentou barreiras fortes, tanto nas letras como nos empregos. Não era permitido ao mundo feminino externar seus sentimentos em obras literárias. Só para exemplificar, Cora Coralina desenvolveu sua literatura após a morte do marido.

Jogral com poemas de Cecília
Cecília casou-se com um artista plástico, teve três filhas (Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda, sendo a última, que era atriz e trabalhou nas primeiras novelas da Globo. O marido de Cecília (o português Fernando Correia Dias) muito depressivo, praticou o suicídio. Ela recebeu uma carta anônima sugerindo que para ela melhorar a sua vida, precisava tirar um ”l” de seu nome, assim ficou sendo Cecília Meireles.
Biblioteca da escola

E não é que a vida melhorou mesmo!. Viúva, casou-se novamente e teve uma vida econômica que permitia viagens ao exterior e dedicação plena à literatura. Numa pesquisa de dez anos, escreveu o “Romanceiro da Inconfidência”.

Morreu aos 63 anos, em 9 de novembro de 1964. Teve a sorte de não viver a ditadura militar.

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POEMAS 
POEMAS PARA CRIANÇAS

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ.

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