AGENDA CULTURAL

25.7.18

Revista Cinelândia - Araçatuba



*Reynaldo Mauá Jr.

Mexendo no meu baú de coisas guardadas, deparei com uma publicação muito popular no século passado, difundida aqui em Araçatuba. Nascida dos ideais de dois empreendedores da cidade - Genilson Senche e Toshi Kazu Ueno – surgia a revista CINELÂNDIA.
Era um periódico semanal gratuito, editado, distribuído e aguardado, normalmente aos domingos, nos cinemas da cidade. Trazia um pouco de tudo, assuntos internacionais, nacionais, regionais, entretenimento, reportagens, publicidade (que ninguém é de ferro) e, o que me faz escrever este texto, o PONTO DE ENCONTRO, uma coluna literária.
O Ponto de Encontro era produto da reunião de jovens (na época, claro. Entre 1968 e 1969) que escreviam sobre suas observações, emoções, sonhos, fantasias, devaneios e tudo o mais que lhes passasse pelas mentes, irrequietas e idealistas, em forma de poemas e crônicas.
Esses escritos ocupavam, sempre, as duas páginas centrais da revista que, entre muitas pessoas, eram as primeiras a serem lidas. Muito se comentava e se debatia sobre o conteúdo apresentado em cada semana. Era quase uma leitura obrigatória para a juventude araçatubense.
Havia sempre uma citação no topo da página abrindo e apresentando os autores de cada semana. Confesso que não descobri, até hoje, quem produzia as tocantes palavras que introduzia os leitores aos escritos daquelas publicações. Algumas guardei-as até hoje:
“Num tempo em que a terra semeia mãos vazias de ternura e de eterna angústia de liberdade, eis que ainda temos o nosso ... PONTO DE ENCONTRO.”
“Homens se integram na Humanidade, militares se integram nas Forças Armadas, religiosos se integram em suas crenças e jovens de mentalidade avançada se integram no ... PONTO DE ENCONTRO.”
“Quando a política divide opiniões, provoca rancores e mágoas, e chega até mesmo a destruir personalidades, é tempo de trabalhar para unir, é tempo de se integrar num ... PONTO DE ENCONTRO.”
Genilson Senche, biografado
por Arnon Gomes

Percebe-se, por estes apontamentos, o quanto a nossa sociedade é resistente a mudanças. Cinquenta anos passados e as coisas parece que continuam as mesmas.
A dinâmica para as publicações partia de reuniões na casa de algum dos integrantes do grupo, que estava sempre aberto a novos participantes, que liam, analisavam e discutiam (no bom sentido, certamente) quais trabalhos deveriam ser publicados na próxima semana. Tudo acontecia de forma simples, objetiva (já que o espaço disponível não dava para quem gostaria de ver seu texto publicado) e sempre com a aquiescência de todos. Os autores dos escritos, majoritariamente jovens entre 18 e 25 anos, formavam, então, um dos primeiros grupos de escritores de Araçatuba.
Sob as sábias, pertinentes e eventuais orientações de uma mente genial e generosa, como a do Dr. Eddio Castanheira, esse “movimento” durou cerca de dois anos, ininterruptamente. Eu me mudei de cidade e não tive mais notícias do destino desse time de amigos, cada um seguindo suas metas e objetivos na vida. Entretanto, nesta oportunidade, quero reverenciar alguns dos integrantes, cujos nomes ainda preservo na memória, assim como algumas de suas obras publicadas na revista CINELANDIA. Democraticamente, tomo a liberdade de citá-los em ordem alfabética:  Ana Maria Esteves; Dinair Walda Aires; Eliane Souza; França de Almeida; Jorge Mário Xavier; José Antônio Bergamo; Marcus D’Andria; Maria Adelaide de Freitas Caires; Mário Andrade; Nelson Camargo Silva; Nelson Hayashi; Reynaldo Mauá Júnior e poucos outros que a memória apagou. A todos, onde estiverem, fica a imensa saudade dos momentos, dos sentimentos e das oportunidades que vivenciamos ao interagir e devolver para esta cidade um pouco do nosso olhar, da nossa realidade e a nossa gratidão por aqueles instantes únicos.            
                     
*Reynaldo Mauá Júnior, professor universitário, supervisor de ensino aposentado, escritor, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras  

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. Helio, eu fui o Marcus D'Andria.
Bons tempos, realmente.
Meu nome era João Mendes Neto.